COMO EU ESCREVO
Roteiro de perguntas e respostas, referente ao blog "Como Eu Escrevo". Agradeço ao José Nunes pelo convite. Segue a entrevista!
1. Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
Atualmente trabalho por escalas; 12x36. Quando estou em casa, costumo acordar cedo (sempre com o dia planejado na noite anterior), após acordar vou praticar exercício físico, musculação e corrida. Retornando pra casa dou início aos estudos, pois sou graduando em Filosofia (licenciatura) pela Universidade Paulista; quando vem à memória alguns indícios de anotações paro tudo e escrevo, a sempre à mão papéis, canetas, lápis, dentro do meu quarto que foi transformado dia após dia em um escritório com uma cama dentro rsrsrs. De modo algum há rotina mas sim um hábito de anos, quando era ainda autodidata e não estava na universidade. Após os estudos e escritas, faço tarefas e compromissos diários, como todo cidadão que sonha em ser artista e que vive numa selva de pedras.
2. Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual de preparação para a escrita?
Sem dúvidas, de manhã! Próximo às 07h acordo. Não existe momento melhor: cabeça fresca, dia nascendo, pessoas dormindo, silêncio, pássaros cantando, silêncio, descansado, silêncio, a catarse do novo, silêncio, café e silêncio. O ritual eu friso que é meu hábito; ouço às vezes um som ambiente bem de longe que vai desde Debussy, Belchior à Pink Floyd. Começo a escrever e entro no mundo do qual sou dono, apenas paro quando sou obrigado ou sinto que tenho que cessar essa atividade.
3. Você escreve um pouco todos os dias ou em períodos concentrados? Você tem uma meta de escrita diária?
Sem metas, assim como as falhas nos exercícios de musculação, a falha exerce sua continuidade em mim! Escrevo todos os dias; nem que seja uma frase que trabalho às vezes num dia todo à pegar o caderno e caneta, sentar no escritório/cama e ficar por horas, prefiro o punho a meios eletrônicos, faz pensar mais. Da mais humanidade e isso é Literatura.
4. Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas suficientes, é difícil começar? Como você se move da pesquisa para a escrita?
Posso estar romantizando mas com ofício do que quero não ligo para outras interpretações, o texto, o ensaio, o romance, a frase, mora em minha cabeça a dias! Fico moldando, estudando mais e lendo, quando sento para jogar ao papel quase sempre fica melhor do que já vem preparado na cabeça - outras não. Como há notas que vem e é preciso guardar imediatamente no papel; e há textos inéditos e páginas e páginas guardadas para algo que pode acontecer. Antes de um escritor, é preciso ser leitor, não meramente passar os olhos e ler mas sim estudar, anotar no livro, reler, tem me ajudado muito, minha pesquisa é ler, compreender uma arte, um filme, um fato histórico. Mas deixo claro que esse é meu processo - as coisas mais bem vindas a quem leu-me já estavam guardadas na cabeça há dias.
5. Como você lida com as travas da escrita, como a procrastinação, o medo de não corresponder às expectativas e a ansiedade de trabalhar em projetos longos?
Pauso! Saio e faço outra coisa que gosto, como: caminhar, ler algo totalmente diferente do que gosto, olhar o céu, natureza, ver o mundo… e se não consigo voltar deixo de lado apenas naquele momento, quando volto, mas forte é. Aprendi com Sertillanges em A Vida Intelectual práticas como essas; foi um livro que mudou minha forma como ver a vida que quero levar e que com costumes antigos eu fracassaria. Não posso forçar as ondas que dá a natureza, se é pra parar eu paro, depois o movimento é sempre mais gratificante, é necessário a máxima socrática: conhece-te a ti mesmo.
6. Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão prontos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Nunca mostrei um texto para alguém antes de publicá-lo. E nem é por algo específico, se nisso alguém ver a mesa, ou pedir pra olhar não há problema, porém não peço aprovações. Gosto das interpretações quando pronto, a não ser que o trabalho exija o olho do editor, do curador ou de alguém que pode me orientar. Reviso até demais e é impossível numa pergunta dessa não citar o ensaísta argentino Jorge Luis Borges, o trecho respondi por mim: A gente publica para não passar a vida corrigindo o que escreve. A verdade é que se publica para se libertar do livro e pensar em outro. Quanto a mim, reli muito pouco do que escrevi. Ainda que de vez em quando me releiam passagens do que escrevi e às vezes elas me agradam. E digo: de onde tirei tudo isto? Na certa deve ser plágio, porque é bom.
7. Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascunhos à mão ou no computador?
A Punho! Mão, cadernos (de preferência sem pautas), lápis, canetas de todos os tipos e a mão. Só não havendo jeito vou anotações em celulares, blocos de notas em computador… se bem que, meu diário tomo como o facebook, lá o que escrevo é na hora, não pensado demais e com bons erros ortográficos rsrsrs, apenas já produzido pela mente, por uma cena que vi, algo que ouvi, no trem, na passagem do dia abro esse aplicativo e lá escrevo. Assim acontece.
8. De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para se manter criativo?
Filosofia, Literatura, História e Psicanálise são meus meios de interesses mais fortes. Embora meu conjunto de hábitos seja a vida que levo de domingo para domingo. Leio, estudo e aprendo algo novo todos os dias nos últimos 3 a 4 anos. Cultivo o humano demasiadamente humano, nas entrelinhas dessa condição humana é o que mantém para a boa escrita e para a vida. É por pessoas que escrevo.
9. O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de seus primeiros textos?
Leia mais Victor. Estude mais, mas não se enrole tanto assim com gramática, ortografia e a burocracia barata que evita muito o nosso pensar. Essas condições industrializadas mas que pouco requerem atenção de nosso âmago. Aprendi a escrever melhor, devido à leitura e estudos que corri atrás, uma coisa que hoje pensei ao responder essa pergunta foi que meu gênero em nenhum modo tomou outra direção; ainda faço crônicas, ensaios e poesias, com os mesmos aspectos, graças a Deus não me perdi.
10. Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro você gostaria de ler e ele ainda não existe?
O livro existe e é de vários autores; Machado de Assis, Sertillanges, Platão, Sêneca, Schopenhauer, Shakespeare, Luiz Felipe Pondé, Clarice Lispector, Cecília Meireles, Paulo Coelho e outros. O projeto não; embora fico feliz e sempre quis incentivar a literatura nacional, os jovens a escrever mais e dar dicas de livros ótimos que pessoas pensam não existir. Faço esse projeto na rádio Band FM de Foz do Iguaçu (100.5) como curador de literatura. Mas, meu maior intuito é nível nacional de um projeto na educação brasileira, coisa que tenho apenas em 10 ou 15 folhas, que é minha tese praticamente já com direção tomada. Nomes como Pierluigi Piazzi e Enéas Carneiro são minha referência.