QUANDO O POSTE É QUEM MIJA NO CACHORRO...

*Por Antônio F. Bispo

Outro dia estava vendo uma entrevista de um antigo programa de TV e não pude deixar de notar algo que considero o cúmulo do absurdo, mas que de que de tão costumeiro quase ninguém nota.

Nessa entrevista jornalistas faziam perguntas a um artista que na ocasião estava ganhando projeção e ele as respondia de modo firme, com palavras próprias, sem precisar recorrer a frases prontas ou de efeitos como alguns costumam fazer para impressionar, parecer culto ou socialmente amigável. Essa era inclusive a característica que o fizera ganhar relevância: sua personalidade própria e sua capacidade de ver o mundo com outros olhos e retratá-lo em sua arte, de modo que impactasse quem a consumisse.

Este rapaz nascera e crescera em um lugar muito pobre e agora com fama e fortuna, usava parte de seu dinheiro para ajudar comunidades carentes e instituições filantrópica diversas.

No meio da entrevista, um dos jornalistas perguntou-lhe sobre espiritualidade, como ele a encarava. Nessa hora, sua resposta não soou tão segura quanto nas outras ocasiões. Ele afirmou que apesar de “falho e pecador” se sentia amado por deus, pois conhecia um pastor evangélico e que entregava com frequência o dízimo em sua igreja e que mesmo não sendo crente, o pastor dizia que o amava, e que jesus o amava também, por isso ele se sentia amado por deus.

Ele poderia dizer que estava de consciência tranquila por que empregava parte de seus recursos para promover o bem estar dos menos favorecidos, que estava procurando ser uma pessoa melhor e que não esperava o poder público fazer aquilo que estava em seu alcance. Mas ele disse que estava sossegado por que deus o amava pela “transação comercial” que ele tinha com aquele que se dizia ser o seu representante. Praticamente ele pagava para ser “amado” por deus.

O líder religioso qual ele se referia parecia ser uma mistura de tipos que é capaz de vender um caroço de “feijão mágico” por 1 mil reais; de pedir uma “oferta simbólica” de 900,00 por uma bíblia comum; ou do tipo que faz dos rituais de culto um verdadeiro bazar de bugigangas ungidas para financiar algum “projeto divino”, desses que todos os dias “deus ordena” que éça mais dinheiro de diferentes formas nessas igrejas “fast track”.

Vejam que disparidade de caráter: o sujeito que empregava parte de seu faturamento em prol de ajudar os mais necessitados, estava se sentindo um miserável, um inútil, um imprestável e pecador diante do “homem de deus”, cuja fonte de sustento, ostentação e luxo provinha justamente do comércio da fé e que fazia isso com a maior naturalidade do mundo, sem culpa e sem remorso algum!

Aquele que deveria ser o representante do evangelho (segundo o conceito neotestamentário) era o fariseu, o hipócrita e pecador e que apesar de tudo se achava o justo, enquanto o que “pagava para se sentir amado por deus” se aproximava daquilo que os evangelhos intentavam mostrar. Me digam se isso não é o símbolo do poste mijando no cachorro? Se não é o cumulo do absurdo?

Pois é... situações como essas não são tão raras de se ver. Elas acontecem todos os dias e nem notamos, pois, as tradições culturais as quais estamos inseridos, faz com que há milênios pessoas que em certos casos “valem menos que uma capa de fumo”, sejam vistas como referência e modelo social, só por que portam títulos de santidade.

De modo geral, as pessoas carregam consigo um sentimento de culpa, de fracasso, de podridão, de vergonha e inferioridade mesmo quando são pessoas de boa índole só por que as tradições religiosas assim tem nos ensinado a ser. Nos ensinaram que devemos entregar o controle de nossas vidas e a nos submetermos a pessoas com caráter duvidoso ou sem caráter algum, só para sermos socialmente aceitos e chamados de gente boa. Isso é algo muito antigo e que só poderemos mudar se nos dermos conta de que isso existe e que está errado, que não deveria ser assim.

Era comum no passado que as pessoas comuns quando falavam com autoridades religiosas nem sequer olhavam em seus olhos de tanta “santidade” que estas lideranças “possuíam”.

Em outros casos, o próprio religioso exigia que o indivíduo se prostasse ao chão, lhe beijasse as mãos e os pés ou se dirigisse ao seu porta-voz ao invés de falar diretamente a ele, para não se contaminar com uma “pessoa pecadora e comum”.

