O ATAQUE DOS BEBÊS BABÕES!
UMA OUTRA VERSÃO DE “A GRAMA DO VIZINHO É MAIS VERDINHA”!
*Por Antônio F. Bispo
Em uma sala de uma creche, vários bebês brincam com seus chocalhos. Todos os bebês tem praticamente a mesma idade. Todos os chocalhos são iguais. Todos esses brinquedos possuem o mesmo formato, a mesma cor, o mesmo tamanho e faz o mesmo tipo barulho ao serem sacudidos no ar.
As crianças mordem a parte macia, babam e fazem sempre o mesmo barulho repetitivo com o objeto. Todas elas, pelas limitações dos seus corpos e mente fazem praticamente a mesma coisa o tempo todo. Quase nada fazem de diferente umas das outras.
De repente, uma das crianças começa a olhar para o seu próprio brinquedo e observar todos os detalhes deste. Ao invés de mordê-lo e babá-lo, ela começa a balbuciar sons ininteligíveis para o chocalho como se quisesse falar com ele. Ela o eleva, põe na altura dos olhos e continua a encará-lo. Ela ri para o objeto como se o mesmo fosse animado ou engraçado e parece se divertir com aquilo que o objeto lhe “diz”.
Todas as crianças da mesma idade e com os mesmos tipos de brinquedos voltam os seus olhos para este pequeno que parece ter um brinquedo diferente dos demais. Todas elas abandonam os próprios brinquedos e engatinham em direção ao bebê que parece ter um brinquedo mágico.
O bebê que usou o brinquedo de modo diferente tenta a todo custo segurar o chocalho, mas é preciso a intervenção da supervisora para livrá-lo de mordidas babadas das bocas desdentadas dos seus coleguinhas. Ele que fizera com que um objeto simples se tornasse algo deslumbrante virara alvo da “ira” de seus companheiros, que desejosos pelo objeto buscavam o brinquedo “importante” para sentirem-se tão “poderosos” quanto era o seu possuidor ao interagir com o objeto inanimado.
A babá ao intervir, tira-lhe o chocalho e oferece-o ao bebê que parecia ser o mais agressivo e desejoso pelo “chocalho mágico”. Um líder alpha desde o berço, que no modo mais primitivo do seu ser já está ale medindo forças, disputando territórios e angariando seguidores ao instigar a possibilidade de conquista daquilo que era do interesse de todos.
O novo possuidor pega então o objeto, segura-o por alguns segundos, observa-o, vê que não há mágica nenhuma ali e torna a fazer o que fazia com o seu próprio mordedor: morder, babar e chacoalhar.
Depois de perceber que o objeto é tão normal quanto o seu próprio, ele larga-o e volta a usar o seu anterior. Um a um, todos os bebês repetem o ato. Todos chegam a mesma conclusão que não há mágica alguma naquele objeto e todos o abandonam e voltam aos seus próprios com suas ações repetitivas.
A criança que tivera seu objeto subtraído para dar às outras se vê obrigada a brincar com outras coisas. Tudo o que ela pega parece ser mágico. Ela ri, brinca, conversa e usa os brinquedos de formas diferentes dos outros. Tudo o que ela pega parece estar vivo, como se interagisse com ela. Isso chama a atenção de todas as outras crianças que repetem a ação de desejar e disputar o objeto que esta vier possuir.
A cuidadora estará sempre lá para defendê-lo das mentes de pouca criatividade e muita ambição, que projeta sua felicidade naquilo que está em posse dos outros coleguinhas como se nada possuíssem que pudesse lhes dar prazer e desse modo fazem de tudo para tomar para si o objeto da felicidade alheia. O ser humano em seu estado básico primitivo.
Assim os dias passam e eles se acostumam nessa vida, procurando algo que lhes prenda atenção e lhes proporcione algum tipo de prazer, ainda que temporário. Pela tenra idade, a logica e outros fatores não são levado em conta, apenas os instintos básicos prevalecem.
Pois bem, as crianças babonas um dia crescem! Agora seus “chocalhos” assumem diferentes formas de acordo com o local ou valores nos grupos quais estão inseridos.
O “objeto mágico” poder ser um carro, uma casa, roupas, empregos, títulos honoríficos, fama, fortuna, a estética do corpo, o desejo de ter uma genitália grande ou de “pegar” alguém que tenha, o desejo de ser reconhecido sempre em tudo o que faz, etc.
