O Mito de Prometeu

“Nada de grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”.

(Sófocles)

É com esse tom alarmista que começa o documentário O dilema das redes, e até o final o catastrofismo só recrudesce, seguido por uma trilha sonora aterrorizante.

O documentário tem no enredo ex-colaboradores do Google, Facebook, Twitter, Instagram e Pinterest e atores interpretando a família de um viciado no seu celular, como um viciado em heroína ou um zumbi. Os ex-funcionários “com peso na consciência” depõem como alguém muito arrependido do mal que fez. O núcleo dramático exagerou na interpretação. O garoto lembra um “noia”, em situação irrecuperável, na Cracolândia.

A utilização extremamente exagerada de redes sociais é identificável, bem como a enxurrada dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e adrenalina desencadeada por “curtidas”, “joinhas” “coments”, “compartilhamentos”, “retweets” ou “likes”. Porém tudo em excesso ou utilizado de maneira errada é prejudicial. Como explicar um sujeito que reclama que o Twitter é uma “rede de ódio”, utilizando-o compulsivamente?

Outro “efeito colateral” lamentado pelos supostos ex-funcionários “arrependidos” é a influência do acesso às redes sociais nos resultados das eleições pelo mundo. É só conhecer um pouco de história para concluir que o processo eleitoral sempre foi controlado e definido por “alguéns”. Os celulares, tablets, notebooks e desktops não agem sem as pessoas. Esse é o sentido original, e tão deturpado, da palavra “democracia” (poder do povo).

A conclusão fácil de chegar é que até Google e Facebook, e arrisco, todo o Vale do Silício estão assustados com o que isso virou e, pelos prognósticos, onde tudo isso irá chegar. Todo o filme, obedece uma narrativa que mais parece um desesperado pedido de socorro das mídias tradicionais: desligue esse aparelho do demônio, e volte a ver TV e ler jornais.

São mostradas pessoas brigando, protestos e vídeos (internet) com as mentiras mais deslavadas (Terra Plana e outras teorias absurdas) - ditas em clima alarmista por moleques sem nenhuma credibilidade. O clima de fim de mundo chega ao paroxismo quando o locutor vaticina que o uso desenfreado das redes sociais poderá culminar numa guerra civil. Eu lembro que guerras civis são inerentes ao ser humano. Exemplos: Guerra Civil dos Estados Unidos, 1861 e Guerra Civil Espanhola, 1936.

No final, quando falam de eleições, caem as máscaras, ficam explícitas as reais intenções do tardio alerta ao uso exagerado das redes sociais. Esse warning (aviso) não veio quando o Obama foi eleito usando com alarde as redes. No que parece uma ação coordenada, a palavra “democracia” foi, muitas vezes, torturada, para ser usada sem sentido e apavorar até quem não tem a mínima ideia do que o termo significa, afinal “a democracia está em perigo”.

A peça toda vai aumentando o inimigo e botando mais medo, chegando ao ponto de expor o “homem rico” (o malvado capitalista) como o grande algoz por trás de toda a trama. A solução sugerida: regulamentação e taxação.

O documentário acerta quando alerta quanto ao uso exagerado das redes sociais, propondo um “detox” (desintoxicação) aos dependentes; erra pelo tom catastrofista, um tanto quanto infantil, esquecendo-se que fala, principalmente, com adultos.

RRRafael
Enviado por RRRafael em 25/09/2020
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