Ensaio sobre a Cegueira 2 (uma homenagem)
Era um domingo. O mundo todo, ou quase, dormiu até tarde. Lentidão para levantar, tomar um café reforçado depois das 10 da manhã e pensar vagarosamente em fazer o almoço em família. Um almoço depois das 2 da tarde. Nada de interessante na tv, as ruas meios vazias, alguns se preparando pra ir na casa dos familiares. Um dia que o mundo todo, ou quase, estava bem tranquilo e em casa.
Por volta das 2, ouviu-se um estrondo muito grande. Muitas luzes no céu, todos saindo de suas casas para ver o que estava acontecendo.
Luzes dançando, tomando formas humanas. Anjos, anjos descendo dos céus. Um milagre? O fim do mundo? Anjos tocando trombetas, dezenas, centenas, milhares deles.
E por fim, Deus. Sim, aquele Deus bíblico, um velhinho de barba branca, como Zeus ou Júpiter.
Veio descendo dos céus com um cara de brabo, falando: “Chega, meus filhos. Eu os criei, dei a cada um o dom da vida, mas vocês ainda não sabem conviver uns com os outros. Vocês precisam de um castigo, como fazem com seus filhos, para que entendam seus erros e possam corrigi-los. Vocês brigam por tudo, não entendo. Tem terra e comida para todos, mas vocês não querem a paz, vocês adoram uma briga. Vou começar o castigo pelo que eu acho mais bizarro em vocês. Vocês brigam pela cor da pele. Como assim? Vocês são todos iguais, mas tem cores diferentes. Então como castigo inicial, vou deixá-los todos cegos. Assim não conseguirão saber a cor dos outros, nem a sua própria.˜