O Protagonista
Não ouviras de mim, Protagonista, uma única palavra em defesa.
És tu que deves brilhar. Sou teu auxiliar, teu servidor e concorro apenas para o teu bem.
Como coadjuvante, não preciso ter razão. Minha expectativas, se existem, são apenas para te fazer-te brilhar mais. Nada é para mim.
Contente, contento-me em servi-lo bem, sem necessidade de aplausos.
Sirvo-o não para agradá-lo, pois já não posso agradá-lo, mas talvez fazê-lo mais robusto.
Elogios e criticas dirigidas a mim me corrigem ou consolidam um aprendizado, mas em nada afetam a cena, pois os holofotes são apenas para ti, Protagonista.
E por me dedicar totalmente a ti, esqueço de mim e do reconhecimento já não me alimento mais. Então me pergunto: onde foram parar todas as afetações que com ele residiam?
O que me sobra é a paz do dever cumprindo-se. Não um cumprimento perfeito, pois não posso dar o que não sou, mas um perfeito cumprimento de dar tudo que sou, sem ressalvas.
Não penses, Protagonista, que lhe darei tudo que queres. Te darei apenas o que dão os amigos. Te darei combustível para o teu fogo brilhar, ainda que de mim sobre apenas cinzas.
E não penses que por tudo doar, me tornarei frio e vazio. Um bom servo deve se manter saudável para melhor servir seu amo. Diante de você, comerei as sobras, deixarei de dormir e cederei minhas cobertas. Mas quando sozinho, treinarei e cuidarei arduamente do meu corpo e minha mente para melhor servir-te. Não cuidarei do meu espírito, pois meu espírito és tu.
Vazio de mim sim, mas não vazio de tudo, pois tenho que ter o melhor para te servir o melhor. Mas só o melhor de coadjuvante, Protagonista, para não rivalizar contigo.
Protagonista. Tu és para mim o amigo, o mestre, o ser amado.
És o meu caminho, a verdade e a vida.
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Dedico este texto aos quatro protagonistas da minha vida:
minha esposa,
meu filho,
minha Alma,
e o amigo ou amiga que nos lê por cópia.