ISSO NÃO É VIRTUDE MEU CHAPA!
Diga não às “carteteiradas da fé”
*Por Antônio F. Bispo
Ao contrário do que muitos crédulos tentam indiscretamente impor, a crença em deus não torna ninguém especial!
Ninguém vira anjo ou filho de deus por nele crê, nem demônio ou servo deste pela descrença. A crença em deus não é uma virtude, não constrói caráter, não é sinônimo de credibilidade, não transforma um “pecador” em uma pessoa salva e não tão pouco é um dom, apesar de a própria bíblia afirmar ser.
Alguém no passado apelando por credibilidade em sua própria crença, escreveu em seus escritos que a fé deus era um dom especial que tornaria o crédulo em um ser distinto entre os demais. Esse é sem dúvida um dos princípios da eugenia, que faz com que um povo ou grupo se ache superior todos os outros por essa tal eleição divina por meio da fé, passando a perseguir, menosprezar ou massacras a todos que não sirvam ao “deus verdadeiro” como eles dizem servir.
Nas conquistas da Américas e África por exemplo, populações inteiras foram dizimadas sobre essa premissa! Os cristãos julgavam que negros e índios não tinham alma e que por isso podiam ser escravizados, torturados e mortos aos montões. Além disso, eram pagãos, serviam ao deus falso e por isso era justificável que sofressem para pagar por tal erro. Na bíblia há inúmeras passagens do próprio “deus mandando” destruir nações inteiras de “pagãos e pecadores” por esse crime bárbaro, que era adorar a outro deus, mesmo ele dizendo ser o único e que fora dele não havia outro. Um bom crente segue a bíblia, não é mesmo?
Acreditar que foi realmente deus, um ser divino, cheio de luz, paz amor e harmonia que mandou escrever ou fazer todas essas barbaridades é entrar em choque com a própria crença na ideia do sagrado.
Deus nenhum nunca foi visto publicamente dando nenhum tipo de ordem e todos os que o fizeram, escreveram por conta própria, para propósitos específicos. A confirmação de fé pública vem do próprio autor e de outros crédulos ao longo do tempo. Apenas fé por fé e nada mais. No passado, esse tipo de atitude poderia ser vista de outra forma. Nos dias de hoje isso soaria como: “É VERDADE ESSE BILETE”!
Em algumas regiões do país e até do planeta, é sabido que de certa forma, crédulos dão mercadorias, serviços e assistência social a necessitados em troca de uma confissão pública de fé.
Aquilo que poderia ser feito de forma livre e altruísta tem sido feito como moeda de trocas para expansões das multinacionais no comércio da fé em todo o globo.
Catequizar, evangelizar, discipular, fazer missões...não importa o nome: quando por trás de qualquer ajuda humanitária ofertada, o recebedor é obrigado a ouvir sermões religiosos ou aceitar algum tipo de salvador virtual (ou físico) para continuar recebendo tal assistência, isso é apenas chantagem disfarçada de boas obras. Atitudes de gente maligna, pois quando encontram resistência na propagação de suas crenças, além de cortar os favores prestados, são capazes de bloquear favores vindos de outras fontes só por vingança.
Até nas mídias sociais de vez em quando aparece algum magnata da fé pedindo sanções a determinada marca ou incentivando seus fiéis a não comprarem produtos ou serviços de tais empresas, alegando defender a honra, a moral e os bons costumes, quando na verdade estão apenas tentando demarcar territórios e impor sobre toda sociedade a influência que deveria ser apenas para os de sua igreja. Quando não reagimos, eles conseguem o que querem!
Em hipótese alguma você submeter-se a “carteiradas de crentes” principalmente quando os tais querem atestar uma integridade moral baseada apenas na fé que professam e não na integridade de seus propósitos e ações.
A verdade que eles pregam valem apenas para os dos seus grupos ou para quem mesmo estando fora, desejar submeter-se a tais sanções. Ninguém que por livre e espontânea vontade tenha se filiado a uma igreja deve sujeitar-se a crenças ou costumes destas, nem tão pouco receber corretivos de liderança religiosa nenhuma!
Para esse fim existe a constituição e todos os sistemas de leis municipais, estaduais e federais quais os cidadãos estejam inseridos. Se existe uma “lei de deus”, que ela seja aplicada aos que a ela se submetem. Todas as leis são humanas, feitas por homens, para os homens e serão usadas contra ou em favor dos homens. Ainda que estejam escritas em “livros sagradas”, elas foram escritas por meros mortais e depois atribuídas aos deuses.
Quando pessoalmente os deuses forem visto revelando-se de forma inteligível para todos os povos de uma só vez sem nenhum atravessador, lunático ou picareta espertalhão, ai sim, de forma unanime todos poderão declarar sua rejeição ou aceitação a tal entidade. Até lá, é opcional sujeitar-se ou não a tais fantasias.
