DESENCANTO E REENCANTO DO MUNDO
Originalmente publicado em 22 de janeiro de 2009
Lendo CartaCapital e a matéria sobre o barulho crescente de São Paulo e juntando isso com o Necrose de Edgar Morin eu cheguei a um importante insight: contrariando – ou, antes, solvendo a dúvida da – minha nota prévia (abaixo) sobre o horror nuclear, o grande fenômeno que parece demarcar o início da derrocada do Ocidente e que sucede imediatamente o ponto máximo da era fabril é mesmo a Segunda Guerra Mundial. Agosto de 1944, para ser mais exato. Neste momento os embriões congelados das criaturas e coisas trágicas começam a fermentar. Este é meu procurado “turning point” da transmutação de todos os valores. É a este momento de sangue semita-japonês que Nietzsche se referia com garbo meio século antes. Apesar de índices enganadores como o neoliberalismo pujante dos anos 80-90, isto já é decadência, pois o fôlego dos Estados representou a espoliação das massas, assim como o poderio soviético nos anos 50-60 é a demonstração de que a assim chamada cultura moderna não consegue sustentar seus ideais, embarca com fé numa nova solução, uma resposta para a crise, a qual irá tombar.
A Liberdade, dilema sempre central – cuja apoteose se deu na Revolução Francesa, durante a qual o homem estava no ponto-médio entre o servilismo feudal e a escravidão humanitário-democrática (julgando-se vitorioso sobre a primeira condição e ignorante da segunda) –, chegou ao paroxismo da sua auto-destruição com vistas a tornar-se soberana: abdiquemos de nossa liberdade individual, como autores de escolhas, e sacrifiquemos o czar, defensor de uma liberdade antiga e ultrapassada, para que as vozes sábias do Partido Comunista nos ordenem como há de ser daqui em diante, sem Deus. Esse era o teor do discurso, se pudéssemos ter ouvido francamente.
É conhecido o cenário vigente de proto-deuses que ainda concorrem para tomar o lugar da falida deidade cristã, do envelhecimento e pacificação da população, da desertificação, da mentira do crédito e da busca pela vivência alternativa, seja ainda parcialmente consumista ou radicalmente eremita, mas sempre mais “Gaia”. A aceleração que é ininterrupta ao expectador é aparência. Não existe expectador, todos estão do lado de dentro do trem-bala. Talvez por isso não percebam, mas a sensação de velocidade se intensifica não porque os trilhos sejam percorridos mais rapidamente, mas porque as edificações do último milênio vão desabando em ruínas como nunca antes. Se Guy Debord soubesse que seu retrato não passa de aparência...
Este escrito é de alguém lúcido, no olho do furacão. Minha única ressalva é: não admito a ingenuidade de que novas catástrofes não ocorrerão e que a transição será tranqüila – vide proliferação nuclear entre nações do Terceiro Mundo. Intentei apenas descrever qual momento histórico era o ápice da contradição, entre tantos episódios, passados e vindouros.
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Escrevi em 7 de dezembro (com reformulações na data presente para tornar o manuscrito acessível):
Terão sido as Guerras Mundiais e a Guerra Fria – o século XX – o estopim do processo de loucura niilista por que perpassa a humanidade, ou a a-humanidade, o ocidente decadente? Teremos a tranqüilidade de dizer que doravante o anel exibe sua curva ascensional rumo à idade de ouro trágica? Ou é necessário mais um esforço, um empenho sublime, um contagiante acesso de fúria, uma alta da maré tanto mais feroz para nosso século quanto o que a onda nazista representou para o rochedo outrora tão vacilante, inconsistente? Este, o rochedo da capacidade de assombro humano – o que hoje nos assombraria, para além de duas nuvens de cogumelo? O que será isso, ó Mãe-Natureza? De uma coisa tem-se a certeza: não existe fim de mundo, ou fim da História...
“No princípio, era a ação!” Wolfgang von Goethe
“O sociólogo precisa entender o que é apurar necessidades. Eu trato do que é inevitável a longo alcance.” O Autor
“Existem pessoas centrípetas e centrífugas. Algumas empobrecem sua essência ao longo da vida, dissipam suas energias. Eu reúno o gasto sem propósito ao meu redor para realizar meus projetos” O Autor