A Vida num filme
 

Os filmes produzidos quadro a quadro, nos quais se percebem mínimas diferenças entre dois quadros consecutivos, são um conjunto de fotos tiradas a uma grande velocidade de forma a espelhar momentos quase imediatamente sucessivos, mas individualmente estáticos, de uma cena qualquer.
 

Portanto, ocorre um movimento, entre um quadro e outro, que não pode ser fotografado, mesmo que os disparos fotográficos sejam feitos a altíssima velocidade. Quanto maior a velocidade dos disparos, mais curtos são os movimentos não captados pela filmadora e melhor é a qualidade da imagem da cena projetada.


O movimento ininterrupto percebido pelos espectadores de um filme desses, é uma ilusão visual causada pela velocidade da projeção e pela incapacidade de nossa visão perceber os intervalos vazios ou a falta das imagens não fotografadas. Se projetado em baixa velocidade, o fluxo contínuo percebido pela visão da cena seria transformado num fluxo intermitente, com uma percepção visual estática de cada quadro consecutivo.
 

A moderna tecnologia, usando outros processos, baseia-se no mesmo princípio: a ilusão de ótica. Uma foto digital, por exemplo, é um conjunto de pontos (pixels) que, quanto menores e mais próximos estiverem uns dos outros, maior é a sensação de nitidez. Mas, os espaços entre eles nunca deixam de existir, embora nossa visão não os perceba. Nos vídeos digitais, o movimento é igualmente ilusório, pois ele é uma sequência de fotos digitais individuais, fotografadas e projetadas em alta velocidade. 


Nos filmes e nos vídeos digitais, em que os movimentos são captados quadro a quadro, as mudanças não fotografadas da cena real acontecem exatamente nos intervalos vazios não reproduzidos pela filmadora. Estes intervalos diminuem à medida que a velocidade da filmadora seja maior, mas sempre existirão, pois nunca poderão ser captados pela sequência de fotos, por mais velozes que sejam os disparos fotográficos da filmadora. As filmadoras, analógicas ou digitais, não captam mudanças, captam imagens inertes; não captam movimentos, captam instantes.
 

Somente uma velocidade infinita de disparos fotográficos - o que não pode ocorrer no plano do tempo-espaço – poderia eliminar os intervalos não captados, mostrando a cena completa, o movimento em si mesmo. Uma velocidade infinita ocorreria se o registro da cena fosse tão rápido que o tempo total dos disparos fosse igual a zero, 


Ou seja, para que a velocidade fosse infinita e a cena pudesse ser captada pela filmadora como movimentos e não como momentos estáticos, a sequência de disparos deveria ocorrer na dimensão do não tempo, do Agora absoluto(1)
 

Em resumo, nos filmes existem apenas instantes (estáticos) - os instantes inertes registrados e visualizados em cada quadro. As mudanças (dinâmicas) ocorrem nos intervalos vazios - entre um quadro e outro do filme - que não foram registrados. Mas, ao assistir a um filme, nossos sentidos não são capazes de perceber essas lacunas onde efetivamente ocorrem as mudanças.


No mundo manifestado do Universo, os movimentos ocorrem como num filme. As mudanças - os movimentos no espaço físico e psíquico, as criações, o crescimento, o amadurecimento e o envelhecimento de toda a existência física, biológica e psíquica ocorrem sempre em um “intervalo vazio de não tempo” que chamamos de “Agora”.
 

O passado imediato é o quadro anterior do filme, já captado pelos sentidos e reproduzido pela memória imediata; o futuro imediato é o quadro posterior do filme, ainda a ser captado e reproduzido. O presente é o instante infinito, não captado pela “câmara da linha do tempo”, onde todas as mudanças ocorrem; uma dimensão não mensurável com os critérios de nossos sentidos.


As mudanças brotam de uma dimensão de não tempo, não perceptível pelos sentidos humanos. O que nossos sentidos percebem são os momentos estáticos sucessivos da linha do tempo resultantes de incessantes e velocíssimas mudanças ocorridas na dimensão do não tempo. Mas a frequência com que este fenômeno acontece é tão alta, que, aos nossos sentidos, a vida flui num continuum sem qualquer alternância, como nos filmes.
 

Assim, as mudanças que ocorrem em nossas vidas e em todo o Universo manifestado são uma sucessão de saltos quânticos (tempo/não tempo) de altíssima frequência, não captados pelos nossos sentidos limitados.


O campo das possibilidades quânticas infinitas está disponível no Agora infinito, a dimensão do não tempo que nossos sentidos não registram. O que observamos é apenas o que emerge deste campo de possibilidades, no polo instantâneo e perceptível da alternância cósmica (tempo/não tempo), aquele em que o tempo assume seu papel no teatro da manifestação.
 

A linha do tempo, portanto, pode ser vista como um filme, onde aparecem apenas os quadros que nossos sentidos podem registrar, mas que nos dão a impressão de continuidade ininterrupta, pela altíssima frequência das ondas “tempo-não tempo”. As mudanças entre os quadros sucessivos da linha do tempo ocorrem quanticamente na dimensão sutil do não tempo, no Agora.


Controlar a manifestação de uma possibilidade que flui através da pulsação quântica tempo-não tempo, dela emergindo para o mundo manifestado, requer uma intenção materializante de alta frequência vibratória, compatível com a velocidade da pulsação quântica do Universo, compatível com a frequência dos planos superiores do espírito.

 

Assim, para se manifestar como realidade no plano do tempo-espaço, uma intenção de mudanças deve ser ancorada no fluxo de Luz que emerge do Eu Superior no ego nele sintonizado. Deve ter como pressupostos, os atributos do espírito: Amor, Sabedoria e Vontade, cujas altíssimas frequências vibratórias a tornem capaz de penetrar os intervalos de não tempo do filme da vida, os bastidores onde todas as cenas da existência são preparadas.


Então, o que as pessoas menos conscientes chamarão de sorte, coincidência ou milagre será a realização de uma intenção que pela sintonia vibratória com o mundo espiritual conseguiu penetrar o Agora infinito e influenciar a materialização de uma possibilidade no plano do tempo-espaço.
 

O ego, quando vibra em baixa frequência, não consegue penetrar o Agora infinito, vagando, então, entre o passado e o futuro, ilusões de existência de onde emanam todos os ressentimentos, culpas, medos, fantasias e doenças, pela carência dos Atributos do Espírito (2), cujo acesso se dá através do Agora.  


O Vigilante (3), habitante da fronteira ego/Eu Superior, quando incorporado pelo ego graças à observação permanente que dele faz, tornando-o consciente, eleva sua frequência vibratória, dando a ele acesso ao Agora e fazendo dele um Ser cocriador com Deus, a razão maior de sua existência.   

 

 

(1) Veja ensaio do autor neste RL: “Quando é o Agora? ”
(2) Veja ensaio do autor neste RL: “A Viagem da Existência”
(3) Veja ensaio do autor neste RL: “A Entidade da Fronteira”