Sinto que algo está faltando... ( por Osho )
Osho,
Por que eu estou sentindo que alguma coisa está faltando? Que eu deveria ser algo a mais?
Por favor, ajude-me a deixar essa besteira de lado.
“Dhyana Yogi,
Se isto é uma besteira, se você verdadeiramente tem a compreensão de que isto é uma besteira, então não há porque pedir ajuda para deixar isto de lado. Reconhecer isto como besteira já significa deixar de lado.
Mas parece que você me ouviu dizer que isto é besteira. Isto se tornou uma crença para você; não é o seu próprio saber, não é a sua própria experiência. Você ainda está apegada àquilo. Bem no fundo você ainda acha que aquilo é precioso, que não é besteira. Bem no fundo você acha que tudo aquilo são diamantes e não seixos. Bem no fundo, em algum lugar, você ainda acredita que é um tesouro para ser protegido e guardado.
Não comece a acreditar em mim, porque isto não mudará coisa alguma. Você esteve acreditando em Maomé, esteve acreditando em Cristo, ou em Buda, e depois você veio aqui e começou a acreditar em mim. Isto não é uma revolução, não é uma conversão. Você está apenas mudando o objeto de sua crença, mas a crença continua – a mesma mente acreditadora. Você acredita em Jesus, mas ele fala a linguagem de dois mil anos atrás. Muita coisa não faz muito sentido para você. Já se perdeu o contexto no qual aquelas palavras eram relevantes.
Eu falo a linguagem do século vinte. E isto faz sentido para você, por isto você deleta a sua crença em Jesus e começa a acreditar em mim. Isto é um simplismo sem valor.
Eu não estou dizendo para acreditar em mim. O que eu digo é: abandone todas as crenças e comece a ver, porque a crença irá mantê-la cega. Comece a ver! É realmente uma besteira o que você está carregando? É sua a compreensão de que isto é besteira? Então você não precisa perguntar como deixar isto de lado. Ninguém pergunta como se livrar de um lixo.
O problema surge apenas porque no fundo você conhece aquilo como sendo ouro. E alguém disse que é lixo; e disse de maneira tão convincente que você não conseguiu contestar e ele calou você. Esse homem tem tanta autencidade e integridade que na sua presença você se torna simplesmente sufocada com o seu ser. E daí você começa a dizer, ‘Sim, isto é um lixo’. Mas no fundo você ainda acha que aquilo é ouro, não é um lixo. Por isto surge o problema: como se livrar daquilo?
Se você compreender por si mesma que aquilo é uma besteira, nunca irá perguntar como se livrar daquilo. Ver aquilo como besteira já é se livrar, saber que aquilo é uma besteira já significa deixar de lado. O lixo não está agarrado em você. É você que está agarrada nele. O lixo não se importa com você, ele não se interessa por você. Se você abandoná-lo, ele não irá fazer muito barulho por isto, nem vai perguntar, ‘Por que você está me abandonando?’ Ele não dirá palavra alguma e não irá lhe criar problema algum. Ele não a levará ao tribunal. Você não terá que enfrentar um processo de divórcio. Se você abandonar o lixo, ele irá se sentir muito mais feliz do que agora. Ele terá terminado com você e estará livre. Ele já deve estar cansado de você. É você que está agarrada a ele. Por que você está agarrada a ele? Por que alguém se agarra a alguma coisa? Porque no fundo ele continua acreditando que aquilo é algo precioso.
Dhyana Yogi, você diz:
Por que eu estou sentindo que alguma coisa está faltando?
É porque desde a sua infância lhe foi dito que você, em si mesma, é intrinsecamente inútil. Do jeito que você é, não tem valor algum. O valor tem que ser obtido, o mérito tem que ser evidenciado. Desde o início de sua infância, isto lhe foi ensinado milhões de vezes. Os pais, os professores, os sacerdotes, os políticos, todos eles conspiram secretamente para destruir a criança. E a melhor maneira de destruir uma criança é destruindo a sua crença em si mesma.
Para destruir a crença dentro de uma criança, você tem que lhe provar que o valor não é algo dado pela natureza, mas sim que deve ser conquistado na vida. E você pode perdê-lo, a não ser que você trabalhe, seja muito ambicioso, lute com os outros... E para alcançar esse valor tem que lutar, olho por olho, dente por dente, tem que pisar na garganta do outro. Você foi condicionado a ser violento, ambicioso e cheio de desejos: para ter mais dinheiro, mais poder e mais prestígio.
