Chip divino.

Quando eu nasci veio um anjo safado, disse Chico Buarque.
Sim, o anjo me perseguiria vida a fora me dando rasteiras, debochando e gargalhando das minhas derrotas. Nada foi fácil, nada veio de graça, não sei se hoje estaria aqui se não fosse a capacidade de recomeçar.
É que para compensar o anjo/demo, Deus colocou em mim o mesmo chip com que dotou todos os seres humanos da Sua Criação, o chip do esquecimento dos males e dos pesares.
Todos temos a mesma sensação que no passado a vida era melhor, como gostam de dizer suspirando os velhos e alguns não tão velhos assim.
Não era não, é preciso fazer um esforço para lembrar os sofrimentos daquela época que parecia tão dourada, porque o chip está ali para fazer esse papel, limpar a alma dos empecilhos que nos deixariam paralisados e deixar as boas, suaves e alegres recordações para que possamos recomeçar, e de novo, e de novo, até o dia da retirada final da alma, ora transformada em espírito imortal, para a pátria espiritual, sua verdadeira morada, no lugar onde a dor não existe mais e poderemos planar sobre as flores que deixamos durante a caminhada terrestre.

Jeanne Geyer

Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo o que eu vejo
A dor vai curar essas lástimas
O soro tem gosto de lágrimas
As flores tem cheiro de morte
A dor vai fechar esses cortes
Flores, flores
As flores de plástico não morrem
Flores, flores - Titãs.
Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 07/02/2021
Código do texto: T7178789
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