ÊXTASE E AUTO-GLORIFICAÇÃO

21 de abril de 2009

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Voltando à metáfora das ondas do mar revolto, pode-se dizer que a ola arrebenta quando aquele mundo d’água atinge um ponto crítico: não pode segurar mais o seu ímpeto, e se lança contra a praia, os arrecifes, as rochas. Eu sofro desse processo com uma frequência incomum, eu rompo com as pessoas. E em muitos casos me esqueço, pouco tempo depois, do real motivo da briga. Não era a briga, o em-si, a baixeza da pessoa, a motivação para as altercações ou quiçá a agressão física, o ridículo de um barraco em público. Poderia, sem medo de ser tachado de covarde, me referir a esses instantes como pretextos. A essência do indivíduo me incomoda tanto que eu espero a oportunidade, a brecha... e ela sempre surge, a imundície sempre vem à tona. Não executei nada de caso pensado, mas a forma como isso vem acontecendo permite que eu elogie meu temperamento explosivo com os adjetivos “frio” e “calculista”: se eu meditasse por mil anos, teria feito exatamente a mesma coisa. Na noite passada, essa ruptura com as pessoas com quem me encontrava me possibilitou dum golpe só me livrar de inúmeros inconvenientes, como oferecer a casa para hóspedes que, nesse ponto, considero não mais que semi-desconhecidos. Isso também me deixou livre para caminhar e monologar (o que é muito melhor que entabular conversa mole com fracos das pernas!) (...) É como se num golpe de astúcia tirado do fundo da cartola (coroa?) o príncipe se visse liberto de tudo o que o ameaça, por ora...

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Que aqueles circunscritos a quem você quer punir de verdade paguem, sim senhor, o preço por estarem na hora e no lugar errados!

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O engraçado é que eu vivo minha teoria. Os imbecis das ciências sociais não sabem o que fazem, vivem à deriva. Viver o que eu estudo é o único estímulo restante, o que faz da vida de universitário algo suportável, de modo que não largue tudo e vá ser, sei lá, um serial killer!

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nunca ajo de modo escapista, como uma Alice e seu ácido.

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a estranha tendência de haver “profetas” na História. Menos pelo talento ou dom do próprio enunciador de um futuro e mais pela capacidade de uma personagem desse mesmo futuro moldar a sua maneira a vida, de forma que se torne exatamente aquilo que leu, e encarne a descrição do que “necessariamente há de acontecer”.

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A cena do santo epiléptico que perdia a razão devido aos pecados incessantes dos homens e a incapacidade de apreender seus corações era permeada de detalhes que se repetiram sem falhas na tragédia-realidade nietzschiana.

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A cena da ruptura da noite de ontem (...) me evoca a última gesta de Zaratustra no livro-poesia de Nietzsche. (...) Zaratustra, essa mistura de eremita com tirano redentor, sou eu. Depois de suportar a companhia de inferiores como se fosse um camelo resignado no deserto, isto é, depois de abrigar todos os governantes que foram de estatuto nobre no passado e que estão no seu ocaso, ofertando-lhes vinho, deleite e conversas agradáveis na sua ampla caverna, Zaratustra pede licença, sai de seus aposentados e se depara com o leão. Zaratustra fala com os animais. Não ordena explicitamente que destroce seus hóspedes, mas exorta a fera a entrar, pois é bem-vinda em seu lar. Acaricia sua juba imponente. Sua atitude astuciosa só lhe vem à mente depois que o rei das selvas já sumiu de sua vista, para dentro da gruta apinhada de gente: havia sido ato arbitrário, “crime inconsciente”, um arrebato divino, um relâmpago que atravessou seus nervos e nada mais! Se pensasse por mil dias, teria feito o mesmo. Não há pusilanimidade nas ações de Zaratustra, meus caros: apenas não há virtude! Mas há honra. (...) Aquele que quer algo mais impõe a jogada mirabolante que ninguém no tabuleiro pode retribuir, ainda que eventualmente a possa prever. A jogada fatal, que subjuga sem resistência. Maucaratismo, não! Golpe de mestre, sim! Até o vinho da caverna do poema lá estava, na noite candanga (transfigurado em conhaques e vodcas)! Eu reprisei a epopeia. Porque ao longo dos últimos anos forcei minha rotina a acompanhar o movimento simbólico daquele sábio. (...) Depois de relegar os convidados às dentadas, Zaratustra parte enfim para novas peregrinações, e dele não tivemos mais notícias. O que reserva o destino à ponte para o além-homem?

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E claro! Grandes livros virão, quanto a isso não há sombra de dúvida. [!] Se puderem ser paridos sem tanta enxaqueca eu agradeceria... [!!] E eu gostaria de viajar pela Itália, respirar o ar veneziano, sentir a atmosfera florentina, rever, caso ainda exista (rever porque já a vi, num momento que não posso mais resgatar!), a pedra pontiaguda à beira do lago em Sils-Maria. Se sonho muito alto, quem sabe me contente com nossa Itália sul-americana, a Argentina! [!!!] Não seria nada mal, na mesma toada, acompanhar algumas óperas: [!!!!] ambiente decadente, mas desfrutável.

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a espiral segue, incrivelmente!