A sua pergunta surgiu porque lhe foi dito que intrinsicamente você não tinha valor algum. Mas eu digo que vocês são intrinsicamente valiosos, que vocês nasceram como Budas. Vocês estão completamente inconscientes da realidade de seus próprios seres, mas vocês são deuses escondidos. A pergunta surge porque o que estou dizendo é totalmente diferente daquilo que lhes foi ensinado. Eu lhes digo que vocês são Budas – neste exato momento vocês são Budas! – mas, todo treinamento, ensinamento e condicionamento é: ‘Como você pode ser um Buda exatamente agora? Amanhã talvez, um dia certamente, em alguma vida futura pode acontecer... Mas, exatamente agora?’ Parece ser impossível.
Você acreditou demasiadamente em seus pais, em seus professores, seus políticos e sacerdotes, e em tudo o que eles lhe disseram. E você guardou aquilo. É lixo, mas você tem carregado esse lixo por tanto tempo que abandoná-lo de repente parece ser impossível. Por tanto tempo você permaneceu agarrada àquilo, pensando que era belo, precioso e nutritivo. Agora eu digo. ‘Tudo isto é tolice! Abandone isto e simplesmente seja um Buda, a partir deste exato momento! Não é uma questão de se alcançar, é apenas uma questão de se tornar consciente. É apenas uma questão de se tornar consciente, alerta e desperto. A questão não é alcançar.’
Assim, quando você me escuta, uma parte de sua mente diz, ‘Sim, Osho deve estar certo!’ Uma parte sua acena com a cabeça dizendo sim, pois o que está sendo dito é simplesmente a verdade da vida, embora todo o seu treinamento seja contra isto. Quando você se afasta de mim, a mente salta de novo sobre você com vingança. E naturalmente ela é poderosa. E, por ser tão poderosa, ela destrói a sua inteligência.
A inteligência nada tem a ver com a mente. Inteligência tem algo a ver com o coração. É a qualidade do coração. Intelectualidade é qualidade da cabeça. O intelectual não é necessariamente uma pessoa inteligente. E uma pessoa inteligente não é necessariamente intelectual.
O seu intelecto está cheio de lixo e eu estou tentando despertar a sua inteligência. Toda a sociedade tentou fazê-lo inconsciente de sua inteligência. A sociedade é contra a sua inteligência. Ela quer que você seja medíocre, porque somente os medíocres podem ser bons escravos. Ela quer você sem inteligência e estúpido, porque somente as pessoas estúpidas podem ser dominadas.
E as pessoas estúpidas são obedientes, nunca são rebeldes. Pessoas estúpidas simplesmente vegetam. Elas nunca se esforçam para otimizar suas vidas. Elas nunca acendem as tochas de suas vidas, elas não têm intensidade. A estupidez é obediente e a obediência cria estupidez.(...)
A sociedade quer que você seja estúpida. As pessoas estúpidas são boas pessoas. Elas sempre permanecem com o status quo, elas nunca vão contra ele. Ainda que elas estejam vendo a podridão das coisas, elas fecham seus olhos ou estão sempre prontas para aceitar qualquer explicação estúpida.
Por exemplo, este país tem sido pobre há séculos, faminto e sofredor. Mas, porque as pessoas são religiosas, obedientes e estúpidas, lhes são dadas explicações de todo tipo e elas aceitam. Alguns acreditam que Deus os fez pobres porque a pobreza é alguma coisa muito piedosa. Eles veneram a pobreza; na Índia a pobreza é venerada. Se você renunciar às suas riquezas e tornar-se um faquir nu, milhões de pessoas irão pensar que você é um sábio. Você pode ser apenas um estúpido, mas porque renunciou às riquezas, você tornou-se um grande sábio. Eu tenho visto muitos sábios estúpidos.
Agora, isto é uma contradição em termos. Como pode uma pessoa estúpida ser um sábio? Um sábio tem que ter sabedoria! Mas é muito difícil neste mundo ser sábio e ser venerado. As pessoas sábias têm sido assassinadas, crucificadas, envenenadas. E as pessoas estúpidas têm sido veneradas. Pessoas estúpidas simplesmente seguem o que a sociedade diz, o que a sociedade quer que elas façam. E elas fazem, simplesmente.
