O que é o amor? - Por Osho
Pergunta: O que é o amor divino? Como uma pessoa iluminada experimenta o amor?
Primeiro vamos olhar questão em si. Você deve ter estado
esperando para perguntá-la. Não poderia ter ocorrido a você
exatamente agora; você deve ter decidido por ela previamente. Ela
estava esperando para ser levantada; ela estava forçando você a
colocá-la. Sua memória determinou a pergunta, não a sua
consciência. Se você estivesse consciente exatamente agora, se você
estivesse no momento, esta questão não surgiria. Se você estivesse
ouvindo o que eu venho dizendo, esta indagação seria impossível.
Se a questão estava presente em você, é impossível que você
tenha ouvido qualquer coisa que eu tenha dito. Uma questão que
está constantemente presente na mente cria uma tensão e por causa
da tensão, você não pode estar aqui. Eis porque sua consciência não
pode agir com liberdade. Se você entende isto, então nós podemos
considerar sua pergunta.
A questão em si é boa, mas a mente que pensou nela está
doente. A consciência deve estar ali, de momento a momento, não
somente nos atos, mas nas indagações, em cada gesto. Se ergo meu
dedo, pode ser apenas um hábito. Então não sou o mestre do meu
corpo. Mas se é uma expressão espontânea de algo que está presente
na minha consciência agora mesmo, é de todo diferente.
Cada gesto de um pregador cristão é predeterminado.
Foi-lhe ensinado isto. Uma vez estive numa faculdade teológica
cristã. Após cinco anos nesta escola, o indivíduo torna-se doutor
em divindade. Absurdo! Doutor em divindade é pura idiotice.
Eles estavam sendo treinados em tudo: como postar-se no púlpito,
como iniciar o culto, como cantar o hino, como olhar para a
audiência, onde parar e onde deixar um vazio ou intervalo. Tudo!
Esta preparação tola não deve acontecer. É um grande infortúnio.
Esteja no momento. Não decida qualquer coisa de antemão.
Esteja consciente de que a questão está presente em você, que está
batendo à porta da mente continuamente. Você não estava me
ouvindo, em absoluto - apenas por causa desta questão! E quando
eu começar a falar sobre sua pergunta, sua mente criará outra
questão. Novamente você perderá. O que eu estou dizendo não é
pessoal a você. É verdade para todos.
Agora a questão.
Sempre que o amor existe é divino, assim dizer amor divino é
sem sentido. O amor é sempre divino. Mas a mente é manhosa. Ela
diz: Nós sabemos o que o amor é. Só o que não sabemos é o que o
amor divino é. Mas nós nem mesmo conhecemos o amor. É uma das
coisas mais desconhecidas. Há muita fala a respeito; ele nunca é
vivido. Isto é um truque da mente. Nós falamos sobre aquilo que
não podemos viver.
A literatura, a música, a poesia, a dança - tudo revolve em
torno do amor. Se o amor estivesse realmente ali, nós não falaríamos
tanto dele. Nossa conversa excessiva sobre o amor, mostra que o
amor é inexistente. Falar sobre coisas que não são, é um
substitutivo. Pela fala, pela linguagem, pelos símbolos, pela arte,
nós criamos a ilusão de que a coisa está ali. Alguém que nunca
conheceu o amor, pode escrever um poema melhor sobre ele, do que
alguém que conheceu o amor, porque o vazio é muito mais
profundo. Tem de ser preenchido. Algo tem se substituir o lugar do
amor.
Em primeiro lugar é melhor entender o que o amor é, porque
quando você pergunta sobre o amor divino, entende-se que o amor é
conhecido. Mas o amor não é conhecido. O que se conhece como
amor é uma outra coisa. O falso deve ser conhecido antes que passos
possam ser tomados em direção ao real, à verdade.
O que é conhecido como amor é apenas paixão impulsiva.
Você começa a amar alguém. Se esse alguém se tornar seu totalmente,
o amor morrerá logo; mas se houver barreiras, se você não puder ter
a pessoa que você ama, então o amor se tornará intenso. Quanto
mais barreiras, mais intensamente o amor será sentido. Se o bem
amado ou o amante é impossível de ser conquistado, o amor tornase
eterno; mas se você pode conquistar seu amante facilmente, então
o amor morre facilmente.
