Leitura de clássicos por jovens e adolescentes.

Imagino que se uma juventude aprecie Funk, não precise ensiná-lo nas escolas, pois, essa cultura já está inserida em seu contexto; preciso então, ensinar algo que agregue valores à formação cognitiva. Ensinar os referenciais literários em suas diferentes manifestações artísticas perdem totalmente o sentido a essa juventude se não o fizer de forma consciente. Todas as manifestações que se dão ao longo da história e firma a etnia de uma nação, e são registradas de diferentes formas, a escola é o portal de acesso a esse conhecimento, contudo, compreender o universo da leitura vai muito além de códigos e signos linguísticos. Seja nos mais simples folhetins lançados à rua ou a partir de Machado de Assis, Gonçalves Dias entre outros, algumas expressões inglesas farão sentidos quando se aplicados considerando suas relevâncias mesmo dentro da língua portuguesa, assim me aproprio de alguns WH questions, diria: “What, Why, When, Where, Who e How”.

Se eu não compreender e não fizer com que os jovens compreendam que o universo da leitura esteja num contexto sociopolítico, onde essa literatura tenha papel formador, aguçando os propósitos e fermentando a reflexão, realmente estaremos forçando jovens e adolescentes a engolir Mario de Andrade, Raquel de Queiroz. Vejo A forma hilária de muitos insultos a uma boa bibliografia no que tange capacidade leitora, e fico indignado com afirmações que seria talvez conveniente desprezá-la por não estar carregada de evidencias acadêmicas. Entretanto é oportuno escrever sobre o assunto, uma vez que abre campo para associar meu pensamento.

Quando afirmo que jovens e adolescentes não deveriam fazer a leitura obrigatória dos clássicos, questiono se precisam conhecer a tabela periódica, se precisam utilizar raiz quadrada, qual a necessidade em estudar e compreender as camadas rochosas e daí por diante. Nada tem sentido se for ensinada com fim em si mesmo, não posso dizer para um aluno ler Camões porque simplesmente cairá na prova. Quando compro um celular recebo um manual instrucional, não vou ler o manual porque farei uma prova dele, mas, sim porque preciso apropriar-me do determinado conhecimento e estou motivado a isso pela necessidade de aplicá-lo. Talvez seja um tanto abstrato pensar que não aplico Vidas Secas na vida cotidiana, que que não faz sentido a conotação do celular. Assim, proponho o leitor a ler está ou qualquer obra clássica, considerando primeiro o período histórico, como se davam as formações política e social da época, os costumes, as vestimentas o vocabulário, feito isso traria sobre características anteriores e faria um paralelo ao que se tem e ao que se tinha antes. Percebe que a leitura começa a ter um cheiro ou um sabor de propósito, e esse porque, quando e onde são os primeiros WH, que começo a definir como necessário a leitura de qualquer texto que seja. Ler os clássicos não se trata de imposição de leitura, e pensar que tal prática ainda se faz não diria que está matando o gosto pela leitura, mas estaria enterrando autor e obra. O segredo não está no que vai se pedir para ler, mas como será, não posso acreditar que ainda se promova leitura a partir de mera decodificação do texto, ler é uma arte e precisa ser trabalhada como arte. Quando ouço alguém dizer que nossos jovens ou adolescentes não deveriam ler os clássicos, questiono o que é ler para que se faça tal afirmação. Se eu recorrer a história da educação encontrarei escola nova e tecnicista que por vezes influenciada por regimes políticos, impunham a leitura, e inclusive memorização de trechos que comprovavam a tarefa de ler, contudo, vivemos hoje uma escola socio-reflexiva, onde a leitura no sentido geral está ligada ao sociocognitivo, precisa antes de qualquer coisa dar sentido ao que se pretende ler. Isabel Solé aborda da necessidade da motivação de ler tanto para o aluno quanto para o professor, e ainda em sua obra estratégias da Leitura gasta com propriedade sobre da necessidade de estratégias que se antepõem à leitura propriamente dita.

Após preparar o aluno à leitura, contextualizando obra, autor, em diferentes situações, mostro a necessidade que se deu determinada obra em seu tempo cronológico, além de poder relacioná-la ao cotidiano. Ao ler obras românticas de José de Alencar, Realistas de Machado de Assis, ou pré-modernas de Augusto dos Anjos, o aluno tem acesso a vocabulário, expressões e elementos linguísticos que deverão ser discutidos em sala de aula e associados à tramas que estão em nosso cotidiano ou que estiveram por longas décadas e numa abordagem socioemocionais, diria que estes textos cumprem mais papel formador do qualquer outro documento literário. Quando tenho como praxe a escola socio-reflexiva, projeto nas muitas práticas leitoras o companheirismo, o auxílio a empatia fortaleço o intercambio emocional tratado por Daniel Goleman, em Inteligência Emocional.

