A História e a polissemia do “moderno”
A História é uma ciência que se serve de variados conceitos para reconstruir fatos e eventos ou analisar estruturas e instituições. O conceito de “moderno” é um deles. Esse tipo de palavra polissêmica é portador de variadas definições, sem contar as palavras derivadas.
O que é moderno para o aluno não é o mesmo para o professor. O uso cotidiano do termo está atrelado ao novo (KARNAL, 2004). Nesse sentido, toda novidade é moderna. A moda e a arquitetura o usam à exaustão.
Quando o docente trata do “moderno” é como uma categoria de análise historiográfica. Como exemplo, podemos citar “Estado moderno” ou o “homem moderno”. Esse estágio é algo posterior ao passado, o que foi separado.
A Era Moderna é tratada em sala de aula como um período transitório da história, numa linha diacrônica e homogênea. Como fazer o aluno entender que o moderno pode ser encontrado no passado? Cada época constrói a sua definição de “moderno”.
O moderno na Grécia Antiga era a filosofia, ou seja, interpretar o mundo através da razão (VEYNE,1984). Longe de ser anacronismo, esse fato nos revela que o “moderno” é também choque de gerações.
Em se tratando das palavras correlatas como modernidade, pós-modernidade e modernismo, a carga de signos é ainda maior. Todas essas palavras nascem na Europa Moderna, são novas concepções da realidade (MENDONÇA, 1994). Esses conceitos em geral nascem da filosofia e das Ciências Humanas.
A modernidade é como que um efeito do “moderno”, é um paradigma, uma espécie de modelo. Para filósofos do Iluminismo como Immanuel Kant, aquela época preenchia as mentalidades com um novo olhar para o real. O criticismo kantiano, somado ao hegelianismo, provocará profundas mudanças na ciência e na política através da laicização do Estado.
A pós-modernidade de filósofos como Michel Foucault, vão mobilizar a realidade para o nível do discurso. A verdade e a realidade perdem em objetividade e se tornam uma espécie de consenso epistemológico de uma época.
O modernismo, o vanguardismo artístico importado da Europa, tão bem apropriado aqui no Brasil, é uma nova concepção estética. A crítica ao academicismo e a burguesia industrial são o mote dessas correntes artísticas.
Trabalhar com esses conceitos em sala de aula podem parecer complexos ou repetitivos. Porém, o uso de recursos pedagógicos como as artes e a inclusão de novos conteúdos podem agregar à didática (op. cit., 2004, p. 131 et seq.). Revisitar os clássicos e estar atualizado com a nova produção historiográfica pode mobilizar a criatividade do professor.
REFERÊNCIAS
KARNAL, Leandro. A História Moderna e a sala de aula. In: _____ (org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Contexto, 2004. p. 127-142.
VEYNE, Paul. Acreditavam os gregos em seus mitos? Ensaio sobre a imaginação constituinte. São Paulo: Brasiliense, 1984.
MENDONÇA, Nadir Domingues de. O uso dos conceitos (uma questão de interdisciplinaridade). Petrópolis: Vozes, 1994. p. 118-147.