Quando você tenta obter algo e não consegue, você se toma
intenso na tentativa de obtê-lo. Quanto mais obstáculos há, mais
seu ego sente que é necessário fazer alguma coisa,
Torna-se um problema do ego. Quanto mais você é recusado,
mais tenso você se torna - e mais desatinadamente apaixonado. A
esta tensão, você chama amor. Eis porque uma vez terminada a lua
de mel, o amor está velho. Até mesmo antes disso. O que você
conheceu como amor, não era amor. Era apenas uma paixão
desvairada do ego, uma tensão do ego: uma luta, um conflito.
As sociedades humanas antigas eram muito astutas. Elas
desenvolviam métodos para fazer o amor durar. Se o homem não
puder ver a esposa por um período prolongado, a paixão impulsiva
será criada. Então o homem poderá permanecer com a esposa por
toda sua vida.
Mas agora no Ocidente, o casamento não pode mais existir.
Não é que a mente ocidental seja mais sexual. É que não se permite o
acúmulo da paixão impulsiva. O sexo está tão facilmente disponível,
que o casamento não pode existir. O amor também não pode mais
existir, com este tipo de liberdade. Se uma sociedade é
completamente livre sexualmente, então somente o sexo pode
existir.
Tédio é o outro lado da paixão desvairada. Se você ama
alguém e não conquista o bem amado, a paixão desvairada
aprofunda-se; mas se você o conquista ou a conquista, você começa
a se sentir entediado, cheio; há muitas dualidades: paixão
impulsiva/tédio, amor/ódio, atração/repulsão. Com a paixão
impulsiva você sente atração, amor e com o tédio você sente
repulsão, ódio.
Nenhuma atração pode realmente ser amor, porque a
repulsão é propensa a surgir. Está na natureza das coisas que o
outro lado virá. Se você não quer que o oposto venha, você deve
criar barreiras de forma que a paixão desatinada nunca termine;
você deve criar tensões diárias. Então a paixão desvairada continua.
Esta é a razão de todo o antigo sistema de criar barreiras ao amor.
Mas logo não será mais possível. Então o casamento morrerá e
o amor também morrerá. Ele se afundará em segundo plano.
Somente o sexo permanecerá. Mas o sexo não pode se manter por si
mesmo; ele torna-se mecânico demais. Nietzsche declarou que Deus
está morto. A coisa real que vai morrer neste século é o sexo. Eu
não quero dizer que as pessoas serão assexuadas. Elas serão sexuais,
mas a excessiva ênfase no sexo acabará. O sexo tomar-se-á um ato
comum como qualquer outro - como urinar, ou beber ou qualquer
outra coisa. Ele não será significativo. Ele tornou-se significativo
somente por causa das barreiras que se criaram ao redor dele.
O que você tem chamado de amor, não é amor. É apenas sexo
postergado. Então, o que é o amor? O amor não está de forma
alguma relacionado ao sexo. O sexo pode surgir dele ou não, mas
não está relacionado ao sexo, em absoluto. É algo de todo diferente.
Para mim o amor é um subproduto da mente medítatíva. Não
está relacionado ao sexo; está relacionado a dhyana, meditação.
Quanto mais silencioso você se tornar, mais tranqüilo consigo
mesmo estará, mais preenchido sentir-se-á e mais uma nova
expressão do seu ser estará ali. Você começará a amar. Não a
alguém em particular. Pode acontecer a alguém em particular, mas
isso é outra coisa. Você começa a amar. Este amor torna-se o seu
modo de existir. Ele nunca pode se transformar em repulsa, porque
não é uma atração.
Você deve entender claramente a distinção. Ordinariamente,
quando você se apaixona por alguém, o sentimento real é como
obter amor dele. Não é que o amor esteja saindo de você para ele. Ao
contrário, é uma expectativa de que o amor virá dele para você. Eis
porque o amor se torna possessivo. Você possui alguém de tal forma
que possa obter algo dele. Mas o amor do qual estou falando não é
nem possessivo, nem tem quaisquer expectativas. É apenas como
você se comporta. Você tornou-se tão silencioso, tão amoroso, que o
seu silêncio vai aos outros, agora.
Quando você está com raiva, sua raiva vai aos outros.
Quando você odeia, seu ódio vai para os outros. Quando você está
amando, você sente que o seu amor está saindo para os outros, mas
você não está confiante. Num momento há amor e no momento
seguinte haverá ódio. O ódio não é o oposto do amor; é parte e
parcela dele, uma continuidade.
