OS AMARGOS SOFRIMENTOS DE WERTHER, de Jonhann Wolfgang Goethe
Obra essencialmente psicológica publicada em 1774, na Alemanha do século XVIII, assinala o início da estética literária denominada Romantismo. Baseada em um fato real da vida do autor, o livro narra o amor não-correspondido do jovem Werther pela bela Charlotte S. A história se desenrola quando Werther a fim de tomar posse de uma herança instala-se numa pequena cidade, onde conhece e enamora-se de Charlotte durante uma festa campestre. Esta, porém, é noiva e está prometida a Albert, tornando-se mais tarde sua esposa.
Perdidamente apaixonado por Charlotte, Werther utiliza-se de cartas enviadas ao amigo Wilhelm que deixara em sua cidade natal para contar seu idílio amoroso:
16 de junho
Por que não lhe tenho escrito? Justamente você, que é um sábio, me pergunta isso? Devia ter adivinhado que estou muito bem e que... resumindo, conheci alguém que tocou o meu coração. Eu... eu não sei mais o que dizer. Não é fácil contar-lhe na ordem como as coisas aconteceram, que me fizeram conhecer a mais adorável das criaturas. Sinto-me contente, feliz; serei, por conseguinte, um mau cronista. É um anjo!... Ora, já sei que todos dizem isso de sua amada, não é verdade? Todavia, é-me impossível dizer a você o quanto ela é perfeita, e o porquê de ser tão perfeita. Só isto basta: ela tomou conta de todo o meu ser. (GOETHE, 2002, p. 23)
Dominado por essa paixão intensa, Werther passa a frequentar assiduamente a casa de Charlotte, enquanto o noivo está fora. É, então, que Albert retorna de viagem. Werther logo se torna amigo dele e continua a frequentar a casa dela. Entretanto, com o passar do tempo esta situação vai angustiando-o e ele toma a difícil decisão de não mais vê-la, como escreve a Wilhelm:
30 de julho
Albert voltou, e eu quero partir. Mesmo que ele fosse o melhor, o mais nobre dos homens, e eu me reconhecesse inferior a ele de todos os pontos de vista, ainda assim não suportaria vê-lo, com os meus próprios olhos, possuidor de tantas perfeições...Possuidor!...Wilhelm, isto é o bastante: o noivo está aqui. (GOETHE, 2002, p. 44)
3 de setembro
Preciso ir embora. Obrigado, Wilhelm, por haver tomado por mim uma decisão! Há quinze dias já que eu penso em afastar-me dela. Tenho de ir! Ela veio à cidade ainda uma vez em visita a uma amiga. E Albert...eu...tenho de ir embora! (GOETHE, 2002, p. 57)
Roído pelo ciúme, Werther parte sem dizer adeus, pondo-se por algum tempo a serviço de um embaixador, porém, logo se desentende com ele e pede demissão. Uma nova decisão repentina o empurra de volta para Charlotte, agora já casada com Albert. Em muitos momentos as epístolas a Wilhelm confundem-se com um diário íntimo, no qual o herói deixa transparecer o sofrimento e o crescente desespero que vão se apossando de sua alma vítima de um amor inacessível:
Por que é que aquilo que faz a felicidade do homem acaba sendo também a fonte de suas desgraças? [...] É como se um véu que se tivesse rasgado diante de minha alma e o espetáculo da vida infinita se transformasse em um túmulo eternamente escancarado diante de mim. [...] E é assim que caminho, vacilante e o coração oprimido entre o céu e a terra com as suas forças sempre ativas, e nada mais vejo senão um monstro sempre esfomeado e devorador. [...] Oh, quando, ainda cambaleando de sono eu a procuro a meu lado, tateando, e, ao fazê-lo, de repente acordo completamente, e então choro desolado, contemplando amargurado o sombrio futuro que me aguarda. [...] Assim sendo, meu amigo, a aspiração que sinto de mudar de vida não será uma secreta inquietude, um mal-estar interior que me perseguirá por toda parte? [...] Infeliz! Você está louco? Por que procura enganar a si mesmo? Para onde vai levar essa paixão furiosa e sem limites?... (GOETHE, 2002, p. 52-56)
Diante disso, Werther não podendo mais suportar esse sofrimento vai aos poucos esboçando em seu espírito a ideia de que só a morte poderá libertá-lo, deixando-a subentendida nas entrelinhas de suas cartas:
Wilhelm, a permanência numa cela solitária, o cilício e o cinto de pontas de ferro são o consolo a que minha alma aspira!... Adeus! Só vejo um final para esta miséria: o túmulo. (GOETHE, 2002, p. 56)
Após considerar a possibilidade de matar Albert ou de que Charlotte morra, ele decide dar cabo da própria vida, conforme este trecho da última carta que deixara para Lotte:
Quero morrer! Dormi, e esta manhã, erguendo-me tranquilo, encontrei ainda em mim aquela resolução, sempre firme, forte e inabalável: Quero morrer!... Não é o desespero; é a convicção de que suportei quanto pude e de que eu me sacrificarei por você...É preciso que um de nós três desapareça, e sou eu quem deve desaparecer. Oh, minha adorada, neste coração dilacerado muitas vezes se insinuou a ideia desvairada...de matar seu marido!...de matar você...de matar a mim! (GOETHE, 2002, p. 102)
A partir daí, Werther pôs-se a planejar de forma calma e serena seu suicídio, utilizando-se de um pretexto simples para que ninguém desconfiasse de sua intenção. E, antes da meia noite, a hora fatal, em seu quarto, Werther escreveu ainda um último bilhete ao pai de Lotte pedindo-lhe que cuidasse de seu corpo. Em seguida pediu uma garrafa de vinho e mais lenha no fogo da lareira. Estava, pois, saindo da vida para a eternidade.
Algum tempo depois de sua publicação, o livro de Goethe passou a ser proibido pelas autoridades alemãs sob a alegação de que fazia apologia ao suicídio. Entretanto, “os sofrimentos do jovem Werther” tornara-se já uma verdadeira mania entre moças e rapazes, que passaram a vestir-se como os protagonistas do romance. Até mesmo um perfume conhecido como ‘água de Werther’ fora lançado na época.
O romance de Goethe foi tão idolatrado, que alguns leitores resolveram levar ao extremo à devoção ao herói a ponto de atentarem contra suas próprias vidas, tendo-se contado diversos casos de suicídio inspirados ‘à moda’ de Werther.
Há quem afirme que o processo de composição do romance impedira o jovem poeta Jonhann Wolfang Goethe de antecipar-se ao ato de desespero que narra em seu romance, uma vez que anos atrás o autor experimentara um idílio semelhante pela esposa de seu melhor amigo.
Em suma: um clássico que vale a pena ser lido e relido.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GOETHE. Os sofrimentos do jovem Werther. 1 ed. São Paulo: Martin Claret, 2002.