O forasteiro
Conheci um homem que morava em uma terra seca, um deserto em cujo solo nenhuma planta brotava. Desolada terra, desolado homem! Sua vida era andar pela extensão daquela imensa terra na esperança de encontrar um oásis em que pudesse saciar sua sede e encontrou. Encontrou muitos. Muitos no qual se deleitou. Mas o homem não se contentava, imaginava que sempre haveria lugar melhor, com coisas que não conhecia e isso lhe incitava. Ele já gostava daquela vida de forasteiro. Sem destino, sem morada, sem raízes. O homem era seco, como seco era a terra de onde veio. Os oásis por onde passou tinha poços e até fontes, mas não conseguiam manter o homem ali, pois saciavam seu corpo, mas na sua alma que continuava degradada, seca como pedra.
Assim, ele continuava sua lida, sua sina, sua jornada sem fim. Um dia ele se deparou com um lugar que imaginou ser mais um oásis, ali havia uma fonte de águas cristalinas, puras. Percebeu que havia mais que uma fonte, havia um rio, havia um oceano. Então percebeu que não estava num oásis em meio ao deserto, mas que estava em uma nova terra, um novo mundo repleto de vida.
À medida que ia conhecendo aquele novo mundo, ele sentia que no seu interior tudo se transformava. De sua alma antes sedenta agora parecia jorrar uma fonte de água perene. Jamais conhecera algo semelhante. Todo aquele mundo de encantos que lhe mudara a vida. E agora por horas ficava a contemplar serenamente tudo que lhe fora dado como um presente. Como podia ele, vindo de terras distantes e várias... ele que passou por montanhas e vales, lama, lodo, pedra e espinhos... caminheiro de vida repleto de aventuras, mas vazia de sentido...como podia um homem tão vil tocar tão puro solo, beber água tão cristalina, usufruir do aroma e do gosto, de todas as delícias daquele mundo encantado?
Não tudo aquilo não poderia pertencer a ele! Mas como é doce, brando e poderoso o Amor! A terra encantada amou o homem, o homem amou a terra, cada dia ela tornava-se mais bela e mágica. Desde o primeiro raio do alvorecer até a última luz do crepúsculo. A cada novo amanhecer a terra tornava-se mais florida, colorida, sonora e perfumada. Os dias revelavam mistérios, as noites novos mistérios manifestavam.
Terra e homem se descobriam e se amavam e entregavam-se um ao outro a ponto de confundirem-se, de enlaçarem suas almas. Laços de Amor se formaram como nós mágicos que ao se tentar desatar mais fortes se tornavam. Aquele mundo sabia a quem fora dado e o homem agora sentia-se parte daquele mundo. Os dois eram um. Contudo, essa terra não está livre dos fenômenos às vezes furiosos do tempo e do espaço. Chuvas, trovoadas e tempestades algumas vezes assolam o mágico mundo e seu privilegiado habitante, todavia após cada tempestade o Sol os ilumina, o SOL eterno do AMOR renasce mais forte.
Que sorte a daquele homem!