Se você amou alguém, você o odiará. Você pode não ser
corajoso o suficiente para admiti-lo, mas você o odiará. Os amantes
estão sempre em conflito quando estão juntos. Quando não estão
juntos, podem cantar canções de amor um ao outro, mas quando
estão juntos, estão sempre brigando. Eles não podem viver sós e não
podem viver juntos. Quando o outro não está ali, a paixão
impulsiva é criada; os dois de novo sentem amor um pelo outro.
Mas quando o outro está presente, a paixão desvairada se vai e o
ódio é novamente sentido.
O amor do qual estou falando, significa que você se tornou
tão silencioso, que agora não há nem raiva nem atração, nem
repulsão. Realmente, agora não há amor e não há ódio. Você não
está de forma alguma orientado em direção ao outro. O outro
desapareceu; você está só consigo mesmo. Neste sentimento de estar
só, o amor vem a você como uma fragrância.
Pedir amor de outro, é sempre feio. Depender do outro,
pedir algo do outro, sempre cria escravidão, sofrimento, conflito. A
pessoa deveria estar suficientemente voltada a si mesma. O que eu
quero dizer por meditação, é um estado de ser onde a pessoa é
suficiente em si mesma. Você torna-se um círculo, só. O mandala é
completo.
Você está tentando tornar o mandala completo com os outros:
homem com a mulher, a mulher com o homem. Em certos
momentos as linhas se encontram, mas pouco antes delas se
encontrarem a separação começa. Somente se você se converte num
círculo perfeito - todo, suficiente em si mesmo - o amor começa a
florescer em você. Então o que quer que se aproximar de você, você
amará. Não é em absoluto um ato; não é algo que você faz. Seu
próprio ser, sua própria presença, é amor. O amor flui através de
você.
Se você perguntar a uma pessoa que tenha alcançado este
estado: Você me ama?, será difícil para ela responder. Ela não pode
dizer, Eu amo você, porque não é um ato da parte dela; não é um
fazer. E ela não pode dizer, Eu não o amo, porque ela ama.
Realmente, ela é amor.
Este amor vem somente com a liberdade da qual tenho
falado. A liberdade é o sentimento que você tem e o amor é o
sentimento que os outros têm a seu respeito. Quando a meditação
acontece no interior, você sente-se completamente livre. Esta
liberdade é um sentimento interno; não pode ser sentido pelos
outros.
Às vezes o seu comportamento pode criar dificuldades para
os outros, porque eles não podem conceber o que aconteceu em
você. De uma certa forma, você será um problema para eles, uma
inconveniência, porque você não pode ser previsível. Agora, nada
será conhecido a seu respeito. O que você fará em seguida? O que
dirá? Ninguém pode saber. Todos ao seu redor sentem uma certa
inconveniência. Eles nunca podem estar tranquilos com você,
porque agora você é capaz de fazer qualquer coisa; você não está
morto.
Eles não podem sentir sua liberdade, porque não conheceram
nada como isto. Eles nem mesmo a procuraram; não a buscaram.
Eles estão em tal cativeiro, que não podem nem mesmo conceber o
que é a liberdade. Eles têm estado enjaulados, não conheceram o céu
aberto, assim, mesmo se você lhes falar sobre o céu aberto, este não
pode ser comunicado a eles. Mas eles podem sentir seu amor,
porque têm pedido amor. Mesmo em suas jaulas, em suas
escravidões, têm buscado o amor. Eles têm criado toda a escravidão
- escravidão com as pessoas, com as coisas - somente por causa de
sua busca de amor.
Sempre que acontece de uma pessoa ser livre, seu amor é
sentido. Mas você sentirá esse amor como compaixão, não como
amor, porque não haverá excitação nele. Será muito difuso - sem
calor, nem mesmo tepidez. Não há excitação nele. Está ali, eis tudo.
A excitação vem e vai, não pode ser constante, logo se houver
excitação no amor de Buda, então Buda terá de se mover novamente
para o ódio. A excitação não estará ali. Os picos não estarão ali e os
vales não estarão ali. O amor está simplesmente ali. Você o sentirá
como Karuna, compaixão.
A liberdade não pode ser sentida do exterior. Somente o
amor pode ser sentido. E isso também apenas com compaixão. Este
tem sido um dos fenômenos mais difíceis da história humana. A
liberdade de um iluminado cria inconveniência e o amor dele é
compaixão. Eis porque a sociedade está sempre dividida com
relação a estas pessoas.
