IDE E ANUNCIAI!

Um trabalho totalmente inútil e cheio de segundas intenções

*Por Antônio F. Bispo

“Ganhar almas para Jesus, conquistar territórios para o senhor, proclamar a palavra da verdade e anunciar o reino de deus na terra”!

Esse é o lema de muitas igrejas, não importa se a mesma tenha apenas duas semanas de fundada ou se já possui ritos que dizem ter dois mil anos de tradição.

Dentro ou fora dos ambientes de culto, praticamente todos nós já ouvimos o “ide de jesus” ou de algum outro messias incentivando o proselitismo de alguma fé.

Expressões como essas ditas de modo solene ou de forma energética, são capazes de mover multidões, esconder espúrias intenções e fazer com que até o mais vil entre todos os seres humanos se considere (ou seja visto) como um emissário da verdade, uma pessoa de bem ou alguém cujas razões de existir e viver transcendam todos os limites de compreensão humana. É parte do mistério da fé! Coisas que só os santificados e redimidos serão capazes de entender (é o que eles dizem).

Toda pessoa com sonho de grandeza, com desejo de fama ou projeção social, vê no “ide” uma oportunidade única de estragar a própria vida ou a vida de tantos outros em função daquilo que julga ser uma causa que valha a pena lutar. Tem sido assim desde antes das cruzadas até os dias atuais.

Na maioria dos casos, esse “chamado” é apenas ambição pessoal, um distúrbio mental causado por anos de lavagem cerebral ou uma forma de escapismo da realidade que faz com que pessoas reais lutem entre si para defender os ideais de seres imaginários.

O desejo de “converter pessoas para Cristo” é um dos anseios mais profundos de um crente verdadeiro!

Imaginar-sendo imortalizado enquanto o seu nome é citado como crédito sempre que alguém falar da convenção de uma única pessoa ou de um povo “perdido”; ser lembrando pelos seus conterrâneos como uma pessoa de fé e coragem por tido a ousadia de “morrer pelo evangelho”, ou de ter explodido uma creche inteira cheia de crianças e matado vários filhos de infiéis, é um desejo que “deus” coloca no coração das pessoas e ainda dá suporte para que isso ocorra.

Não importa a religião ou a saga que ela trace para elevar alguém à categoria de herói da fé, a fila de voluntários iludidos sempre será imensa. No meio religioso, a expressão “ide e anunciai” parece ser algo maravilhoso, carregado de boas intenções, mas não é!

Por trás de qualquer “IDE E ANUNCIAI” pode estar embutido o “ide e explorai”, o “ide e escravizai”, o “ide e roubai”, o “ide e enganai” e o “ide e fantasiai”.

Na maioria esmagadora dos casos, o proselitismo religioso é apenas uma forma de emburrecer pessoas, tornando-as débeis, amedrontadas, paranoicas, arrogantes, preconceituosas, dependentes de um líder humano (que fantasia ser embaixador de deus) ou de um sistema de crenças locais ou regionais (como se fossem leis universais).

A crença (fé) de um grupo é igual a todas as demais crenças, porém a repetição diária de um “texto sagrado” qualquer para grupo, faz com que o fiel acredite que ele, o seu líder ou “seu povo” se ache especial com a missão de salvar o mundo da escuridão. Um “salvo”, por piedade ou arrogância sairá à procura de converter todos os “perdidos” para o reino de deus.

Os conversores podem usar todos os tipos de métodos possíveis para fazer prosélitos, desde os meios legais (permitidos por leis) ou ilegais (desprezando a constituição e todos os tipos de avanços nas relações pessoais e diplomáticas que nossa espécie já alcançou). Quanto maior o grupo, mais força ele terá dentro e fora do ambiente religioso.

Um “salvo e liberto” serve “a deus” e ensina outros a fazerem o mesmo.

Servir a deus de acordo com a concepção religiosa comum, é antes de mais nada despir-se da própria racionalidade e individualidade e pôr-se na condição de ovelha (burra), pronta para obedecer e executar comandos sem questionar, mesmo quando esses comandos sejam para a auto destruição do fiel ou destruição alheia.

Todo fiel é obrigado a crer que o seu líder é realmente uma pessoa pura, ungida, santificada e dirigida por deus ainda que os atos deste sejam iguais aos de um marginal ou de um líder do crime organizado. É imperativo confiar que deus está no controle de tudo...questionar ou desobedecer ao líder é como desafiar o próprio deus em pessoa. É um dos piores crimes que um religioso pode cometer segundo eles. É imperdoável, toda igreja ficará contra o rebelde, mesmo quando “rebelde” estiver tentando aplacar os abusos de sua tirania contra o rebanho.

Ainda no modo comum de fazer prosélitos, anunciar o reino de deus é desejar profundamente que todos ao seu redor se tornem igualmente imbecis ou que pense como o “salvo”, para que a estrutura da fábula coletiva não venha desmoronar como um castelo de cartas.