Gandhi costumava chamar as pessoas pobres daridra narayana – o pobre é divino. A pobreza é divina! As pessoas pobres são deuses! Se isto fosse verdade, então quem não iria querer ser pobre? Se os pobres são deuses? Quem não gostaria de ser deus?
E então surge uma outra explicação: você é pobre porque em suas vidas passadas cometeu pecados. Essa outra explicação deve ter sido inventada por quem não acredita em Deus. Os jainas e os budistas não acreditam em Deus, assim você não pode lhes atribuir a primeira explicação. Eles precisam de outra explicação: a teoria do karma. Mas o propósito é o mesmo!
Nesta teoria, se você tiver cometido pecados em sua vida passada, é melhor você colocar um fim nesse karma. Aceite a pobreza e entre nela sem qualquer resistência. Se você criar alguma resistência, então você estará criando novamente karma ruim e você sofrerá na sua vida futura. Chega, já é o bastante! Termine agora com esta coisa toda; sofra este momento contentemente. Assim, as pessoas têm se tornado vacas e búfalos; contentemente elas estão sofrendo, sem resistência e sem rebelião.
A sociedade quer que você seja estúpida, não inteligente. A inteligência é perigosa. Inteligência significa que você começa a pensar por si mesma, você começa olhar ao redor de si mesma. Você não acreditará nas escrituras, você acreditará somente na sua própria experiência.
Dhyana Yogi, por favor não acredite no que eu digo. Experimente, medite, experiencie! A não ser que isto se torne a sua própria compreensão, nada irá ajudá-la.
Você me pergunta:
Por que eu estou sentindo que alguma coisa está faltando?
Porque sempre lhe foi dito que você tem que encontrar alguma coisa. E você não está encontrando. Por isto surge a sensação de que algo está faltando. Eu estou lhe dizendo que antes de tudo você nada perdeu. Por favor, pare de tentar encontrar, pare de buscar e procurar. Você já tem! Tudo o que é preciso você já tem. Simplesmente olhe para dentro e você encontrará tesouros infinitos e inesgotáveis de alegria, amor e êxtase.
Nada estará faltando se você olhar para dentro, mas se você continuar procurando do lado de fora, você se sentirá mais e mais frustrada. E na medida em que você ficar mais velha, naturalmente, irá sentir que sua vida está escorregando de suas mãos e que você ainda não encontrou. E toda a ironia é que, antes de tudo, você nada perdeu! Aquilo sempre esteve dentro de você, neste momento está dentro de você.
Mas não acredite em mim. Eu não estou aqui para criar crentes. Eu estou aqui para ajudá-la a experienciar. No momento em que a verdade se torna sua experiência, ela liberta. A verdade liberta, diz Jesus – não a crença, mas a verdade.
Mas a minha verdade não pode ser a sua verdade. A minha verdade será a sua crença. Somente a sua verdade pode ser verdadeira para você. A verdade certamente liberta, mas eu acrescento que a verdade tem que ser a sua verdade. A verdade de nenhuma outra pessoa pode libertar você. A verdade de outra pessoa se tornará apenas um aprisionamento.
Dhyana Yogi, nada está lhe faltando. Nada está faltando a ninguém. Pela própria natureza das coisas, nada pode estar nos faltando. Nós somos parte de Deus e ele é parte de nós. Não tem jeito, não há possibilidade de estar faltando algo. Como você pode escapar de si mesma? Para onde for, você permanecerá você mesma. Mesmo no inferno, você continuará sendo você, porque não é possível escapar de si mesma, não é possível escapar de Deus.
Ele está ali esperando pacientemente que você olhe para dentro.
Você me pergunta:
Por que eu estou sentindo que deveria ser algo a mais?
Foi-lhe dito repetidas vezes: ‘Seja alguém! Veja Goutama Buda, Krishna, Cristo. Seja um Buda, um Krishna, um Cristo.’ Daí, certamente você morrerá na miséria, angustiada, completamente frustrada, chorando aos prantos, porque você não consegue ser um Buda. Você não está aqui para ser um Buda! Você não consegue ser um Cristo ou um Krishna. Você somente consegue ser você mesma.