Claro que há intencionalidade implícita, no comportamento leitor, seja do que lê quanto daquele que permeia o ato de litura, daí a necessidade de compreender o universo da leitura e sua epistemologia em relação ao outro.

Para a psicologia genética, ao contrário, trata-se, desde o começo, de uma verdadeira “leitura” da experiência, ou seja, de um processo de (re)construção de uma realidade que supõe a aplicação de instrumentos cognitivos (de leitura) e a atribuição de relações entre os objetos. (Lajonquière, Leadro de, 1993, p. 178)

A leitura de clássicos nem sempre se dá pelo bel-prazer de ler, mesmo considerando, que os jovens das gerações contemporâneas, apoiam-se a recursos tecnológicos que misturam a necessidade do fazer com a emoção do fazer, diria que seria um trabalho com entretenimento e vice-versa, nem sempre se desvincular um do outro, e quanto maior for o vínculo do fazer e da satisfação deste fazer, melhor será o desenvolvimento desse jovem frente às habilidades, competências e apropriação do conhecimento especifico ou científico. E quando faço abordagem do fazer automaticamente relaciono as habilidades de diferentes saberes, e ler depreende-se de relacionar esses muitos saberes, e quando não proporciono o relacionamento desses saberes em atividades de leitura, aqui tratado os clássicos, essa leitura fica obrigatória, sem sentido, um amontoado de códigos que o léxico fica pouco compreendido, e a intencionalidade da obra e do autor se perdem. Portanto, o ensino literário de obras clássicas não deve ser isolado, tratado como um episódio da vida do educando, mas como processo de formação holística. Nessa visão de ler para compreender e transpassar barreiras espaciais e temporais é que se facilita a capacidade natural que o espírito tem de contextualizar, e consequentemente a capacidade de ligar as partes ao todo e o todo às partes, Pascal dizia, já no século XVII: “Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo sem conhecer as partes”. Edgar Morin explicita com propriedade a necessidade de diferentes saberes à educação do futuro, diria que o futuro é agora, e que esses saberes quando elencados em pilares de competências, que se adquire conforme propósito dos interlocutores.

A competência em diferentes saberes tanto trabalha aspectos individuais quanto coletivos, pois o indivíduo tanto causa impactos significativos no conceito de fator humano, quanto os recebe.

Fleury e Fleury (2000, p.43), aponta a necessidade de atentar-se aos diferente saberes, como necessidades básicas a serem apropriadas a bem comum:

1- “Saber agir”, significa saber tratar a complexibilidade e a diversidade, antecipar-se e agir em tempo certo, com visão sistêmica.

2- “Saber mobilizar”, é entender e saber utilizar diferentes formas de recursos (financeiros, humanos, informações), buscar parcerias e integrá-las ao negócio.

3- “Saber comunicar”, significa conhecer a linguagem dos negócios e dos mercados, saber ouvir e comunicar-se eficientemente.

4- “Saber aprender”, é criar uma cultura organizacional, os sistemas e mecanismos requeridos para a aprendizagem.

5- “Saber assumir responsabilidades”, significa saber avaliar as consequências das decisões, tanto no plano interno da empresa quanto no nível externo da sociedade.

6- “Ter visão estratégica”, significa conhecer e entender profundamente o negócio da organização e seu ambiente, identificando vantagens competitivas e oportunidades.

Se ao provocar o leitor conseguir contemplar esses saberes, não terei uma leitura obrigatória, outrossim, uma leitura necessária a formação do individuo estimulada por propósitos. Para tanto se faz necessários um planejar estratégico, pois se não cumpro a lição de casa proposta pela vida no cotidiano, e deixo o viver a deriva da sorte, certamente não terei condições tão pouco de compreender o Funk que está sendo ouvido, teremos um jovem alienado a sons e ritmos que percorrem e provocam incertezas, serão reféns do desconhecido, e viverão atados a reclames infundamentados, e muitas vezes debruçar-se-ão como reféns da não oportunidades. A esses a leitura de todo o mundo será obrigatória, chata, descontextualizada.

Paulo Sergio Barbosa
Enviado por Paulo Sergio Barbosa em 06/03/2021
Código do texto: T7200279
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