Há pessoas que têm sentido apenas a inconveniência que um
Cristo cria. Estas são as pessoas que estão bem estabelecidas. Elas
não necessitam de compaixão. Elas pensam que têm amor, saúde,
bem-estar, respeito, tudo. Cristo acontece e os que têm serão contra
ele, porque estará criando uma inconveniência para eles , enquanto
os que-não-têm serão por ele, porque sentirão sua compaixão. Eles
estão necessitados de amor. Ninguém os amou, mas este homem os
ama. Eles não sentirão a inconveniência de um Cristo, porque não
têm nada a temer, nada a perder.
Quando um Cristo morre, todos sentem sua compaixão,
porque agora não há inconveniência. Até mesmo os bem estabelecidos
sentir-se-ão tranqüilos; eles o idolatrarão. Mas quando
está vivo, ele é um rebelde. E é um rebelde porque é livre. Ele não é
um rebelde porque algo está errado com a sociedade.
Tal rebeldia é apenas política. Se a sociedade mudar, aquele
mesmo que era rebelde tornar-se-á ortodoxo. Isto aconteceu em
1917. Os próprios revolucionários transformaram-se num dos
grupos fechados mais anti-revolucionários do mundo. No momento
em que os homens como Stalin ou Mao estão no poder, eles se
convertem nos líderes mais anti-revolucionários possíveis, porque
não são realmente rebeldes. Eles estão apenas rebelando-se contra
urna situação particular. Uma vez destruída essa situação, tornam-se
tais como aqueles que lutavam por derrubar.
Mas um Cristo é sempre um rebelde. Nenhuma situação
extinguirá sua rebelião, porque sua rebelião não é contra alguém. É
porque sua consciência é livre. Onde quer que sentir uma barreira,
sentir-se-á rebelde. A rebelião é seu espírito. Portanto, se Jesus
voltar hoje, os cristãos não estarão tranquilos com ele.
Eles são agora parte do sistema; eles se estabeleceram. Se Jesus
vier ao mercado de novo, destruirá tudo o que têm. O Vaticano, a
Igreja, não é possível com Jesus. Somente Jesus é possível.
Todo professor que alcançou iluminação é rebelde, mas a
tradição pertinente a ele nunca é rebelde. Ela nunca é pertinente à
sua rebeldia, à sua liberdade, mas somente à sua compaixão, ao seu
amor. Mas então, ela torna-se impotente. O amor não pode existir
sem liberdade, sem rebelião.
Você não pode ser tão amoroso quanto Buda, a não ser que
seja tão livre quanto ele. Um monge budista está apenas tentando ser
compassivo. A compaixão é impotente, porque a liberdade não está
lá. A liberdade é a fonte. Mahavira é compassivo, mas um monge
jainista não é de forma alguma compassivo. Ele está apenas
representando não violentamente e compassivamente; ele não é
realmente compassivo. É astuto. Até mesmo na sua compaixão e na
exibição dela, ele é ardiloso. Não há compaixão, porque a liberdade
não está lá.
Sempre que a liberdade acontece na consciência humana, a
liberdade é sentida de dentro e o amor é sentido de fora. Este amor,
esta compaixão, é uma ausência de ambos, do amor e do ódio. O
dualismo completo está ausente, não há nem atração, nem repulsão.
Assim, com uma pessoa que é livre e amorosa, depende de
você se você pode receber seu amor ou não. Não depende de mim
quanto amor eu posso lhe dar; depende de quanto amor você é capaz
de receber. Habitualmente, o amor depende da pessoa que está
dando. Ela pode dar amor; pode não dar. Mas o amor do qual falo
não é dependente do doador. Ele está completamente aberto e
dando a cada momento. Mesmo quando ninguém está presente, o
amor está fluindo.
É exatamente como uma flor no deserto. Pode ser que
ninguém saiba que ela floresceu e que está exalando seu perfume,
mas ela o exalará. A flor floresceu, assim a fragrância está ali, Se
alguém passa ou não, é irrelevante. Se alguém passa e é sensível,
pode recebê-la. Mas se está completamente morto, insensível, pode
nem mesmo estar consciente de que há uma flor ali.
Quando o amor está ali, depende de você se pode recebê-lo
ou não. Somente quando o amor não está ali, o outro pode dá-lo a
você ou retirá-lo de você. Com o amor, com a compaixão, não há
divisão entre o divino e o não-divino. O amor é divino. Deus é
amor.
