Intervalo

“O que é o homem, para dele te lembrares?” – escreveu o Salmista. Há nessa vida importantes questões, que implicam mais do que o uso linguístico.

Saber que a obra é inútil, inoperante; e muito mais aquela que se não fará nunca; no entanto, pior é a obra que nunca foi feita. A obra feita é pobre, mas existe, ao menos, sob a ideia de liberdade em si.

E conquistamos, milímetro a milímetro, o campo exterior que não nascera nosso. Exigimos, dimensão a dimensão, o terreno nulo, de urzes.

Nunca podemos fazer sequer um julgamento razoavelmente bem justificado.

A primeira mentira: a verdade. A verdade? Talvez o que buscamos no campo da arte como no pensamento, dizia Hegel, é a verdade.

A declaração de que devemos amar-nos uns aos outros não explica por que julgamos isso tão difícil...

Noto, com um pasmo não metafísico, que todos os gestos que vagamente recordo, as minha ideias claras, propósitos lógicos, não foram, afinal, mais que penumbra espontânea, grande desconhecimento.

Não sei o que é a alma. Consequentemente passei a desconhecer Deus como uma entidade real. Deixei de tentar defini-lo com as palavras humanas.

Significado humano: verificabilidade existencial. Por isso não abandonei Deus completamente, porque busco razões para pensar que seja verdade (talvez a minha verdade), em vez de motivos para querer que seja.

Esforçando-me a fundo — com lágrimas reais — a lapidar a melhor versão de mim mesmo, perante a realidade que não me é suprema, nem a última. Porque meu desejo é saber não só o que são as coisas, mas por que são as coisas.

Spatium
Enviado por Spatium em 29/11/2020
Código do texto: T7123696
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