A Cabeça Bem Feita, repensar o pensado, reformar o formado
Tema: Ensino, Sociedade, Saber
Na visão clara de Michel de Montaigne; é impreterível ao indivíduo, ser dotado de “uma cabeça bem feita” para exponenciar a sua capacidade cognitiva e assim contribuir para a Sociedade. Entretanto a significância do termo “uma cabeça bem feita”, perpassa o simples acúmulo de informação e conhecimento sobre um ínterim de temas e áreas de saberes. É preponderante que haja sim um princípio de seleção de conteúdo mental intrínseco do indivíduo, juntamente com uma capacidade lógico/dedutiva de poder adaptá-lo à problemáticas práticas, para que permita ligar os saberes e dando-lhe assim sentido. Montaigne objeta então com a sua asseveração “cabeça bem feita”, explicitar que é pertinaz colocar e organizar de forma prático/lógica todos os saberes acumulados por um determinado indivíduo a fim de ligá-los e pô-los em prática, ensejando resolver um determinado problema e/ou situação que se apresenta.
Entretanto para atingir este patamar de ligar o saberes e colocá-los em prática na resolução de problemas, não é uma questão simples, que seja explicada com colocações superficiais e dadas. Envolve reflexão e o desenvolvimento de aptidões gerais da mente. Isto, insopitavelmente acarreta em desenvolver também, as competências do indivíduo tangentes às particularidades/especializadas. Neste ponto é relevante frisar que; o quanto mais é desenvolvida e vasta a inteligência geral, muito maior é a capacidade de tratar problemáticas específicas, fazendo uso dos diferentes saberes acumulados, ensejando aplicá-los nas especificidades apresentadas para solucionamento.
A educação deve ser vista como uma ferramenta em que exponenciará e favorecerá a aptidão natural do indivíduo no que concerne o seu intelecto, colocando-o para resolver problemáticas que requeiram os saberes múltiplos, com um viés estimulativo e criativo. E pode-se chegar a este clímax desejável e magnífico, com o emprego da curiosidade, portanto não se deve sob nenhuma hipótese errônea e deselegante tolher a curiosidade do indivíduo, muito menos quando este encontra-se na infância ou adolescência. Em se tratando da inteligência geral, o seu desenvolvimento está intimamente atrelado à dúvida. A dúvida fomenta todo pensamento, nos força a violentar os próprios sentidos e aplicar a falseabilidade no que suponhamos saber. Enfim a dúvida põe por terra todas as certezas, e faz a pessoa recorrer à lógica, a dedução e a inferência para argumentar e discutir consigo mesmo. E isto leva a pessoa a exponenciar o seu saber, alargando o horizonte de conhecimento. É portanto antagônico ao caráter limitante da especialização tecnicista restrita em que se dá a educação já nos níveis do ensino superior. A curiosidade mental, serve como ponte sólida para interligar os saberes acumulados.
A utilização da inteligência geral faz-se preterível em todos os domínios da cultura humana, na ciência e nas atividades corriqueiras diárias.
Portanto uma cabeça bem feita, concerne em; um intelecto em condições plenas de organizar o conhecimento acumulado, evitando ao máximo reter conhecimento estéril, isto é, informações que não podem serem aplicadas, classificadas como nulas. É imperativo dotar o indivíduo de capacidades e potencialidades para dar sentido a todo o conhecimento que venha a reter e armazenar.
O conhecimento concerne em absorção de informações, e também uma reconstrução, partindo dos sinais e simbologia adquiridos sob a forma de informação/representação. Conhecimento comporta operações de natureza lógica seja ela dedutiva ou indutiva; separação, dúvida, oposição, seleção e exclusão. É um processo cíclico em que as etapas citadas acima, muitas vezes se sobrepõe, culminando com a análise e a síntese das informações retidas. O modo em voga do conhecimento, tal como é tratado, desune os objetos entre si, isolando-os dos seus próprios contextos naturais, criando compartimentos estanques, incomunicáveis.
(Fonte: A Cabeça Bem-Feita – Edgar Morin)