Pergunta: O que é o amor divino? Como uma pessoa iluminada experimenta o amor?
Primeiro vamos olhar questão em si. Você deve ter estado
esperando para perguntá-la. Não poderia ter ocorrido a você
exatamente agora; você deve ter decidido por ela previamente. Ela
estava esperando para ser levantada; ela estava forçando você a
colocá-la. Sua memória determinou a pergunta, não a sua
consciência. Se você estivesse consciente exatamente agora, se você
estivesse no momento, esta questão não surgiria. Se você estivesse
ouvindo o que eu venho dizendo, esta indagação seria impossível.
Se a questão estava presente em você, é impossível que você
tenha ouvido qualquer coisa que eu tenha dito. Uma questão que
está constantemente presente na mente cria uma tensão e por causa
da tensão, você não pode estar aqui. Eis porque sua consciência não
pode agir com liberdade. Se você entende isto, então nós podemos
considerar sua pergunta.
A questão em si é boa, mas a mente que pensou nela está
doente. A consciência deve estar ali, de momento a momento, não
somente nos atos, mas nas indagações, em cada gesto. Se ergo meu
dedo, pode ser apenas um hábito. Então não sou o mestre do meu
corpo. Mas se é uma expressão espontânea de algo que está presente
na minha consciência agora mesmo, é de todo diferente.
Cada gesto de um pregador cristão é predeterminado.
Foi-lhe ensinado isto. Uma vez estive numa faculdade teológica
cristã. Após cinco anos nesta escola, o indivíduo torna-se doutor
em divindade. Absurdo! Doutor em divindade é pura idiotice.
Eles estavam sendo treinados em tudo: como postar-se no púlpito,
como iniciar o culto, como cantar o hino, como olhar para a
audiência, onde parar e onde deixar um vazio ou intervalo. Tudo!
Esta preparação tola não deve acontecer. É um grande infortúnio.
Esteja no momento. Não decida qualquer coisa de antemão.
Esteja consciente de que a questão está presente em você, que está
batendo à porta da mente continuamente. Você não estava me
ouvindo, em absoluto - apenas por causa desta questão! E quando
eu começar a falar sobre sua pergunta, sua mente criará outra
questão. Novamente você perderá. O que eu estou dizendo não é
pessoal a você. É verdade para todos.
Agora a questão.
Sempre que o amor existe é divino, assim dizer amor divino é
sem sentido. O amor é sempre divino. Mas a mente é manhosa. Ela
diz: Nós sabemos o que o amor é. Só o que não sabemos é o que o
amor divino é. Mas nós nem mesmo conhecemos o amor. É uma das
coisas mais desconhecidas. Há muita fala a respeito; ele nunca é
vivido. Isto é um truque da mente. Nós falamos sobre aquilo que
não podemos viver.
A literatura, a música, a poesia, a dança - tudo revolve em
torno do amor. Se o amor estivesse realmente ali, nós não falaríamos
tanto dele. Nossa conversa excessiva sobre o amor, mostra que o
amor é inexistente. Falar sobre coisas que não são, é um
substitutivo. Pela fala, pela linguagem, pelos símbolos, pela arte,
nós criamos a ilusão de que a coisa está ali. Alguém que nunca
conheceu o amor, pode escrever um poema melhor sobre ele, do que
alguém que conheceu o amor, porque o vazio é muito mais
profundo. Tem de ser preenchido. Algo tem se substituir o lugar do
amor.
Em primeiro lugar é melhor entender o que o amor é, porque
quando você pergunta sobre o amor divino, entende-se que o amor é
conhecido. Mas o amor não é conhecido. O que se conhece como
amor é uma outra coisa. O falso deve ser conhecido antes que passos
possam ser tomados em direção ao real, à verdade.
O que é conhecido como amor é apenas paixão impulsiva.
Você começa a amar alguém. Se esse alguém se tornar seu totalmente,
o amor morrerá logo; mas se houver barreiras, se você não puder ter
a pessoa que você ama, então o amor se tornará intenso. Quanto
mais barreiras, mais intensamente o amor será sentido. Se o bem
amado ou o amante é impossível de ser conquistado, o amor tornase
eterno; mas se você pode conquistar seu amante facilmente, então
o amor morre facilmente.
