PESQUE E SOLTE - NA ÓTICA DOS PEIXES
PESQUE E SOLTE - NA ÓTICA DOS PEIXES
Porque não sou a favor dessa modalidade de pescaria
Autor: Moyses Laredo
É uma modalidade de pescaria muito concorrida, ganha adeptos a cada programa de tv, vende de tudo, até coisas fora dos equipamentos de pesca, tais como barracas, lanternas, cobertores, e por aí vai. O comércio flui sem atropelos, todos na cadeia negocial se sentem muitíssimo bem remunerados e cada vez mais ricos, mas...e os peixes, como se sentem? Alguém já parou para analisar a situação de um peixe que lutou ferozmente, com um pedaço de aço enterrado no céu da boca?... a dor deve ser lacerante e aguda, enquanto que, o humano, por sua vez, continua puxando, aumentando a pressão e enterrando mais profundamente o anzol? O peixe, seja de que tamanho for, usa dos seus recursos para não ser puxado, e olhe que ele não tem em que se segurar, é só com a força das barbatanas, contra as linhas de nylon que resistem a cinco vezes o peso dele. O tucunaré, peixe oriundo dos rios da Amazônia, quando fisgado, corre para as raízes dos troncos, e se enrosca nelas, não conseguem retirá-lo dali, a não ser, quando o caboco resolve mergulhar para buscá-lo, se não, ele não sai dali e morre, mas morre como herói rodeados dos seus. Quando a sorte não lhe sorrir, da linha partir, e ele não está por perto da margem, é apanhado, fotografado, posto no colo, até beijado e... solto, solto muito longe de onde foi pego, ou seja, fora do seu habitat, talvez em territórios hostis, mas, quem se importa com isso, o que vale é continuar a diversão. Imagine você descer do ônibus numa rua deserta, num lugar desconhecido, cheio de marginais à sua espera, ávidos para lhe assaltar, assim mesmo deve se sentir o peixe que é solto, principalmente quando ele for dos pequenos, longe de casa, distante do seu abrigo natural, das raízes das árvores submersas, e das imensas vitórias-régias não tem como sobreviver. Tão logo são jogados n’água, pois quem os pescou, acham que a água é a mesma para os peixes; eles ainda grogues, sem noção, nadando lentamente, são sugados por um maior, que o está espreitando, ao perceber suas reações anormais, entendem que é fraqueza e avançam com fúria, e o pobre, que foi poupado por ter suas medidas abaixo, na tabela estipuladas para a pesca, é engolido sem a mínima chance, mas, o pessoal que o pescou, nem viu isso, acharam lindo, se parabenizaram, quem o fisgou guardou as fotos para mostrar em casa, no escritório, enquanto que o peixe, já nem mais existe. Há outros, que depois de soltos e extraído o anzol de alicate, com brutalidade, arrancando até pequenos pedaços da estrutura da boca. A boca dos peixes é anterior, e as câmaras branquiais, são cobertas por placas ósseas móveis, chamados de opérculos. Graças aos movimentos sincronizados de abertura e fechamento da boca e dos opérculos, o peixe estabelece um contínuo fluxo de água, entrando pela boca e saindo pela abertura lateral do opérculo (Portal BioMania) é um mecanismo delicado. São devolvidos às águas, todo estropiados, por cima, ainda caem “ouvindo” a carinhosa recomendação dos seus algozes “- Volte para a vida peixinho”, mas, ao entrarem n’água, nadam com as forças que ainda lhe restam, vão direto para as profundezas, para se abrigarem nas vegetações do leito do rio, sentindo aquela dor terrível no céu da boca, ou até, com as guelras sangrando, prato feito para as piranhas. Quando escapam, quanto tempo eles voltarão a se alimentar?...se pelo menos passassem um spray contra as feridas. Se fosse nos humanos, certamente ali seria uma afta das enormes, mas não, deixam-nos sofrerem com suas feridas abertas, pois já lhes deram o prazer que buscavam.
A pior situação é a dos peixes de tanques, tipo pesque e pague, onde todos sofrem diariamente com isso, são fisgadas inúmeras vezes ao dia em troca de comida que são racionadas propositalmente, justamente para que fiquem esfomeados e corram para os anzóis ao menor ruído n’água, andam com as bocas laceradas de feridas mal cicatrizadas, é um sofrimento sem tamanho, mas, os peixes não se queixam, levam as suas vidas assim mesmo, acham que é seus destinos, mas em verdade, não era pra ser assim, foram criados para servirem de alimentos aos humanos e nunca para servirem de diversão em troca dos seus sofrimentos. Essa é a modalidade de pesca esportiva, a tal de pesque e solte, grande burrice desse povo, que desconhecem que as espécies tendem a evoluir como explica com clareza a Teoria da Evolução de Charles Darwin. Uma das pedras angulares da ciência moderna, a Teoria da Evolução, estabelece que as espécies mudam gradativamente através da seleção natural, um dia, quem sabe, não será mais possível pescar com anzóis, os peixes ficarão velhacos e fugirão às léguas ao verem aquele brilho característicos dos anzóis na água. Alguns cabocos criados na Amazônia, já perceberam isso, procuram esconder a ponta do anzol, no meio da isca, fazem isso porque já notaram que afugenta os peixes, quando ficam à amostra. Dizem que já há escarces dos peixes de maior porte, os mais experientes, já estão aprendendo a reconhecer um anzol a vista. Novos tipos de iscas artificiais estão sendo desenvolvidas como as que nadam e exalam um odor característico, tudo no intuito de enganá-los, mas esquece que, o inconsciente coletivo deles também trabalha. A definição de inconsciente coletivo, diz que são as imagens primordiais que estão ligadas ao primeiro nível da psique. “Essas imagens nos são repassadas por nossos predecessores, não apenas os humanos vindos antes de nós, mas também os animais irracionais” (Carl Jung).