A toda membresia, por pressão ou conivência, se faz necessário que esta seja intolerante com os não crentes, porém tolerantes como todos os tipos de absurdos e sonho pessoal de consumo que possa vir das lideranças eclesiásticas.

Deus mandou, você obedece e pronto! Se quiser você quiser ir para os céus...obedeça a ordem de deus por meio dos seus ungidos, ou sofra as consequências aqui e no além (eles dizem)!

Não importa se a “ordem divina” é para queimar pessoas viva na fogueira, se é pra vigiar o c* alheio, se para comer capim, ou se para matar ou morrer pela fé ou ainda que seja para doar-se como objetos sexual de pessoas pervertidas que comandam as igrejas. Quando deus ordena...

A expansão do reino de deus segundo esses conceitos, não depende apenas das expressões verbais anunciadas, mas acima de tudo de um número sem fim de atitudes que castram o fiel enquanto o faz sentir-se grande quando na verdade está apenas sendo um tremendo idiota, massa de manobra, objeto de exploração e descarte.

Para os estes, combater os que resistem ou se opõem a mensagem do reino é tão importante quanto anunciar qualquer tipo de boa nova. Alguns desconhecem, porém, que em todo o V.T e na história da igreja, proclamar o reino de deus consistia justamente em tacar o terror aos “povos pagãos” e fazê-los confessar à força um novo crédito ou morrer negando-o.

Eles destruíam vilarejos, estupravam mulheres, empalavam grávidas, decapitavam homens e aprisionavam os filhos destes para serviços tenebrosos e suas filhas para servir de escravas sexuais de homens endiabrados que arrotavam santidade e moralidade o tempo todo, enquanto falam do poder deus, do seu reino e do seu “amor pelos perdidos”.

Por imposição cultural ou por comodismo, quem está mergulhando em um sistema religioso não é capaz de entender que não importa qual seja o modelo de crença ou de culto que esteja inserido, ninguém ganha almas (pessoas) para Deus, Jesus, Allah, Chrishna , Bhrama ou seja que qual for a divindade.

Os que fazem prosélitos o fazem para o seu próprio grupo e em particular o fazem para o deleite de seu líder e suas hierarquias. Por essa feita, todo novo ou antigo adepto de um rito litúrgico tornar-se-á propriedade particular do líder ou do grupo, admitam ou não, estejam cientes ou não!

Apesar de tudo, os fiéis, todos eles se dizem criaturas livres, libertas e pensantes, mas a grande realidade é que nenhum destes terá o poder de expressar-se de modo próprio sem que seja reprimido pelos “guardiões da fé”.

A forma destes ver o mundo, de relacionar-se com outras pessoas ou de emitir opiniões sobre qualquer assunto terá de ser de acordo com aquilo que o grupo ou o líder chama de verdade ou vontade de deus, baseado sempre num “livro sagrado” ou em pequenas passagens isoladas deste. Cada grupo tem sua verdade particular, mesmo seguindo a um mesmo deus, um mesmo messias ou uma mesma bíblia...

Outro fato que muitos não sabem (ou que sabem é negam) é que não há um trabalho mais inútil no mundo que “converter alguém para o senhor”.

Deus é um ser extremamente duvidoso e confuso! Ele nunca sabe o que quer! “Ele chama” alguém do catolicismo para o protestantismo. Daí a pessoa se converte em uma igreja tradicional.

Depois “ele manda” um sabatista converter outra vez aquela mesma pessoa pois ele está no lugar errado comendo carne de porco e não guardando o sábado.

Daí “ele ordena” um pentecostal procurar o mesmo e “anunciar a verdade”, mostrando que no céu tem fogo e só entra céu quem fala em línguas e roda no poder.

Ainda insatisfeito ele manda te manda um fanático da igreja do véu arrotar santidade em sua cara para depois te enviar um T.J. mostrando-te que ainda você está no caminho errado. Como se não bastasse, te envia também os que queimam dinheiro na fogueira santa, os que adoram símbolos judaicos, os que promovem curas místicas improváveis e por fim ele ainda manda um seguidor de Yahushua dizendo que por mais que você faça tudo certo, obedeça tudo, mas se não souber pronunciar corretamente o nome do criador e do seu filho, tu vai estar f*dido...

Essa é a rotina, esse é o propósito de deus! Fazer você de trouxa, pulando de galho em galho, buscando ilusões como e fossem verdades, fazendo com que você perca sua vida, sua juventude e seus recursos em prol de ganhar almas para ele enquanto perde a sua própria!

“Ele manda” cristãos converter cristãos ao cristianismo, judeus ao judaísmo e mulçumanos ao islamismos em suas mais variadas vertentes. Quando não, ele manda alguém “roubar” pessoas de outras religiões só para ver o circo pegar fogo...