Quando você tenta obter algo e não consegue, você se toma
intenso na tentativa de obtê-lo. Quanto mais obstáculos há, mais
seu ego sente que é necessário fazer alguma coisa,
Torna-se um problema do ego. Quanto mais você é recusado,
mais tenso você se torna - e mais desatinadamente apaixonado. A
esta tensão, você chama amor. Eis porque uma vez terminada a lua
de mel, o amor está velho. Até mesmo antes disso. O que você
conheceu como amor, não era amor. Era apenas uma paixão
desvairada do ego, uma tensão do ego: uma luta, um conflito.
As sociedades humanas antigas eram muito astutas. Elas
desenvolviam métodos para fazer o amor durar. Se o homem não
puder ver a esposa por um período prolongado, a paixão impulsiva
será criada. Então o homem poderá permanecer com a esposa por
toda sua vida.
Mas agora no Ocidente, o casamento não pode mais existir.
Não é que a mente ocidental seja mais sexual. É que não se permite o
acúmulo da paixão impulsiva. O sexo está tão facilmente disponível,
que o casamento não pode existir. O amor também não pode mais
existir, com este tipo de liberdade. Se uma sociedade é
completamente livre sexualmente, então somente o sexo pode
existir.
Tédio é o outro lado da paixão desvairada. Se você ama
alguém e não conquista o bem amado, a paixão desvairada
aprofunda-se; mas se você o conquista ou a conquista, você começa
a se sentir entediado, cheio; há muitas dualidades: paixão
impulsiva/tédio, amor/ódio, atração/repulsão. Com a paixão
impulsiva você sente atração, amor e com o tédio você sente
repulsão, ódio.
Nenhuma atração pode realmente ser amor, porque a
repulsão é propensa a surgir. Está na natureza das coisas que o
outro lado virá. Se você não quer que o oposto venha, você deve
criar barreiras de forma que a paixão desatinada nunca termine;
você deve criar tensões diárias. Então a paixão desvairada continua.
Esta é a razão de todo o antigo sistema de criar barreiras ao amor.
Mas logo não será mais possível. Então o casamento morrerá e
o amor também morrerá. Ele se afundará em segundo plano.
Somente o sexo permanecerá. Mas o sexo não pode se manter por si
mesmo; ele torna-se mecânico demais. Nietzsche declarou que Deus
está morto. A coisa real que vai morrer neste século é o sexo. Eu
não quero dizer que as pessoas serão assexuadas. Elas serão sexuais,
mas a excessiva ênfase no sexo acabará. O sexo tomar-se-á um ato
comum como qualquer outro - como urinar, ou beber ou qualquer
outra coisa. Ele não será significativo. Ele tornou-se significativo
somente por causa das barreiras que se criaram ao redor dele.
O que você tem chamado de amor, não é amor. É apenas sexo
postergado. Então, o que é o amor? O amor não está de forma
alguma relacionado ao sexo. O sexo pode surgir dele ou não, mas
não está relacionado ao sexo, em absoluto. É algo de todo diferente.
Para mim o amor é um subproduto da mente medítatíva. Não
está relacionado ao sexo; está relacionado a dhyana, meditação.
Quanto mais silencioso você se tornar, mais tranqüilo consigo
mesmo estará, mais preenchido sentir-se-á e mais uma nova
expressão do seu ser estará ali. Você começará a amar. Não a
alguém em particular. Pode acontecer a alguém em particular, mas
isso é outra coisa. Você começa a amar. Este amor torna-se o seu
modo de existir. Ele nunca pode se transformar em repulsa, porque
não é uma atração.
Você deve entender claramente a distinção. Ordinariamente,
quando você se apaixona por alguém, o sentimento real é como
obter amor dele. Não é que o amor esteja saindo de você para ele. Ao
contrário, é uma expectativa de que o amor virá dele para você. Eis
porque o amor se torna possessivo. Você possui alguém de tal forma
que possa obter algo dele. Mas o amor do qual estou falando não é
nem possessivo, nem tem quaisquer expectativas. É apenas como
você se comporta. Você tornou-se tão silencioso, tão amoroso, que o
seu silêncio vai aos outros, agora.
Quando você está com raiva, sua raiva vai aos outros.
Quando você odeia, seu ódio vai para os outros. Quando você está
amando, você sente que o seu amor está saindo para os outros, mas
você não está confiante. Num momento há amor e no momento
seguinte haverá ódio. O ódio não é o oposto do amor; é parte e
parcela dele, uma continuidade.
