Banalização do mal
Banalização do mal
O filósofo Sócrates dizia que quando estamos discutindo sobre ética, não estamos falando sobre algo sem importância, mas sim de como deveríamos viver. Em 2014, no Guarujá (estado de São Paulo), uma mulher foi espancada até a morte por populares, após uma página de uma rede social publicar um retrato falado dela, dizendo ser suspeita de vários sequestros e até mesmo bruxaria, e tudo isso não passava de uma fake News.
Estamos vivendo na atualidade sob um tribunal virtual. Um tribunal onde todos, escondidos detrás de uma tela fria, se acham no direito de serem juízes, humilham e acabam com a vida de outros. Alguns sequer tem consciência. Nesse cenário virtual, a dignidade do ser humano está se perdendo. O Filósofo Kant em seu imperativo categórico deixa expresso que devemos agir de tal modo que a máxima de nossa ação deve se transformar em lei universal. Assim como na vida prática, a vida virtual deve ser levada a sério, e devemos agir eticamente, como gostaríamos que todos agissem. Não há justiça em tirar a vida de alguém, pois quando se mata um assassino, no mesmo ato surge outro, há outras maneiras de se fazer com que a pessoa pague pelos seus erros.
O professor Urbano Zilles (2012) aborda um tema importante em seu livro “Pessoa e dignidade humana” quanto traz à luz que o respeito, a autonomia e a dignidade são os princípios fundamentadores do comportamento ético do ser humano em sociedade. E vai além, ao dizer que a pessoa tem direito a boa fama. Para Tomás de Aquino a boa fama é um exemplo para o próximo. A injusta difamação é um pecado contra a caridade e, principalmente contra a justiça. No caso do início do texto, a difamação, infelizmente, ceifou a vida da mulher que não teve tempo para se defender. É perfeitamente possível afirmar que a difamação é um delito grave contra a dignidade humana.
A banalidade do mal é um tipo de mal sem relação com a maldade, uma patologia ou uma convicção ideológica, ou seja, é mal como causa do mal, onde o praticante do mal banal não conhece a sua culpa. Os juízes da internet não se sentem culpados em julgar e tecer sua sentença e em espalhar ainda mais a difamação, pois nos muitos casos eles nem conhecem os seus réus. Acreditam que estão fazendo um bem para a sociedade ao enviar a notícia para o maior número de pessoas possível, para que o réu pague pelos seus erros.
Referência
ZILLES, Urbano. Pessoa e dignidade humana. Curitiba: CRV, 2012.
KANT, Immanuel. Fundamentação da metafísica dos Costumes. Lisboa: edições 70, 2008.