Um grande Mestre hassid, Zusya, estava morrendo. As pessoas se juntaram, discípulos e simpatizantes. Um homem idoso perguntou. ‘Zusya, logo você estará face a face diante de Deus, pois você está morrendo, e, quando estiver diante dele, você será capaz de lhe dizer que seguiu Moisés absolutamente, verdadeiramente?’
Zusya abriu seus olhos e estas foram as suas últimas palavras. Ele disse, ‘Pare de falar tolices! Deus não irá me perguntar, ‘Zusya, por que você não foi um Moisés?’ Ele me perguntará, ‘Zusya, por que você não foi um Zusya?’
Você tem que ser justamente você mesmo e ninguém mais. Na verdade isto é o que significa natureza búdica: ser você mesmo.
Isto é o que significa consciência crística: simplesmente ser você mesmo. Buda não é uma imitação de alguma outra pessoa. Você acha que antes dele não existiram muitos grandes homens? Devem ter dito a ele, ‘Seja um Krishna! Seja um Parshwanatha! Seja um Adinatha!’ Ele deve ter ouvido belas histórias e mitologias. Ele deve ter lido Puranas, as histórias antigas a respeito de grandes homens como Rama, Krishna, Parushrama. Ele deve ter ouvido tudo, deve ter recebido a herança. Mas ele nunca tentou ser outra pessoa. Ele queria ser ele mesmo, queria saber quem ele era. Ele nunca se tornou um imitador. É por isto que um dia ele se tornou iluminado.
Jesus nunca tentou ser Abraão, Moisés ou Ezequiel. Jesus simplesmente tentou ser ele mesmo. Este foi seu crime, por isto ele foi crucificado. As mesmas pessoas que crucificaram Jesus iriam adorá-lo se ele fosse apenas um imitador, uma cópia de Moisés. Se ele fosse um gravador repetindo os Dez Mandamentos, os judeus o teriam adorado. Mas eles tiveram que crucificar o homem, ele era apenas ele mesmo.
A sociedade apodrecida, a multidão, a mente das massas não conseguem tolerar os indivíduos. É impossível para eles tolerar um Sócrates. Vocês sabem por qual crime Sócrates foi acusado? Exatamente a mesma coisa que dizem a meu respeito. A acusação contra Sócrates é de que ele costumava corromper a mente da juventude. É exatamente o que meus inimigos dizem: que eu estou corrompendo a mente das pessoas, em particular a mente dos jovens.
E Sócrates estava corrompendo a mente dos jovens? Ele estava tentando despertar a inteligência deles, mas a sociedade ficou com medo. Se muitas pessoas se tornassem autênticas e verdadeiras, isso colocaria em perigo os interesses ocultos, eles não conseguiriam mais dirigir as pessoas como gado. E isto é o que os sacerdotes gostam de fazer e os políticos também.
Existe uma conspiração entre os sacerdotes e os políticos para explorar as pessoas, para dominá-las, para oprimi-las. E o mais fundamental é: nunca permita que elas se tornem inteligentes. Dê a elas um substituto. O que é um substituto para a inteligência? A intelectualidade. Dê educação para elas, mande-as para a escola, para os colégios, para as universidades e torne-as intelectuais.
Vocês conhecem universidades que criam inteligências? Elas criam intelectuais, criam eruditos, pessoas que conhecem as escrituras, mas elas não criam pessoas inteligentes. Elas servem à sociedade. O sistema educacional foi inventado por esta sociedade apodrecida para servir aos seus próprios propósitos. Ele não existe para ajudar você, ele existe para manter você na escravidão.
Dhyana Yogi, Eu não posso ajudá-la a deixar essa besteira de lado. Eu só posso ajudá-la a ser mais consciente. E se você se tornar mais consciente, essas besteiras serão abandonadas naturalmente. Um dia, de repente, você perceberá que estão desaparecendo... De repente. Na medida em que a consciência se aprofunda, todo o lixo desaparece, da mesma maneira como a escuridão desaparece quando você traz a luz.
Buda diz: ‘Torne-se mais consciente e a luz começará a jorrar... ais dhammo sanantano.”
OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 6 – pergunta n° 3
Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda
tradução: Sw.Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados
Osho,
Por que eu estou sentindo que alguma coisa está faltando? Que eu deveria ser algo a mais?
Por favor, ajude-me a deixar essa besteira de lado.
“Dhyana Yogi,
Se isto é uma besteira, se você verdadeiramente tem a compreensão de que isto é uma besteira, então não há porque pedir ajuda para deixar isto de lado. Reconhecer isto como besteira já significa deixar de lado.
Mas parece que você me ouviu dizer que isto é besteira. Isto se tornou uma crença para você; não é o seu próprio saber, não é a sua própria experiência. Você ainda está apegada àquilo. Bem no fundo você ainda acha que aquilo é precioso, que não é besteira. Bem no fundo você acha que tudo aquilo são diamantes e não seixos. Bem no fundo, em algum lugar, você ainda acredita que é um tesouro para ser protegido e guardado.
Não comece a acreditar em mim, porque isto não mudará coisa alguma. Você esteve acreditando em Maomé, esteve acreditando em Cristo, ou em Buda, e depois você veio aqui e começou a acreditar em mim. Isto não é uma revolução, não é uma conversão. Você está apenas mudando o objeto de sua crença, mas a crença continua – a mesma mente acreditadora. Você acredita em Jesus, mas ele fala a linguagem de dois mil anos atrás. Muita coisa não faz muito sentido para você. Já se perdeu o contexto no qual aquelas palavras eram relevantes.
Eu falo a linguagem do século vinte. E isto faz sentido para você, por isto você deleta a sua crença em Jesus e começa a acreditar em mim. Isto é um simplismo sem valor.
Eu não estou dizendo para acreditar em mim. O que eu digo é: abandone todas as crenças e comece a ver, porque a crença irá mantê-la cega. Comece a ver! É realmente uma besteira o que você está carregando? É sua a compreensão de que isto é besteira? Então você não precisa perguntar como deixar isto de lado. Ninguém pergunta como se livrar de um lixo.
O problema surge apenas porque no fundo você conhece aquilo como sendo ouro. E alguém disse que é lixo; e disse de maneira tão convincente que você não conseguiu contestar e ele calou você. Esse homem tem tanta autencidade e integridade que na sua presença você se torna simplesmente sufocada com o seu ser. E daí você começa a dizer, ‘Sim, isto é um lixo’. Mas no fundo você ainda acha que aquilo é ouro, não é um lixo. Por isto surge o problema: como se livrar daquilo?
Se você compreender por si mesma que aquilo é uma besteira, nunca irá perguntar como se livrar daquilo. Ver aquilo como besteira já é se livrar, saber que aquilo é uma besteira já significa deixar de lado. O lixo não está agarrado em você. É você que está agarrada nele. O lixo não se importa com você, ele não se interessa por você. Se você abandoná-lo, ele não irá fazer muito barulho por isto, nem vai perguntar, ‘Por que você está me abandonando?’ Ele não dirá palavra alguma e não irá lhe criar problema algum. Ele não a levará ao tribunal. Você não terá que enfrentar um processo de divórcio. Se você abandonar o lixo, ele irá se sentir muito mais feliz do que agora. Ele terá terminado com você e estará livre. Ele já deve estar cansado de você. É você que está agarrada a ele. Por que você está agarrada a ele? Por que alguém se agarra a alguma coisa? Porque no fundo ele continua acreditando que aquilo é algo precioso.
Dhyana Yogi, você diz:
Por que eu estou sentindo que alguma coisa está faltando?
É porque desde a sua infância lhe foi dito que você, em si mesma, é intrinsecamente inútil. Do jeito que você é, não tem valor algum. O valor tem que ser obtido, o mérito tem que ser evidenciado. Desde o início de sua infância, isto lhe foi ensinado milhões de vezes. Os pais, os professores, os sacerdotes, os políticos, todos eles conspiram secretamente para destruir a criança. E a melhor maneira de destruir uma criança é destruindo a sua crença em si mesma.
Para destruir a crença dentro de uma criança, você tem que lhe provar que o valor não é algo dado pela natureza, mas sim que deve ser conquistado na vida. E você pode perdê-lo, a não ser que você trabalhe, seja muito ambicioso, lute com os outros... E para alcançar esse valor tem que lutar, olho por olho, dente por dente, tem que pisar na garganta do outro. Você foi condicionado a ser violento, ambicioso e cheio de desejos: para ter mais dinheiro, mais poder e mais prestígio.