Se você amou alguém, você o odiará. Você pode não ser
corajoso o suficiente para admiti-lo, mas você o odiará. Os amantes
estão sempre em conflito quando estão juntos. Quando não estão
juntos, podem cantar canções de amor um ao outro, mas quando
estão juntos, estão sempre brigando. Eles não podem viver sós e não
podem viver juntos. Quando o outro não está ali, a paixão
impulsiva é criada; os dois de novo sentem amor um pelo outro.
Mas quando o outro está presente, a paixão desvairada se vai e o
ódio é novamente sentido.
O amor do qual estou falando, significa que você se tornou
tão silencioso, que agora não há nem raiva nem atração, nem
repulsão. Realmente, agora não há amor e não há ódio. Você não
está de forma alguma orientado em direção ao outro. O outro
desapareceu; você está só consigo mesmo. Neste sentimento de estar
só, o amor vem a você como uma fragrância.
Pedir amor de outro, é sempre feio. Depender do outro,
pedir algo do outro, sempre cria escravidão, sofrimento, conflito. A
pessoa deveria estar suficientemente voltada a si mesma. O que eu
quero dizer por meditação, é um estado de ser onde a pessoa é
suficiente em si mesma. Você torna-se um círculo, só. O mandala é
completo.
Você está tentando tornar o mandala completo com os outros:
homem com a mulher, a mulher com o homem. Em certos
momentos as linhas se encontram, mas pouco antes delas se
encontrarem a separação começa. Somente se você se converte num
círculo perfeito - todo, suficiente em si mesmo - o amor começa a
florescer em você. Então o que quer que se aproximar de você, você
amará. Não é em absoluto um ato; não é algo que você faz. Seu
próprio ser, sua própria presença, é amor. O amor flui através de
você.
Se você perguntar a uma pessoa que tenha alcançado este
estado: Você me ama?, será difícil para ela responder. Ela não pode
dizer, Eu amo você, porque não é um ato da parte dela; não é um
fazer. E ela não pode dizer, Eu não o amo, porque ela ama.
Realmente, ela é amor.
Este amor vem somente com a liberdade da qual tenho
falado. A liberdade é o sentimento que você tem e o amor é o
sentimento que os outros têm a seu respeito. Quando a meditação
acontece no interior, você sente-se completamente livre. Esta
liberdade é um sentimento interno; não pode ser sentido pelos
outros.
Às vezes o seu comportamento pode criar dificuldades para
os outros, porque eles não podem conceber o que aconteceu em
você. De uma certa forma, você será um problema para eles, uma
inconveniência, porque você não pode ser previsível. Agora, nada
será conhecido a seu respeito. O que você fará em seguida? O que
dirá? Ninguém pode saber. Todos ao seu redor sentem uma certa
inconveniência. Eles nunca podem estar tranquilos com você,
porque agora você é capaz de fazer qualquer coisa; você não está
morto.
Eles não podem sentir sua liberdade, porque não conheceram
nada como isto. Eles nem mesmo a procuraram; não a buscaram.
Eles estão em tal cativeiro, que não podem nem mesmo conceber o
que é a liberdade. Eles têm estado enjaulados, não conheceram o céu
aberto, assim, mesmo se você lhes falar sobre o céu aberto, este não
pode ser comunicado a eles. Mas eles podem sentir seu amor,
porque têm pedido amor. Mesmo em suas jaulas, em suas
escravidões, têm buscado o amor. Eles têm criado toda a escravidão
- escravidão com as pessoas, com as coisas - somente por causa de
sua busca de amor.
Sempre que acontece de uma pessoa ser livre, seu amor é
sentido. Mas você sentirá esse amor como compaixão, não como
amor, porque não haverá excitação nele. Será muito difuso - sem
calor, nem mesmo tepidez. Não há excitação nele. Está ali, eis tudo.
A excitação vem e vai, não pode ser constante, logo se houver
excitação no amor de Buda, então Buda terá de se mover novamente
para o ódio. A excitação não estará ali. Os picos não estarão ali e os
vales não estarão ali. O amor está simplesmente ali. Você o sentirá
como Karuna, compaixão.
A liberdade não pode ser sentida do exterior. Somente o
amor pode ser sentido. E isso também apenas com compaixão. Este
tem sido um dos fenômenos mais difíceis da história humana. A
liberdade de um iluminado cria inconveniência e o amor dele é
compaixão. Eis porque a sociedade está sempre dividida com
relação a estas pessoas.
