MÃES NARCISISTAS - Parte VI - COMO SOBREVIVER A UM NARCISISTA
 
 
   O seio familiar é nossa primeira experiência no mundo e a figura materna é central na construção de nossa autoimagem, autoestima e principalmente de nossa personalidade. É por isso que precisamos falar sobre o narcisismo materno. Neste ensaio, tratamos na Parte I sobre a necessidade de falarmos sobre o assunto. Na Parte II, tratamos sobre a construção da personalidade e sobre o transtorno de personalidade narcisista. Nas Partes III e IV, vimos como é uma Mãe Narcisista, quais suas fantasias e quais suas táticas de manipulação. Na Parte V, vimos como a Mãe Narcisista enxerga seus filhos e netos e quais papeis simbólicos eles recebem nessa relação.
   Agora, nesta última seção, falaremos sobre as difíceis escolhas dos filhos que descobrem que sua mãe é uma Mãe Narcisista, pois, ao contrário das outras pessoas que conheceram a pessoa narcisista ao longo da vida e foram convidados por ela a visitarem seu reino fantástico da Narcisolândia, os filhos de mães narcisistas nascem sem conhecer o lado de fora da vida real primeiro, pois são os únicos que já nasceram dentro do reino fantástico da Narcisolândia. E quando eles se desencantam e se libertam do mundinho de fantasia criado pela mãe, quando se tornam sobreviventes, como a vida segue?
 
 
COMPREENDENDO A DINÂMICA FAMILIAR: “AH, ENTÃO ERA ISSO!”
 