A sua pergunta surgiu porque lhe foi dito que intrinsicamente você não tinha valor algum. Mas eu digo que vocês são intrinsicamente valiosos, que vocês nasceram como Budas. Vocês estão completamente inconscientes da realidade de seus próprios seres, mas vocês são deuses escondidos. A pergunta surge porque o que estou dizendo é totalmente diferente daquilo que lhes foi ensinado. Eu lhes digo que vocês são Budas – neste exato momento vocês são Budas! – mas, todo treinamento, ensinamento e condicionamento é: ‘Como você pode ser um Buda exatamente agora? Amanhã talvez, um dia certamente, em alguma vida futura pode acontecer... Mas, exatamente agora?’ Parece ser impossível.
Você acreditou demasiadamente em seus pais, em seus professores, seus políticos e sacerdotes, e em tudo o que eles lhe disseram. E você guardou aquilo. É lixo, mas você tem carregado esse lixo por tanto tempo que abandoná-lo de repente parece ser impossível. Por tanto tempo você permaneceu agarrada àquilo, pensando que era belo, precioso e nutritivo. Agora eu digo. ‘Tudo isto é tolice! Abandone isto e simplesmente seja um Buda, a partir deste exato momento! Não é uma questão de se alcançar, é apenas uma questão de se tornar consciente. É apenas uma questão de se tornar consciente, alerta e desperto. A questão não é alcançar.’
Assim, quando você me escuta, uma parte de sua mente diz, ‘Sim, Osho deve estar certo!’ Uma parte sua acena com a cabeça dizendo sim, pois o que está sendo dito é simplesmente a verdade da vida, embora todo o seu treinamento seja contra isto. Quando você se afasta de mim, a mente salta de novo sobre você com vingança. E naturalmente ela é poderosa. E, por ser tão poderosa, ela destrói a sua inteligência.
A inteligência nada tem a ver com a mente. Inteligência tem algo a ver com o coração. É a qualidade do coração. Intelectualidade é qualidade da cabeça. O intelectual não é necessariamente uma pessoa inteligente. E uma pessoa inteligente não é necessariamente intelectual.
O seu intelecto está cheio de lixo e eu estou tentando despertar a sua inteligência. Toda a sociedade tentou fazê-lo inconsciente de sua inteligência. A sociedade é contra a sua inteligência. Ela quer que você seja medíocre, porque somente os medíocres podem ser bons escravos. Ela quer você sem inteligência e estúpido, porque somente as pessoas estúpidas podem ser dominadas.
E as pessoas estúpidas são obedientes, nunca são rebeldes. Pessoas estúpidas simplesmente vegetam. Elas nunca se esforçam para otimizar suas vidas. Elas nunca acendem as tochas de suas vidas, elas não têm intensidade. A estupidez é obediente e a obediência cria estupidez.(...)
A sociedade quer que você seja estúpida. As pessoas estúpidas são boas pessoas. Elas sempre permanecem com o status quo, elas nunca vão contra ele. Ainda que elas estejam vendo a podridão das coisas, elas fecham seus olhos ou estão sempre prontas para aceitar qualquer explicação estúpida.
Por exemplo, este país tem sido pobre há séculos, faminto e sofredor. Mas, porque as pessoas são religiosas, obedientes e estúpidas, lhes são dadas explicações de todo tipo e elas aceitam. Alguns acreditam que Deus os fez pobres porque a pobreza é alguma coisa muito piedosa. Eles veneram a pobreza; na Índia a pobreza é venerada. Se você renunciar às suas riquezas e tornar-se um faquir nu, milhões de pessoas irão pensar que você é um sábio. Você pode ser apenas um estúpido, mas porque renunciou às riquezas, você tornou-se um grande sábio. Eu tenho visto muitos sábios estúpidos.
Agora, isto é uma contradição em termos. Como pode uma pessoa estúpida ser um sábio? Um sábio tem que ter sabedoria! Mas é muito difícil neste mundo ser sábio e ser venerado. As pessoas sábias têm sido assassinadas, crucificadas, envenenadas. E as pessoas estúpidas têm sido veneradas. Pessoas estúpidas simplesmente seguem o que a sociedade diz, o que a sociedade quer que elas façam. E elas fazem, simplesmente.