Há pessoas que têm sentido apenas a inconveniência que um
Cristo cria. Estas são as pessoas que estão bem estabelecidas. Elas
não necessitam de compaixão. Elas pensam que têm amor, saúde,
bem-estar, respeito, tudo. Cristo acontece e os que têm serão contra
ele, porque estará criando uma inconveniência para eles , enquanto
os que-não-têm serão por ele, porque sentirão sua compaixão. Eles
estão necessitados de amor. Ninguém os amou, mas este homem os
ama. Eles não sentirão a inconveniência de um Cristo, porque não
têm nada a temer, nada a perder.
Quando um Cristo morre, todos sentem sua compaixão,
porque agora não há inconveniência. Até mesmo os bem estabelecidos
sentir-se-ão tranqüilos; eles o idolatrarão. Mas quando
está vivo, ele é um rebelde. E é um rebelde porque é livre. Ele não é
um rebelde porque algo está errado com a sociedade.
Tal rebeldia é apenas política. Se a sociedade mudar, aquele
mesmo que era rebelde tornar-se-á ortodoxo. Isto aconteceu em
1917. Os próprios revolucionários transformaram-se num dos
grupos fechados mais anti-revolucionários do mundo. No momento
em que os homens como Stalin ou Mao estão no poder, eles se
convertem nos líderes mais anti-revolucionários possíveis, porque
não são realmente rebeldes. Eles estão apenas rebelando-se contra
urna situação particular. Uma vez destruída essa situação, tornam-se
tais como aqueles que lutavam por derrubar.
Mas um Cristo é sempre um rebelde. Nenhuma situação
extinguirá sua rebelião, porque sua rebelião não é contra alguém. É
porque sua consciência é livre. Onde quer que sentir uma barreira,
sentir-se-á rebelde. A rebelião é seu espírito. Portanto, se Jesus
voltar hoje, os cristãos não estarão tranquilos com ele.
Eles são agora parte do sistema; eles se estabeleceram. Se Jesus
vier ao mercado de novo, destruirá tudo o que têm. O Vaticano, a
Igreja, não é possível com Jesus. Somente Jesus é possível.
Todo professor que alcançou iluminação é rebelde, mas a
tradição pertinente a ele nunca é rebelde. Ela nunca é pertinente à
sua rebeldia, à sua liberdade, mas somente à sua compaixão, ao seu
amor. Mas então, ela torna-se impotente. O amor não pode existir
sem liberdade, sem rebelião.
Você não pode ser tão amoroso quanto Buda, a não ser que
seja tão livre quanto ele. Um monge budista está apenas tentando ser
compassivo. A compaixão é impotente, porque a liberdade não está
lá. A liberdade é a fonte. Mahavira é compassivo, mas um monge
jainista não é de forma alguma compassivo. Ele está apenas
representando não violentamente e compassivamente; ele não é
realmente compassivo. É astuto. Até mesmo na sua compaixão e na
exibição dela, ele é ardiloso. Não há compaixão, porque a liberdade
não está lá.
Sempre que a liberdade acontece na consciência humana, a
liberdade é sentida de dentro e o amor é sentido de fora. Este amor,
esta compaixão, é uma ausência de ambos, do amor e do ódio. O
dualismo completo está ausente, não há nem atração, nem repulsão.
Assim, com uma pessoa que é livre e amorosa, depende de
você se você pode receber seu amor ou não. Não depende de mim
quanto amor eu posso lhe dar; depende de quanto amor você é capaz
de receber. Habitualmente, o amor depende da pessoa que está
dando. Ela pode dar amor; pode não dar. Mas o amor do qual falo
não é dependente do doador. Ele está completamente aberto e
dando a cada momento. Mesmo quando ninguém está presente, o
amor está fluindo.
É exatamente como uma flor no deserto. Pode ser que
ninguém saiba que ela floresceu e que está exalando seu perfume,
mas ela o exalará. A flor floresceu, assim a fragrância está ali, Se
alguém passa ou não, é irrelevante. Se alguém passa e é sensível,
pode recebê-la. Mas se está completamente morto, insensível, pode
nem mesmo estar consciente de que há uma flor ali.
Quando o amor está ali, depende de você se pode recebê-lo
ou não. Somente quando o amor não está ali, o outro pode dá-lo a
você ou retirá-lo de você. Com o amor, com a compaixão, não há
divisão entre o divino e o não-divino. O amor é divino. Deus é
amor.