   A Mãe Narcisista exige ser permanentemente e repetidamente adorada, bajulada, consolada, apoiada, requerida, elogiada pelos filhos, não só em expressões genuínas e espontâneas, mas exageradas e sob os termos que ela impõe. Para ela, seus filhos não são indivíduos com ideias próprias, mas devem servir de espelho para ela. A história da Mãe Narcisista para com os filhos é essa: “Filho, filho meu, existe no universo alguma mãe melhor do que eu?”, ao que ela espera que se responda todas as vezes pelo resto da vida: “Não, minha rainha, tu és no universo a melhor mãe de todas!”.
   Filhos de Mães Narcisistas, já durante a infância, pelos relacionamentos com outros parentes, pelos relacionamentos com colegas da escola e suas famílias, pelos relacionamentos com vizinhos, percebem desde cedo que a relação familiar com a própria mãe é conflituosa e até mesmo esquisita. Não entendem qual a razão, mas percebem que a mãe apresenta uma série de comportamentos incômodos: um ciúme exagerado e desconfortante para com outros parentes e amigos que tirem a atenção dela; uma convicção infundada de que existem pessoas conspirando contra ela; que ela prende demais os filhos em casa sob o pretexto de que ninguém lá fora é confiável ou que está à altura dos seus preciosos filhos; que ela decide tudo por eles, o que devem ver ou não ver, comer ou não comer, fazer ou não fazer, do que devem até mesmo gostar ou não gostar e ser ou não ser; que ela exige um padrão de competência impossível de ser alcançado; que ela está sempre reclamando da vida, de que ninguém no universo, sejam os pais dela, o marido ou os próprios filhos, nunca a valorizam ou a agradecem o suficiente; que ela se sente superior a todas as pessoas do mundo; que, sempre que contrariada, age como uma criança mimada, com ataques de birra e negação; que os filhos só são merecedores da atenção dela se eles fizerem o que ela quer; que ela mente ou esconde fatos quando deseja vangloriar-se de algo ou ridicularizar alguém; que ela faz os filhos sempre se sentirem culpados e inferiorizados; que ela está sempre espionando e invadindo a privacidade dos filhos; que ela trata os filhos como eternas crianças, mesmo na adolescência e na vida adulta; e que cada filho foi tratado de forma específica para atender alguma carência da mãe e nunca puderam ser eles mesmos.
   Filhos de Mães Narcisistas sentiram ao longo da vida que a mãe os constrangia, manipulava, chantageava, controlava, inferiorizava e que recebiam castigos e retaliações absurdas pelo simples motivo de não terem atendido alguma demanda emocional que ela exigia. A sensação era de que viviam aprisionados sob uma atmosfera tensa, tóxica e sufocante. A sensação de terem sido amados confundia-se com a sensação de que o amor era condicionado como prêmio apenas na medida em que eles a bajulassem e não a contrariassem.
   Filhos de Mães Narcisistas percebem que o tratamento da mãe para com eles não muda nem mesmo na vida adulta, que a mãe os vê como eternas crianças e que o papel que ela definira na infância permanece na vida adulta. Todo este comportamento deveria ter um nome, esses filhos pensam. Alguns filhos de Mães Narcisistas não procuram saber o porquê, e são certamente aqueles que também se tornaram narcisistas à sombra da mãe e nem têm consciência disso. Mas filhos de Mães Narcisistas que não se tornaram narcisistas começam a estudar o assunto e enxergam finalmente que sua mãe, antes vista apenas como competitiva, dramática, um tanto neurótica, eventualmente paranoica e possessiva demais, na verdade se enquadra no transtorno de personalidade narcisista.
   E não só isso. Quando a dinâmica do narcisismo materno é desvendada e compreendida, começa-se a perceber a dinâmica da própria família. Como a mãe tratou cada filho, como tratou o marido, e como ela se relacionava com os irmãos e com os pais agora tem uma origem esclarecida. Como um ambiente familiar narcisista acaba criando filhos também narcisistas, é possível que se perceba que muitos outros parentes, como irmãos, primos, tios, avós, também tenham respirado demais dessa atmosfera tóxica na infância deles e desenvolveram traços de personalidade narcisista. As coisas começam a fazer mais sentido. Então aquela irmã da Mãe Narcisista da qual ela sempre teve tanto medo de que os filhos se aproximassem e lhe tirassem a atenção tenha sempre desempenhando o papel de predileta dos pais, portanto, a irmã lhe era uma rival nata pela atenção dos pais da qual a Mãe Narcisista sempre dependeu, e o mesmo conflito ela instigou nos filhos, como um espelho. E quem sabe a Mãe Narcisista não tenha se inspirado em alguma tia ou avó Narcisista para definir suas táticas, castigos ou frases típicas? E tantas outras dinâmicas começam a ser esclarecidas.
   Ah, então era isso! Mas e agora?
   Adultos que compreendem que foram filhos de Mães Narcisistas imaginam que, agora que são maduros, podem mudá-la a fim de que tenham uma convivência mais saudável, ou, caso não consigam mudá-la, sabem que continuarão a ter uma vida com conflitos e devem decidir o grau de intimidade com ela na vida adulta e, caso esse filho tenha filhos, como ele lidará agora com uma Avó Narcisista.
 