Gandhi costumava chamar as pessoas pobres daridra narayana – o pobre é divino. A pobreza é divina! As pessoas pobres são deuses! Se isto fosse verdade, então quem não iria querer ser pobre? Se os pobres são deuses? Quem não gostaria de ser deus?
E então surge uma outra explicação: você é pobre porque em suas vidas passadas cometeu pecados. Essa outra explicação deve ter sido inventada por quem não acredita em Deus. Os jainas e os budistas não acreditam em Deus, assim você não pode lhes atribuir a primeira explicação. Eles precisam de outra explicação: a teoria do karma. Mas o propósito é o mesmo!
Nesta teoria, se você tiver cometido pecados em sua vida passada, é melhor você colocar um fim nesse karma. Aceite a pobreza e entre nela sem qualquer resistência. Se você criar alguma resistência, então você estará criando novamente karma ruim e você sofrerá na sua vida futura. Chega, já é o bastante! Termine agora com esta coisa toda; sofra este momento contentemente. Assim, as pessoas têm se tornado vacas e búfalos; contentemente elas estão sofrendo, sem resistência e sem rebelião.
A sociedade quer que você seja estúpida, não inteligente. A inteligência é perigosa. Inteligência significa que você começa a pensar por si mesma, você começa olhar ao redor de si mesma. Você não acreditará nas escrituras, você acreditará somente na sua própria experiência.
Dhyana Yogi, por favor não acredite no que eu digo. Experimente, medite, experiencie! A não ser que isto se torne a sua própria compreensão, nada irá ajudá-la.
Você me pergunta:
Por que eu estou sentindo que alguma coisa está faltando?
Porque sempre lhe foi dito que você tem que encontrar alguma coisa. E você não está encontrando. Por isto surge a sensação de que algo está faltando. Eu estou lhe dizendo que antes de tudo você nada perdeu. Por favor, pare de tentar encontrar, pare de buscar e procurar. Você já tem! Tudo o que é preciso você já tem. Simplesmente olhe para dentro e você encontrará tesouros infinitos e inesgotáveis de alegria, amor e êxtase.
Nada estará faltando se você olhar para dentro, mas se você continuar procurando do lado de fora, você se sentirá mais e mais frustrada. E na medida em que você ficar mais velha, naturalmente, irá sentir que sua vida está escorregando de suas mãos e que você ainda não encontrou. E toda a ironia é que, antes de tudo, você nada perdeu! Aquilo sempre esteve dentro de você, neste momento está dentro de você.
Mas não acredite em mim. Eu não estou aqui para criar crentes. Eu estou aqui para ajudá-la a experienciar. No momento em que a verdade se torna sua experiência, ela liberta. A verdade liberta, diz Jesus – não a crença, mas a verdade.
Mas a minha verdade não pode ser a sua verdade. A minha verdade será a sua crença. Somente a sua verdade pode ser verdadeira para você. A verdade certamente liberta, mas eu acrescento que a verdade tem que ser a sua verdade. A verdade de nenhuma outra pessoa pode libertar você. A verdade de outra pessoa se tornará apenas um aprisionamento.
Dhyana Yogi, nada está lhe faltando. Nada está faltando a ninguém. Pela própria natureza das coisas, nada pode estar nos faltando. Nós somos parte de Deus e ele é parte de nós. Não tem jeito, não há possibilidade de estar faltando algo. Como você pode escapar de si mesma? Para onde for, você permanecerá você mesma. Mesmo no inferno, você continuará sendo você, porque não é possível escapar de si mesma, não é possível escapar de Deus.
Ele está ali esperando pacientemente que você olhe para dentro.
Você me pergunta:
Por que eu estou sentindo que deveria ser algo a mais?
Foi-lhe dito repetidas vezes: ‘Seja alguém! Veja Goutama Buda, Krishna, Cristo. Seja um Buda, um Krishna, um Cristo.’ Daí, certamente você morrerá na miséria, angustiada, completamente frustrada, chorando aos prantos, porque você não consegue ser um Buda. Você não está aqui para ser um Buda! Você não consegue ser um Cristo ou um Krishna. Você somente consegue ser você mesma.