Do mesmo modo que negros americanos dos anos 70 se rebelaram contra a segregação feita pelos brancos (em sua maioria cristã), e passaram a ver-se de igual para igual em relação aos seus opressores, qualquer um que atualmente sentindo-se intimidado, diminuídos ou constrangido por crédulos fanáticos em locais públicos ou no sossego de suas residências, forem interpelados pelos tais, poderão reagir exigindo respeito ou poderão tomar outras atitudes dentro da lei quando forem diretamente afrontados.
Os transportes públicos são os locais mais comum que esse tipo de gente costuma agir, metendo o dedo em sua cara, profetizando maldições em sua vida e falando contigo como se você fosse um criminoso e ele um militar descontrolado interrogando um suspeito. Ninguém precisa passar por isso!
Quando eles não agem desse jeito, agem de uma forma mais sútil, culpando não crentes de todos os tipos pelas mazelas do mundo, afirmando que terremotos, furacões, epidemias, desgraças, fome e toda maldade do homem é porque alguns poucos que ainda mantem a sanidade e o respeito próprio, não creem em deus, não o adoram e nem se juntam a eles nesses rituais que profanam a sanidade humana. Até jornalista famoso, já atribui aos ateus em rede nacional a responsabilidade pelas mazelas da humanidade, como se ainda vivêssemos na idade média.
Desde que o mundo é mundo, que indivíduos ou grupos inteiros lutam pela liberdade e igualdade entre os povos, enquanto que outros tentam formar um exército de pessoas amedrontadas e servis sob a bandeira dos deuses a fim de tornar o mundo em um lugar sombrio. Aceitar isso de bom grado é um evidente sinal de retrocesso e desprezo por todos que morreram lutando nas conquistas pelos direitos universais do homem.
Fé é apenas uma crença e não sinônimo de pureza ou garantia de nobreza! Não importa se a pessoa crer e apenas um único deus ou em centenas de deuses. A quantidade não faz diferença, pois em nada isso atesta o caráter de ninguém!
Nenhum título eclesiástico torna ninguém melhor que ninguém, ainda que há milênios eles tentam a todo custo empurrar essa mentira goela a todos. Sea pela espada ou por outros meios coercitivos, os que agem assim demonstram apenas que são pessoas fracas e desonestas delinquentes, valendo-se de mecanismos psicológicos ou estatais para dominar ou explorar seus semelhantes. Que tipo de deus manda matar quem nele não crê? Que tipo de divindade traz penalidades aos que rejeitam seus emissário? Quem precisa de diabo quando o próprio deus faz o papel deste?
Se os deuses fossem reais e quisessem mesmo serem identificados, venerados e temidos, apareceriam de forma física, declarariam sem floreios seus objetivos, e acabariam de vez com as centenas de representatividade confusas, que os milhares de segmentos religioso em todo o mundo tenta representar.
Do mesmo modo, não há homens de deus e nem homens do diabo! Isso também é outro mito que deve ser desfeito. Não há ungidos do senhor, nem povo escolhido de deus e nem povo especial pelo fato de crerem nos deuses.
Há apenas pessoas! Pessoas humanas e mortais que sofrem, choram, sangram e morrem. Que são capazes de mentir e falar a verdade quando querem; de fazerem o bem ou cometerem o mal sob certas influencias ou propósitos.
Todos são iguais em matéria, em essência e em substancia, ainda que muitos acreditem que uma simples confissão pública de fé ou a crença em bíblia mofando em cima de uma estante os tornem especiais.
Mas não é! Uma crença é apenas crença e nada mais! Se uma igreja ou “povo de deus” é especial, todos os outros também o são, de todas as outras igrejas, culturas e religiões do planeta. Não há deus original, nem religião original, nem povo original. Todos são misturas, junções ou adjacências de outros. Isso vale para os três acima citado.
Para os que acreditam em deus, ele será real e irá assumir as formas das necessidades, ganancias, ignorância, ou paranoias destes que os invocam. Para quem não acredita, apenas um nome, coberto de sangue, barbárie, opressão ou esperança (para os de boa índole).
Desde os mais remotos tempos, a funções principais dos deuses tem sido a de servir como arma de defesa, ataque ou para terceirizar as reponsabilidade de seus idealizadores. Nada de real ou proveitoso, apenas de efeito especulativo sobre esse tipo de “bolsa de valores da fé”. Qualquer deus poder ter os valores de suas ações reduzidas ou multiplicadas de acordos com os que fazem cambistas.
Os líderes religiosos e os que vivem em torno desses, assim como fenômenos naturais não compreendido fazem com que as ações dos deuses subam de valores no mercado. Filósofos, teólogos independentes, antropólogos, historiadores e vários outros cientistas farão de quando em quando com que tais ações despenquem assustadoramente e os “investidores” façam aplicações em outros mercados, do tipo, tomar os rumos da própria vida e parar de ser trouxa.
A serventia dos deuses sempre será no campo virtual e somente para os “usuários do sistema” e ninguém mais! Suas utilidades estarão no campo do improvável, do inverossímil, do imprevisível e do passível qualquer interpretação! Nada justo, unanime ou concreto.