 
COMO MUDAR UM NARCISISTA
 
   Há como um Narcisista deixar de ser Narcisista? Existe algum jeitinho de conversar com ele para que ele mude? Se fizerem o que ele quer, ele deixa de ser Narcisista? Se ele fizer terapia ou reconhecer seu Narcisismo, será que ele muda?
   A resposta é um categórico não. Nada muda o Narcisista. Nem argumentos lógicos ou fatos, nem terapia, nem remédios, nem amor. Transtornos de personalidade, como o transtorno de personalidade narcisista, são permanentes e incuráveis e a visão que um Narcisista tem de si mesmo e das pessoas com as quais ele se relaciona nunca irão mudar porque sua visão não está baseada em fatos, na Realidade; ao contrário, já está pronta no mundo de Fantasia que ele criou ao formar sua personalidade. Como se consideram acima de tudo e de todos, acima do bem e do mal, a pessoa com transtorno de personalidade narcisista não aceita críticas nem assume seus erros, portanto nem sequer sente pelo mal que fez, não pede desculpas a quem se sentiu ofendido, não se arrepende de nada e não muda. Não tem cura porque o Narcisista nem sequer se julga tendo um problema, nem admite ser ou possivelmente ser Narcisista, embora inconscientemente saiba que o é, mas não poderá admitir, pois é o mesmo que admitir que seu reino fantástico é uma ilusão, uma falha na percepção da realidade; é o mesmo que admitir que, no fundo, é uma pessoa carente, infantilizada, imatura, de baixa autoestima, rancorosa, invejosa e vingativa, e que vive em um mundo de mentiras, o que é uma afronta à sua pretensa superioridade. Um Narcisista não aceita este diagnóstico nem mesmo vindo de terapeutas, e se perceber este diagnóstico vindo, mudará de terapeuta, o que é comum. Além disso, uma vez que o Narcisista se considera a expressão máxima da superioridade, por que ele mudaria para ser alguém comum como os outros? Por fim, em seu reino fantástico da Narcisolânida, ele está sempre certo e todos estão sempre errados, portanto, qualquer menção a ele ser Narcisista fará de quem o critica uma pessoa errada, e ainda pior, agora se tornou um inimigo pessoal, pois o ofendeu e o afrontou, já que todo Narcisista sabe o que significa ser um Narcisista.
   Embora seja evidente que ocorram embates entre filhos sobreviventes do narcisismo materno e a mãe na tentativa amorosa de mudá-la, os filhos acabam concluindo que esses debates não levam a nada. Uma vez que o Narcisista tem uma certeza absoluta de que sua Fantasia deve prevalecer contra o mundo Real, nenhum fato será o bastante para mudar sua opinião. Se no mundo Real contra fatos não há argumentos, para um Narcisista contra seus argumentos não há fatos. Além disso, entrar em um debate com um Narcisista é tudo o ele quer. Como é belicoso, adora um confronto, pois isso inflama a fogueira da intriga; como é arrogante, adora o embate porque, para ele, isso prova o quanto ele é o superior invejado e quem o critica é mesmo um inferiorizado invejoso, o quanto ele está certo e quem os critica é mesmo o errado; como tem baixa autoestima, adora um embate porque assim ele tem a plateia para ouvir suas reclamações e carências e ganhar o apoio dos seus mascotes. Para eles, uma crítica não é uma crítica, é uma declaração de guerra, uma guerra em que eles nunca aceitam perder e na qual o inimigo deve ser totalmente humilhado e desintegrado para que pense duas vezes antes ousar enfrentá-los novamente.
   Sendo assim, não há necessidade de se entrar em embates com uma Mãe Narcisista ou tentar mudá-la. Basta entender como a mente dela funciona e aceitar que ela nunca irá mudar, para que aqueles que convivem com ela tenham uma vida mais saudável, mais compreensiva e insubmissa.
 