A maioria destes (líderes religiosos) eram inquisidores, facínoras, frequentadores de bordeis e usurpadores de terras e reinos inteiros, que exigiam serem chamados de vossa santidade e quem nãos o fizesse era excomungado, ou seja privado do direito de ir para os céus, de ser salvo no dia do suposto julgamento final. Em outras palavras, o líder religioso descida quem se salvaria ou seria condenado de acordo com o grau de submissão e contribuição financeira do indivíduo.

Pessoas vis, manipuladoras, preguiçosas, soberbas e arrogantes, condenando pessoas boas e decentes por pecados que nunca cometeram e em se quer existiam... O “pecado” do povo era apenas a pobreza e a ignorância, causada em grade parte, justamente por estes que arrotavam santidade o tempo todo, que extorquiam até o ultimo centavo do trabalhador, fazendo tudo isso em nome de deus.

É bem verdade que tanto no passado quanto no presente sempre teve pessoas com notáveis desvios de caráter no que diz respeito ao trato com os seus semelhantes, e ao fazerem doações constantes nas igrejas, eram e continuam sendo hipócritas o bastante para acreditarem que um erro cometido contra uma pessoa humana, comum, real e mortal poderá ser corrigido pagando aos “vigários de deus” (que significa substituto) para que o seu pecado seja amortizado pelas contribuições generosas e favores diversos.

Por outro lado, há um número bem maior de pessoas que possuem um nível de controle e conduta muito superior ao líder religioso qual estão sujeitas e mesmo assim, sentem-se indecentes, imundas e perdidas e pedem para serem guiadas por estes.

Elas estão confusas e crédulas o bastante para acharem que precisam financiar a própria salvação, pagando durante toda uma vida a estadia dentro de uma igreja, submetendo-se a todos os tipos de abusos praticados pelos seus líderes, nos quais podem estar inclusos abusos financeiros, de poder, moral e até sexual, tudo isso em nome de uma suposta salvação.

NINGUÉM PRECISA PASSAR POR ISSO!

Isso é pura bobagem! Pura mentira! Pura enganação! Pura tradição!

Não existe ungido ou representante de deus algum!

Todos os que se ungem, o fazem a si mesmo (ou são ungidos por outros do grupo) e todos eles representam apenas os próprios interesses ou os interesses das hierarquias que lhe constituiu essa tal de unção.

O pecado (segundo o modo religioso de ver) é apenas um meio de extorsão, que faz com que o homem se sinta um eterno devedor, e que será condenado por crimes que nunca cometeu. Já quando os cometem, sentem-se livres deles ao pagar uma certa quantia em uma igreja e fazer algum tipo de penitencia recomendada por um líder local.

Se realmente o pecado, esse reside no trato com as pessoas, no modo como as vemos, como deixamos que elas nos tratem, bem como no modo que deixamos que tratem de modo vil os menos favorecidos, ignorantes e indefesos. Nisso reside todo o pecado da humanidade.

Se pecamos, pecamos uns contra os outros e não contra deus algum! Ninguém peca contra deus. Segundo aquilo que sobre ele dizem, deus é incorruptível, nada poderia destruí-lo ou alterar seu estado natural de ser. O pecado é algo degenerativo, por ele (deus) ser incorruptível, nada o afetaria (segundo os próprios inventores do pecado).

Se há um modo de expiarmos os nossos pecados, esse modo reside na fórmula, na forma e na intenção de nossas interações pessoais seja com quem for.

Por meio da evolução de nossas relações expiaremos todos os pecados. Por meio das leis que construímos e no modo como as aplicamos. Pela busca da justiça e redução das desigualdades socias. É assim que expiamos o pecado do mundo e não pagando tributos as divindades ou se alongando em rituais de cultos insignificantes, repetitivos e imbecilizantes.

Não é dando dinheiro a pastor, padre, missionário, bispo, apóstolo ou qualquer outro fdp que sem apresentar projeto social algum, vive apenas em função de construir patrimônio próprio comercializando a fé que expiaremos os pecados do mundo, antes sim tornaremos ainda mais vil todas as nossas relações.

Me digam, pois, qual a lógica de você dever algo a um deus imortal e imaterial e quitar a sua dívida com um ser humano (líder religiosos) mortal, material e que na maioria dos casos é pior e mais “pecador” do que você?

Qual a lógica de um pai de família decente precisar temer, obedecer, bater continência e sujeitar-se a líderes religiosos só por causa de um título? Nem se fosse este uma pessoa justa ninguém teria obrigação de submeter-se tal tratamento, quanto mais que não são...