Tem sido assim desde sempre!

Jerusalém a “cidade santa” por exemplo, já foi conquistada e reconquistada cerca de 52 vezes ao longo da história por pessoas de diferentes credos...todos os que a conquistara (ou tentava destruí-la), diziam estar libertando-a de um regime pagão e devolvendo-a aos domínios do verdadeiro deus!

Nas Américas e África, portugueses e espanhol “converteram” os índios e negros matando uma parte deles, escravizando outra parte, enquanto se apossavam de suas terras, suas mulheres e seus minérios. Deus mandou evangelizar o novo continente e a cruz e a espada foram as ferramentas de conversões naquela ocasião.

Do mesmo modo, mais de 3 mil anos antes, depois que atravessou o Jordão Josué recebeu a ordenança divina de mostrar ao mundo o quanto o deus de seus pais era poderoso. Ele conquistou cerca de 33 cidades naquele espaço. Na maioria dos casos ele apenas matou todo mundo, incendiou tudo e deixou a cidade deserta, nem sequer habitou nelas depois. Acho que ele convertia as pessoas, as salvava e as enviavam de imediato para os céus só por garantia! Era assim que deus por meio do “seu povo” manifestava sua grandeza no passado.

No passado e no presente, há milhares de relatos individuais e coletivos de ordens dadas por deus com o intuito de converter alguém ao seu reino, de tirar uma pessoa ou grupo de um lugar para pô-los em outro, para reconquistá-los outra vez, inserindo-as em um novo grupo de santos.

Nesse exato momento, enquanto você lê esse texto, dezenas de pessoas conhecidas, crentes de alguma igreja estão orando por você para que você se converta a igreja deles por que esta é a certa, é onde deus está, por que assim deus o quer.

Milhares de pessoas desconhecidas das mais variadas religiões também fazem o mesmo! Elas anseiam te salvar (ao modo delas), querem ser enviadas como missionárias para te converter de forma pacifica ou forçada.

Outro fato tenebroso quanto a esse assunto é que não importa a igreja ou a religião que você escolha, você sempre irá para o inferno da religião alheia! Deus irá te punir por que você escolheu a igreja errada ou a religião falsa, não importa qual seja ela. Entre milhares delas todas dizendo serem verdadeiras e a culpa será sempre sua ter escolhido justamente a errada, e por isso você vai para o inferno...da igreja ou religião alheia!

Assim segue a vida das pessoas de fé em busca de meras futilidades pensando ser verdade, justiça ou vontade divina. A fim de sentirem-se superiores num mundo de iguais elas submetem-se a todos os tipos de exigências “para agradar a deus”.

Durante as mais de duas décadas que passei dentro de uma igreja evangélica, sempre ouvia alguém perguntar ao pastor por que deus (ele mesmo) ou seus anjos não se encarregava de anunciar o evangelho para evitar a propagação de tantas confusões e contradições entre as igrejas e religiões que dizem ser todas elas o caminho da verdade.

Os pastores sempre diziam que deus não fazia isso pessoalmente pois não podia interferir no livre arbítrio do homem e que não enviava os seus anjos pois esses eram bem violentos e se fossem anunciar a salvação e um humano não aceitasse, o anjo a mataria de imediato, pois deus era tudo de bom e ninguém deveria rejeitá-lo.

Essa era uma resposta tão absurda quanto qualquer outra que possa vir de um líder religioso no intuito de defender o indefensável! Todo crente numa hora dessas, enterra as dúvidas em algum lugar e não se fala mais nisso para não ser humilhado publicamente pelo ungido, “aquele tudo sabe”.

Hoje, fora desses recintos podemos dizer sem medo de errar que tudo isso “É APENAS UMA BABAQUICE COLETIVA” que pode ser aceita ou rejeitada sem punição alguma (a menos que você esteja sob um regime totalitarista).

Se houvesse mesmo um deus e ele quisesse ser compreendido e aceito por todos, ele se manifestaria pessoalmente a todos de modo padrão, e não de forma misteriosa e contraditória a qualquer tipinho que sair por aí abrindo igrejas toda semana.

Ele diria sua real vontade de forma clara, independente da cultura de um povo e não deixaria se moldar pela cultura, usura, ou loucura de nenhum líder religioso ou grupo específico.

Um mundo com 8 bilhões de pessoas cujas relações precisam ser aprimoradas se quisermos permanecer vivos, e nós aqui, a maioria se preocupando em fazer prosélitos para um deus imaginário, querendo ser parte de um paraíso futuro enquanto torna a vida presente um verdadeiro inferno.

Não precisa ser assim! Abram seus olhos! REVEJA SEUS CONCEITOS.

Continuaremos em outro texto...

Texto escrito em 14/11/20

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 15/11/2020
Reeditado em 16/11/2020
Código do texto: T7112122
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