 
COMO VENCER UM NARCISISTA
 
   Já vimos que não há como vencer um Narcisista em um embate, uma vez que ele não vive no mundo dos fatos, da verdade, da Realidade. Ele vive no mundo da negação, da mentira e da Fantasia. Ele odeia fatos, a verdade e a Realidade. Tudo o que ele quer é guerrear e destruir a autoestima dos outros, transferindo como por um espelho sua própria identidade estilhaçada e sua baixa autoestima.
   Mas há um jeito de vencer um Narcisista? De fato, a pergunta acima foi elaborada de propósito para refletirmos. É preciso mesmo vencer o Narcisista? A primeira resposta é que não é preciso vencê-lo.
   Ele já está vencido.
   Sua identidade e sua personalidade são prisioneiras da Fantasia que ele mesmo criou. Sua belicosidade e competitividade tão características são tão somente o reflexo de um desejo infrutífero de ver os outros vencidos porque ele mesmo já está vencido. De fato, um Narcisista não tem mais nada a perder, porque tudo o que ele tinha, um projeto de ser humano real, ele perdeu lá na infância. Sua criança interior, com todo o potencial de ser um adulto pleno e realizado, foi perdida lá atrás, quando sua personalidade fugiu da Realidade. O Narcisista foi uma pessoa enganada pelo próprio narcisismo. O narcisismo é o algoz do Narcisista.
   A segunda resposta é que não é preciso vencer um Narcisista porque ninguém está competindo com ele; quem está competindo é ele, e está sempre competindo sozinho. Ele está competindo contra a Realidade, e também nisso já está vencido. Desta forma, o Narcisista vive uma vida onde já está duplamente vencido, por ser prisioneiro e não o senhor de sua própria Fantasia, e por ser vencido todas as vezes pela Realidade diante dele.
   Contudo, a pergunta acima merece uma resposta. Há um jeito de vencer o Narcisista? A resposta é sim, felizmente sim. Então, como vencer um Narcisista?
   A resposta é: não lutando contra o Narcisista. Antes de tudo, não entrando em confronto direto, em embates, não entrando no jogo mental dele. Não jogando o jogo dele. Não jogando nas regras dele. Ele mesmo já está vencido pela própria Fantasia, portanto, se alguém busca vencer um Narcisista usando as regras do narcisismo, já perdeu a razão também. Se a vítima responder a um Narcisista, abriu mão do seu poder e deu poder ao narcisismo. Portanto, não participar do jogo mental do Narcisista já é uma grande vitória. Ele deseja que entrem no jogo mental dele, que se enredem nas manipulações dele, que discutam, que argumentem, que briguem, que se mostrem fracos, humilhados, diminuídos, para que ele se sinta poderoso, superior, vitorioso, engrandecido. Filhos que resistiram ao narcisismo materno desde a infância, que suportaram as humilhações e não se submeteram às vontades da mãe, que decidiram que algo estava errado e que começaram a buscar um sentido e uma identidade no mundo Real e assim não se tornaram uma sombra do narcisismo da mãe, já começaram a vencer desde cedo, embora não tenham se dado conta disso enquanto eram crianças.