É justamente isso que faz com que um crédulo se ache especial em relação aos não crédulos: O FATO DELES NUNCA SE MANIFESTAREM EFETIVAMENTE!
Isso dá direito a qualquer fiel achar-se único e especial mesmo sendo um ordinário. Em outras palavras: “JESUS TE AMA POR QUE NÃO CONVIVE COM VOCÊ, POIS SE CONVIVESSE, JAMAIS TE AMARIA E NEM VOCÊ A ELE”!
Um ser real, presente, e efetivo jamais seria considerado um deus (ainda que tivesse todos os poderes que a eles atribuem) se interagisse com os homens. Toda a mágica seria perdida se eles aparecem e respondessem aos seus súditos. Diferente do que que o fiel pensa, se deus fosse real, jamais iria tratar os seus servos com termos carinhosos do tipo “bichinho de Jacó”, “amados do pai”, “noiva do cordeiro” e “escolhidos de deus”.
Ele seria como bons médicos, policiais honestos, juristas incorruptíveis e como simples lavradores semeando a terra.
Ao invés dessa melosidade toda imaginada pelos fieis, ele diria: CUIDE DE SUA SAÚDE! CUIDE DE SUA VIDA! TENTE NÃO SE METER EM PROBLEMAS! SEJA RESPONSAVEIS PELOS SEUS ATOS! TUDO O QUE VOCÊ PLANTAR COLHERÁ!
Pronto! Que serventia teria um deus que responde de forma direta e eficaz? Quem se submeteria a um deus assim? Ninguém, obviamente! Todos os deuses, de todos os tempos seriam massacrados, desprezados e humilhados pois revelaria ao homem a sua verdadeira face e não é isso que um fiel deseja.
Um crédulo, mesmo sendo desonesto, trapaceiro, mentiroso, estuprador, aliciador de menores e possuidor de todos os tipos de males, imagina-se especial diante de deus, e que este o perdoará apesar de tudo. Que absurdo!
A bíblia também dá margem para esse tipo de interpretação, pois quem já leu a bíblia de forma neutra, perceberá que os heróis da fé, são justamente as criaturas mais perversas, manipuladoras ou de caráter mais duvidoso que a humanidade já produziu.
A crença nos deuses é apenas uma fantasia para adultos do mesmo jeito que a crença em super-heróis infantis o é para uma criança!
Acreditar que deus, o deus bíblico, poderá salvar alguém de seus “pecados”, ou que tem um lugar especial para alguém só por que o bendisse, tem tanta serventia quanto pensar que o Clarc Kent vai te salvar de um prédio em chamas se você estiver em um.
v O que faz com que o deus bíblico e outros deuses sejam “verdadeiros” é o tempo que eles subsistem na cultura popular, ainda que tenham perdido sua essência inicial ou que sua imagem de hoje seja totalmente o oposto ao que era antes.
Se guerras sucessivas também dizimasse parte da população atual; Se fomes, secas severas e outros fenômenos climáticos espalhassem mundo à fora o que restou da humanidade depois de um cataclismo; Se todos os escritores, médicos, engenheiros e outros cientistas também fossem mortos em um curto espaço de tempo, a humanidade seria reduzida outra vez a idade da pedra. Sem referência histórica ou sem as tecnologias que horas dispomos, as próximas gerações viveriam sem conhecer suas origens ou as causas de serem quem se tornaram.
Se no futuro alguém achasse malotes inteiros de quadrinhos e filmes de heróis da Marvel por exemplo, essas pessoas diriam que estes eram deuses do passado e que a quantidade de escritos provariam tal afirmação.
Crer em deuses do passado ou de outras culturas também não faz diferença alguma! Isso também não torna ninguém especial ou mais inteligente em relação aos demais.
Ao crer em uma divindade ou ao juntar-se a grupos religiosos, possa ser que a pessoa se torne melhor para si mesma, melhor do que ela fora um dia anterior. Possa ser que ela se torne melhor para sua família. Possa ser que a sua convivência social se torne mais tolerável, possa ser que ela respeite mais os animais e o meio ambiente...Mas isso não foi a fé quem fez tal mudança, nem deus, nem santo algum. Foi apenas um despertar de consciência ou percepção de que poderia perder algo ou alguém se não mudasse os rumos de sua vida.
Possa ser que um trauma ou a contemplação de uma tragédia a tenha feito mudar também nesses casos. Isso pode acontecer com qualquer pessoa de qualquer lugar independente de fé e religião.
A vezes um corretivo da polícia, dos sistemas de leis de um país ou dos próprios genitores quando ainda em tempo, terá sobre o indivíduo um poder de mudança ainda maior e mais rápido nesses casos de desvio de conduta, perturbação da paz, ou apropriação indébita dos bens alheios do que deuses e religiões não poderia fazer em milênios.
CONTINUA...
Texto escrito em 27/2/21.
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.