Um grande Mestre hassid, Zusya, estava morrendo. As pessoas se juntaram, discípulos e simpatizantes. Um homem idoso perguntou. ‘Zusya, logo você estará face a face diante de Deus, pois você está morrendo, e, quando estiver diante dele, você será capaz de lhe dizer que seguiu Moisés absolutamente, verdadeiramente?’
Zusya abriu seus olhos e estas foram as suas últimas palavras. Ele disse, ‘Pare de falar tolices! Deus não irá me perguntar, ‘Zusya, por que você não foi um Moisés?’ Ele me perguntará, ‘Zusya, por que você não foi um Zusya?’
Você tem que ser justamente você mesmo e ninguém mais. Na verdade isto é o que significa natureza búdica: ser você mesmo.
Isto é o que significa consciência crística: simplesmente ser você mesmo. Buda não é uma imitação de alguma outra pessoa. Você acha que antes dele não existiram muitos grandes homens? Devem ter dito a ele, ‘Seja um Krishna! Seja um Parshwanatha! Seja um Adinatha!’ Ele deve ter ouvido belas histórias e mitologias. Ele deve ter lido Puranas, as histórias antigas a respeito de grandes homens como Rama, Krishna, Parushrama. Ele deve ter ouvido tudo, deve ter recebido a herança. Mas ele nunca tentou ser outra pessoa. Ele queria ser ele mesmo, queria saber quem ele era. Ele nunca se tornou um imitador. É por isto que um dia ele se tornou iluminado.
Jesus nunca tentou ser Abraão, Moisés ou Ezequiel. Jesus simplesmente tentou ser ele mesmo. Este foi seu crime, por isto ele foi crucificado. As mesmas pessoas que crucificaram Jesus iriam adorá-lo se ele fosse apenas um imitador, uma cópia de Moisés. Se ele fosse um gravador repetindo os Dez Mandamentos, os judeus o teriam adorado. Mas eles tiveram que crucificar o homem, ele era apenas ele mesmo.
A sociedade apodrecida, a multidão, a mente das massas não conseguem tolerar os indivíduos. É impossível para eles tolerar um Sócrates. Vocês sabem por qual crime Sócrates foi acusado? Exatamente a mesma coisa que dizem a meu respeito. A acusação contra Sócrates é de que ele costumava corromper a mente da juventude. É exatamente o que meus inimigos dizem: que eu estou corrompendo a mente das pessoas, em particular a mente dos jovens.
E Sócrates estava corrompendo a mente dos jovens? Ele estava tentando despertar a inteligência deles, mas a sociedade ficou com medo. Se muitas pessoas se tornassem autênticas e verdadeiras, isso colocaria em perigo os interesses ocultos, eles não conseguiriam mais dirigir as pessoas como gado. E isto é o que os sacerdotes gostam de fazer e os políticos também.
Existe uma conspiração entre os sacerdotes e os políticos para explorar as pessoas, para dominá-las, para oprimi-las. E o mais fundamental é: nunca permita que elas se tornem inteligentes. Dê a elas um substituto. O que é um substituto para a inteligência? A intelectualidade. Dê educação para elas, mande-as para a escola, para os colégios, para as universidades e torne-as intelectuais.
Vocês conhecem universidades que criam inteligências? Elas criam intelectuais, criam eruditos, pessoas que conhecem as escrituras, mas elas não criam pessoas inteligentes. Elas servem à sociedade. O sistema educacional foi inventado por esta sociedade apodrecida para servir aos seus próprios propósitos. Ele não existe para ajudar você, ele existe para manter você na escravidão.
Dhyana Yogi, Eu não posso ajudá-la a deixar essa besteira de lado. Eu só posso ajudá-la a ser mais consciente. E se você se tornar mais consciente, essas besteiras serão abandonadas naturalmente. Um dia, de repente, você perceberá que estão desaparecendo... De repente. Na medida em que a consciência se aprofunda, todo o lixo desaparece, da mesma maneira como a escuridão desaparece quando você traz a luz.
Buda diz: ‘Torne-se mais consciente e a luz começará a jorrar... ais dhammo sanantano.”
OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 6 – pergunta n° 3
Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda
tradução: Sw.Bodhi Champak
Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
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