   Não cair na armadilha de jogar com as regras do narcisismo deixa qualquer Narcisista irado: “Como ousam não se intimidar ante minhas intimidações? Como ousam não atender minhas carências ante minhas manipulações e ameaças? Como ousam não reconhecer minha superioridade? Como ousam não me adorar? Como ousam nem ao menos me dar atenção quando eu falo mal dos outros?”. Assim, a cada tentativa do Narcisista de enfraquecer a vítima, a vítima se fortalece; a cada tentativa de tragar a vítima para a mesma profundidade de frustração contra a Realidade, a vítima se eleva e se afasta do lago narcísico; a cada tentativa de fazer a vítima se identificar com uma imagem enganosa de si mesma, a vítima construía uma imagem real de si mesma. Tudo isso que o Narcisista quis fazer com a vítima, não conseguiu, e isso o faz derrotado. De novo.
   A vítima também vence o Narcisista quando vive uma vida baseada na Realidade, porque só na Realidade somos verdadeiramente livres e plenos, é só na Realidade que podemos ser quem somos, descobrir nossa força e nosso valor. Assim, a vítima vence o Narcisista mais uma vez porque a Realidade é onde ele não consegue estar, pois vive na Fantasia; uma vida livre é o que ele não consegue ter, pois é prisioneiro de sua Fantasia.
   A vítima vence mais uma vez o Narcisista quando nem mesmo se importa com o que o Narcisista pensa dela, pois sabe que tudo que vem dele é vazio, distorcido, estilhaçado, entorpecido; sua visão da vítima, suas ações para diminuí-la são apenas um reflexo quebrado de uma pessoa enganada, perdida e aprisionada nas profundezas do lago turvo e frio de suas fantasias infantis não resolvidas.
   Cada vez que uma pessoa vive sua própria vida, não se submete aos jogos do Narcisista e nem se importa com o que ele diz, essa pessoa vence. Narcisistas ficam irados e decepcionados quando não conseguem destruir psicologicamente suas vítimas e ainda têm que assistir elas viveram uma vida feliz e plena sem a presença deles. Quando isso acontece, eles sentem que o plano deles fracassou e por isso começam a desejar e a torcer para que a vítima fracasse na vida também. E cada vez que isso não acontece, eles são vencidos. De novo.
   Em resumo, a vitória contra um Narcisista é uma vitória irônica. Primeiro, como ele mesmo já é escravo do próprio narcisismo e sua Fantasia não consegue vencer a Realidade, ele já começa a disputa perdendo de 2 a 0 por conta própria. Em seguida, ao encontro com a vítima, toda vez que a vítima não se submete aos jogos de manipulação dele, ela vence. E é 3 a 0. Toda vez que a vítima vive uma vida baseada na Realidade e ele não, ele perde de novo. Já é 4 a 0. Toda vez que a vítima sequer se importa em dar atenção ao Narcisista, ele perde de novo. Estamos em 5 a 0. Por fim, como fracassou todas as vezes, o que resta ao Narcisista é torcer pelo fracasso da vítima, e cada vez que isso não acontece, ele perde de novo. A vítima já vai vencendo o Narcisista por 6 a 0. Não é uma luta fácil, mas é uma verdadeira goleada. Perceba que a vítima não lutou nenhuma a vez contra a pessoa narcisista, a vítima apenas superou o narcisismo, resistindo a ele e seguindo em frente.
   Bem, mas o que fazer agora que o filho sobreviveu ao narcisismo materno, vive sua vida na Realidade e com uma identidade própria distinta do mundo fantasioso da mãe, mas a mãe permanece sendo quem é? Como fica a convivência com a Mãe Narcisista pelo resto da vida?          
 