Qual a lógica de uma pessoa que paga seus impostos, que honra seus compromissos, que cuida bem de sua esposa e filhos, ainda ter de submetesse-se a alguns que agem como caloteiros, que não trabalham de modo digno, vivem apenas do comércio da fé e que mesmo “nadando em dinheiro”, não pagam impostos a união, deixam atrasar os aluguéis dos templos, fazem seus obreiros trabalharem de graça e ainda por cima só vivem envoltos em escândalos?

Isso não é mais ser ovelha, é SER BURRO mesmo!

Ninguém precisa ou deve passar por isso! Insistir que um “título divino” qualquer tornar uma pessoa superior a outrem, é antes de tudo, desconsiderar a LEI UNIVERSAL DOS DIREITOS DOS HOMENS e a constituição de diversas nações.

Essa ideia de que um cara (jesus) sofreu e morreu na cruz para nos libertar de nossos pecados e por isso estamos em dívida eterna com ele, é O MAIOR SÍMBOLO DA PICARETAGEM UNIVERSAL DE TODOS OS TEMPOS.

Qualquer um poder abrir uma igreja em qualquer lugar valendo-se desse artifício e exigir pedágio em nome dele como fazem os milicianos, cobrando por serviços que nunca foram prestados por eles, mas que pela ausência do estado e imposição da violência, faz de cidadãos livres eternos escravos.

Se devemos a ele (deus), que ele apareça e cobre pessoalmente aquilo que devemos. Coisas bem mais difíceis ele já fez e dizem que ele ainda faz...

Se por acaso ele houvera realmente sofrido e morrido por nós na cruz a fim de nos redimir (como dizem ter sido), toda essa agiotagem em seu nome estaria dispensada, afinal, ele pagou ou não pagou a nossa dívida?

Se a dívida está paga, por que esses agiotas querem eternamente 10% de tudo que ganhamos dizendo ser para devolver a ele? O que houve? Ele se arrependeu pelos serviços prestados e passou a cobrar depois? Outra coisa que nunca ficou clara: os que lhe rendem culto e tributos constantes, estão se livrando de sua ira ou da ira do diabo? Nunca ficou claro que é o vilão nesse teatro. Seria bom esclarecer...

Outro fato é que se ele veio morrer para nos salvar de nossos pecados, ao fazê-lo, ele estaria apenas corrigindo um “defeito de fabricação” causado por ele mesmo, já que ele nas pressas de criar todo o universo em apenas 6 dias e descansar no sétimo, acabou deixando sua obra defeituosa.

Nada mais justo então que concertá-la gratuitamente, não acham? Afinal, humanos “falhos e pecadores” fazem isso o tempo todo. Pena que não há um “PROCOM celestial” para alguém fazer uma contestação e denunciar o fabricante, provando que este não tem o direito de cobrar eternamente por um produto defeituoso, muito menos de autorizar que milhares de pessoas que agem como agiotas da fé o façam em seu lugar por dezenas de séculos à fio...

Toda revolta sadia é fruto de observações e comparações bem como do uso de nossas faculdades mentais por meio da lógica, da razão e da pura necessidade de evolução embutida em todos os seres vivos.

Nossas relações pessoas devem ser aprimoradas e nosso caráter moldado para o bem, por que isso é o mais inteligente a ser feito se quisermos continuar existindo nesse planeta, para que a civilização como a conhecemos não seja destruída e não para agradar divindade alguma.

É importante lembrar sempre que não devemos nada a divindade alguma e que também não há necessidade algum de nos sentirmos amados e aceitos por nenhum de seus representantes para estarmos de bem com a vida. Aprenda a se amar ao invés de esperar que outros o façam e parte de seus problemas já terá sido resolvido. Deixar de ser trouxa é uma declaração de amor próprio e só pode ser feito exclusivamente por você.

“Seja cabeça, e não cauda”!

Se essa frase bíblica tem algum tipo de serventia, que seja aplicada nesse quesito, no de acordar pra vida, de deixar de ser besta, de trabalhar para sustentar todos esses que vivem apenas do evangelho, sem nenhum projeto social válido, cujos atos de amor e altruísmos estão sempre atrelados as logo marcas de suas igrejas. Isso é apenas hipocrisia embalada em conceitos cristãos com intuitos nefastos. Você pode ser melhor que isso. Seu altruísmo pode ser real, sem esperar nada em troca. Sem medo de deuses, demônios, infernos e sem a preocupação besta de se sentir amado por um líder religioso.

Pensem nisso. REVEJAM SEUS CONCEITOS!

SAÚDE E SANIDADE A TODOS!

Texto escrito em 20/12/20

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 20/12/2020
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