Psicografias: dá para acreditar?

Mesmo quem não seja ou nunca tenha sido espírita tem um vago entendimento do que sejam as psicografias, isto é, os textos que os desencarnados escrevem depois de mortos e ditam para os médiuns os transcreverem. Quem nunca ouviu falar dos textos psicografados por Chico Xavier ou Zíbia Gasparetto? Em muitas sessões espíritas, são lidos trechos de cartas psicografadas pelos médiuns para os familiares de quem morreu. Além disso, também se diz que autores e artistas famosos como Humberto de Campos e John Lennon teriam escrito trabalhos mesmo depois de mortos.

Entretanto, muitos são os que duvidam da veracidade das psicografias porque, segundo eles, o tipo de escrita dos autores desencarnados muda drasticamente depois que eles morreram. Um escritor que observa esse fato é Ricardo Kelmer, na crônica Pesadelos do Além*. Segundo Kelmer, após analisar uma letra de música que teria sido escrita pelo espírito de John Lennon, é quase impossível de acreditar que John Lennon tenha sido o autor de tal texto. E Kelmer não é o único a observar tal fato. Muita gente já observou que é muito estranho que espíritos que teriam sido grandes escritores tenham passado a escrever textos de baixa qualidade, piegas e cheios de beatitudes. Um exemplo é Gilberto Freyre, de Casa Grande & Senzala. Quem leu sua obra mais famosa irá se surpreender ao ler qualquer romance que se diz ter sido escrito por ele após a morte: parecem romances água com açúcar para moças românticas. Ninguém que conheça o estilo de Freyre acreditará que sua escrita tenha mudado tanto.

Kelmer, na sua crônica, também fala de uma estranha carta psicografada da autoria de uma moça chamada Magali. Segundo as palavras do próprio escritor, Magali era ateia, jamais pisara numa igreja, sendo também uma pessoa de péssimo caráter e com pouco estudo e, antes de morrer, havia tentado matar a irmã. Por que se está falando isso? Porque, pouco após sua morte, sua família, em sessão num centro espírita, ouviu o médium falar em voz alta uma carta que teria sido escrita por Magali. A carta era assim: “Queridos paizinhos, amada irmãzinha, que a Graça de Deus e Nosso Senhor Jesus Cristo ilumine vossos corações...”.

Kelmer parece ter conhecido bem essa Magali para dizer que soa muito estranho que, tão pouco tempo depois de morrer, tenha se operado nela uma mudança tão profunda. Como alguém que em vida foi tão mau caráter – de acordo com ele, ela tentara decapitar a irmã - e não tinha estudo suficiente de repente se transforma assim, passando inclusive a se expressar num português tão correto?

Outro detalhe a acrescentar é que, pela própria doutrina espírita, quem tem muitos pecados passa pelo umbral, que é como se fosse um purgatório e, muitas vezes, por um hospital. Quem assistiu a Nosso Lar, que mostra a vida nas colônias espirituais, com certeza sabe sobre o que este texto está falando. Assim, como Magali teria mudado em tão pouco tempo sem passar antes pelo umbral? Talvez uma semana aqui seja o equivalente a vários anos no mundo espiritual.

Então, fica a pergunta: dá para acreditarmos nas psicografias?

• Do livro Memórias de um excomungado