 
COMO CONVIVER COM UMA MÃE NARCISISTA: O REINO DA NARCISOLÂNDIA ESTARÁ SEMPRE ABERTO PARA VISITAÇÕES
 
    Todo Narcisista vive em um reino da Fantasia onde as pessoas têm o dever de adorá-lo, venerá-lo, invejá-lo, reconhecê-lo e amá-lo além do normal. Mas como o mundo Real não está ao dispor do Narcisista, como essa exigência só existe na mente transtornada dele, as pessoas do mundo Real só têm duas opções. Ou elas atendem a esta Fantasia e daí convivem de certa forma com o Narcisista ou elas não atendem a esta Fantasia e não conseguem conviver com o Narcisista nem ele consegue conviver com pessoas que não o adorem. Essa escolha é mais fácil para adultos que convivem apenas socialmente com o Narcisista, tais como vizinhos, colegas de trabalho, ou até mesmo parentes como tios, irmãos, primos. Mas, no caso de filhos de Mães Narcisistas, mesmo adultos, a escolha de ter um convívio, seja ele próximo, moderado, afastado ou sem nenhum contato é uma decisão mais delicada, pois sabem que a cada vez que visitarem o fantástico reino da Narcisolândia da mãe, irão deparar-se cedo ou tarde com as manipulações, o autoritarismo, as fofocas, as intrigas, as provocações entre membros da família, as humilhações, as mentiras, as chantagens, as ameaças, as birras, os chiliques, as manhas, tudo o que lhes causou dor e sofrimento na infância.
   Mas agora que o filho é um adulto, tem o poder de ressignificar toda a dor e o sofrimento que experimentou. Muitos filhos chegam a perdoar a mãe, o que é sublime e saudável, embora o perdão seja apenas um processo de cura interior e individual, um processo mental de deixar os traumas do passado no lugar ao qual eles pertencem, ou seja, no passado, ao invés de carregá-los em sua mente como um fardo em sua vida presente. Mas, é preciso dizer, mesmo o perdão não tem poderes mágicos de curar o Narcisista. Perdoando-o ou não, ele será quem ele é pelo resto da vida. Além disso, o filho não deve olhar um Narcisista com pena ou como sendo ele uma vítima. De fato, em sua infância ele sofreu e desenvolveu uma personalidade transtornada, mas os transtornos de personalidade, apesar de estarem em conflito com a realidade, não deixam as pessoas irresponsáveis pelos seus atos. Transtorno de personalidade não é loucura. Sendo assim, todo Narcisista é responsável pelos seus atos de manipulação, abuso e retaliação.
   Agora que o filho de um narcisismo materno é um adulto, ele tem o poder de entender que a imagem que lhe foi dada na infância, e ainda lhe é dada na vida adulta, é uma imagem falsa, irreal; é apenas um espelho distorcido imposto por uma mãe transtornada, que antes de ser mãe, é uma pessoa, uma pessoa atormentada pelos traumas de infância que não conseguiu superar e que criou um mundo imaginário em sua mente que não corresponde com o mundo Real. Agora que o filho é adulto pode ao longo da vida, se já não o fez ao final de sua adolescência, descobrir sua verdadeira imagem, seu verdadeiro valor, sua verdadeira vocação, seu verdadeiro sentido no mundo Real, ao contrário das mentiras que lhe foram contadas quando era governado pelo reino fantástico da Narcisolândia da mãe. Tenha sido o filho tratado como bode expiatório, dourado, incapaz, invisível ou qualquer outro papel, agora o filho tem o poder de entender que esses papeis não correspondem à Realidade. Agora, fora do reino da Fantasia, agora dentro do mundo Real, o filho pode buscar ser quem ele quiser ser e encontrar o sentido de sua vida no mundo Real. E saber viver no mundo Real é um presente que não se deve recusar, pois a realidade é o único mundo que verdadeiramente existe.
   Mas é preciso dizer que o reino fantástico da Narcisolândia da Mãe estará sempre aberto para visitações, mesmo para os filhos que sobreviveram ao narcisismo materno. Esses filhos, em geral os que foram e continuam e continuarão sendo tratados como “bode expiatório”, por continuarem a ser humilhados, subestimados e depreciados em tudo que são e em tudo que fazem, acabam por tomando medidas drásticas, como diminuir para o mínimo possível o contato com a mãe ou cortar o contato total e definitivamente com a fonte de sua angústia. Essa decisão se acentua nos casos em que o filho tem filhos e percebe que a Mãe Narcisista começa a levar seu comportamento abusivo ao neto, portanto uma criança sem recursos psicológicos para se defender de manipulações. Ainda mais que agora a Avó Narcisista irá eventualmente classificar o neto com o mesmo papel que era atribuído ao filho, ou seja, no caso de ser filho do filho “bode expiatório”, o neto será um “neto expiatório”. O pai logo percebe que os mesmos castigos e as mesmas provocações que sofria agora estão sendo passadas insidiosamente ao seu próprio filho. Por esta razão, muitos optam pelo afastamento total ou pelo mínimo contato possível. Não é preciso dizer como a Mãe Narcisista reagirá a esta decisão, já que para ela isso é uma afronta, um pecado capital, uma declaração de guerra. O preço psicológico a ser pago por tal enfrentamento nunca sai barato. O castigo virá com ira, fogo e enxofre, seja uma difamação pelo resto da vida ou uma retaliação física ou até mesmo financeira. Portanto, o filho deverá considerar muito bem todas as possibilidades que esta decisão causará como reação na Mãe Narcisista em questão.
   Contudo, nenhum adulto deve se sentir culpado por querer o melhor para sua vida, para sua família e por seguir seus próprios princípios e valores, por buscar seu próprio sentido no mundo, mesmo que isso decepcione a mamãe. Aliás, a Realidade sempre irá decepcionar um Narcisista, portanto, não é o filho em si que decepciona a Mãe Narcisista: é a Realidade. Além do mais, ela também é adulta e irá sobreviver psicologicamente às deserções de seus súditos. Afinal, para a Mãe Narcisista, filhos que se libertam de sua relação narcisista são apenas planetas rebeldes e insignificantes que desviaram a rota para fora de seu sistema solar e vagam distantes de sua majestosa luz. Ela permanece como o Sol imponente, e é só isso que importa para ela: ela mesma.
 
 
CONCLUSÃO
 
   Gostaria de concluir este ensaio com a mesma justificativa do início.
   O seio familiar é nossa primeira experiência no mundo. É no seio familiar que aprendemos valores, construímos nosso caráter, mas, principalmente, construímos nossa autoestima, nossa autoimagem e nossa personalidade que nos acompanhará pelo resto da vida em nossa relação com o próprio ser em si e em nossas relações sociais. Conhecer a nós mesmos e sobre a construção de nossa personalidade, conhecer sobre a imagem que nossos pais fizeram de nós quando éramos indefesos e como isso afetou nossas vidas, reconhecer os abusos sofridos e compreendê-los, conhecer a própria força e o próprio valor para sermos pessoas melhores a cada dia, mais maduras, sábias e plenas é o verdadeiro sentido da vida.
   Filhos de Mães Narcisistas sofreram durante a infância e adolescência. Cresceram em um lar tóxico e transtornado e sua imagem e autoestima foram comprometidas. Mas quando se tornam adultos, com o amadurecimento psicológico, podem compreender melhor a dinâmica familiar e ressignificar seus traumas. Podem compreender que a visão que receberam da mãe foi uma visão mentirosa, falsa, irreal, e, assim, podem encontrar seu próprio valor no mundo.
   Agora que são adultos podem compreender e aceitar que a mãe não irá mudar e suas táticas de manipulação não irão parar, mas isso não machuca como antes, pois agora compreende-se que isso são apenas um reflexo quebrado de uma pessoa enganada, perdida e aprisionada nas profundezas do lago turvo e frio de suas fantasias infantis não resolvidas.
   E com a compreensão vem a ação. A melhor parte é que agora esses filhos, já adultos, podem escolher fazer diferente. Podem formar uma família em um ambiente com estímulos positivos, encorajadores, carinhosos, saudáveis, em que todos são queridos e vistos como eles são de verdade, onde seus filhos crescerão com sentimentos de segurança, alegria, encorajamento, autoestima elevada, equilíbrio emocional, autonomia e iniciativa. E que sabor melhor teria a vida do que superar as dores do passado e passar para as gerações seguintes, para filhos e netos, a receita de um lar onde se é querido e amado incondicionalmente e onde se cresce com autonomia e responsabilidade? E, o melhor, livre e em harmonia com o mundo Real.
 
   Este ensaio foi dividido em seis seções.
   Na Parte I, falamos sobre a necessidade de se discutir sobre o narcisismo materno.
   Na Parte II, falamos sobre a construção da personalidade, os conflitos com a realidade e o transtorno de personalidade narcisista.
   Na Parte III, falamos sobre a Mãe Narcisista e suas fantasias.
   Na Parte IV, falamos sobre a Mãe Narcisista e suas táticas de manipulação.
   Na Parte V, falamos sobre como a Mãe Narcisista atribui a seus filhos papeis diferentes.
   E nesta Parte VI, falamos sobre algumas vias de convívio com a Mãe Narcisista.
   Espero que este ensaio possa servir de motivação a pessoas interessadas no assunto. O propósito deste ensaio não foi o de fazer com que levianamente o leitor comece a apontar o dedo para quem é ou não narcisista em sua vida e qual mãe é ou não narcisista.
 
      
PARA MAIORES INFORMAÇÕES
 
   Por ser um ensaio, esta reflexão sobre narcisismo materno não tem a menor pretensão de fazer acusações levianas sobre o papel da mulher, da mãe ou apontar qual mãe é ou não narcisista, nem a menor pretensão de ser um estudo clínico ou psicanalítico. Ao contrário, a presente reflexão traz tão somente uma mera introdução informal ao tema com a finalidade de suscitar seu aprofundamento a quem tiver interesse.
   Portanto, para maiores informações e maior aprofundamento ao tema, ao fim de cada seção deixamos links de sites e canais de vídeo para enriquecer seu conhecimento sobre o assunto sob o olhar profissional de especialistas e doutores. Boa pesquisa!
 
Portal “Manuais MSD”
[Clique AQUI]
 
E-book “Prisioneiras do Espelho: Um guia de liberdade pessoal para filhas de mães narcisistas”, de Michele Engelke
[Clique AQUI]
 
Vídeo “Carta ao Narcisista”
https://www.youtube.com/watch?v=DQdHLJ_ZU3w
 
Blog “Filhas de Mães Narcisistas”
[Clique AQUI]
 
Blog “Verdade dita”
[Clique AQUI]
 
Site “Psicologias do Brasil”
[Clique AQUI]]
 
Canal “Como superar Mães Narcisistas”
[Clique AQUI]
 
Canal “Dra Cássia Rodrigues”
[Clique AQUI]
 
Canal “Saúde Consciente”
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Canal “Sabedoria Emocional”
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Canal “Papo com Anahy D'Amico”
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Canal “Sobre a Vida”
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Canal “Taryana Rocha”
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