Sempre projetando a própria felicidade em coisas aleatórias, em outras pessoas ou naquilo que está em poder dos outros, essas crianças crescidas não podem ver um “chocalho” diferente, algo que faça barulho, que brilhe ou chame de alguma forma a atenção do maior número possível de pessoas para que elas, todas juntas começam a disputar entre si, a posse de tal objeto.
Nessa disputa insana, todas as coisas ao redor destes bebês crescidos perdem o seu valor funcional. Tudo, absolutamente tudo! Aquilo que deveria ser para lhes ser útil de alguma forma, servirá apenas como objeto de ostentação para gerar a cobiça alheia. Isso lhes dar prazer.
Um objeto de marfim ou a pele de um urso esticada no chão da sala; um anel de diamante que passa o tempo inteiro em um esconderijo ou uma patente estampada no peito: não importa se custou a vida de animais, de pessoas ou de etnias inteiras para conseguir esse “chocalho”. Importa que ele brilhe, que faça barulho e que desta forma chame a atenção de outras “crianças”, para que por meio da falsa lisonja ou da inveja, o possuidor sinta-se um deus em seu curto período de vida nesse corpo mortal.
Enquanto o “bebê babão” não vir os outros desejando o seu novo “chocalho”, ele sentir-se-á vazio, triste e melancólico como se ele mesmo não tivesse valor próprio algum. O valor que tem ou deseja ter, depende sempre da opinião ou cobiça alheia.
Nesse ritmo louco, a comida que os alimentam não precisa ser nutritiva. Basta que tenha sido anunciada em algum comercial de TV por uma pessoa famosa como sendo algo bom e isso basta! Os utensílios que estes “bebês” usam ou desejam possuir, mesmo quando não tenham função alguma, se tiver a marca de uma pessoa famosa, literalmente este objeto custará os olhos da cara! Quando o objeto de cobiça parecer agregar valor ao dono, qualquer preço é justo, não é mesmo?
O preço de uma obra de arte por exemplo, que incluindo tinta, tempo, tecido e moldura que teve um custo total de 100 reais para ser produzido, se feito por um pintor qualquer, valerá no máximo o dobro do valor investido. Se feito pelas mãos do “garoto do chocalho”, valerá até 1 milhão de vezes mais que o valor do investimento feito! Quem comprar aquele objeto e o levar para casa, terá ali a extensão do brilho e barulho do pintor, que o tornará iluminado, sendo o centro das atenções aquele que possui tal arte.
Do mesmo modo, a obra de um artista comum que gasta dezenas de dias em trabalhos exaustivos com milhares de detalhes, jamais terá o mesmo valor que alguns borrões de tinta, jogada de forma aleatória por um artista famoso, que de olhos vendados, espargindo tintas diversas sobre uma tela, cria em alguns segundo uma coisa qualquer, sem sentido algum e mesmo assim, se portador do “chocalho sagrado” disser que isso é uma arte, venderá por milhões de dólares tal peça, sendo disputada por tantos outros compradores desesperados em possuir aquela magnifica “criação” ...
(O ser humano realmente precisa ser estudado...)
Pois é, como mariposas atraídas pelo fogo, a maioria de nós é quase sempre atraída por aquilo que parece ser luz, mesmo não tendo brilho algum. O brilho está na propaganda feita, em uma história “sem pé e sem cabeça” que todos repetem a cerca de algo ou alguém para que isso lhes sirva de farol ou em coisas que lhes traga algum tipo de prazer e prestígio.
É preciso que todos acreditem na mesma ilusão e que todos busquem-na em igual frenesi para que a “mágica” ocorra, pois se apenas um entre todos esboçar uma reação que não seja a de cobiça, ganancia, idolatria ou inveja em torno de algo ou alguém, o ciclo é quebrado e o império da fantasia de todos se dissolve.
Sem a fantasia de ser o que não é ou de ter o que não tem, sem esse “chocalho mágico”, o objeto de desejo alheio, muitos não teriam forças para viver, pois a realidade é dilacerante para quem ainda não entendeu como “o mundo gira”.
O menino isolado, aquele que “torna vivo” tudo o que toca, ele mesmo depois de crescido não estará livre da ira e da insanidade dos bebês babões também crescidos. Poderá ser perseguido ou idolatrado por gente vazia, possuidora de tantos títulos e coisas inúteis, que mal conseguem silenciar-se por 10 minutos e olhar para dentro de si sem entrar em depressão.
O que dizer de pessoas “ricas”, “poderosas”, ou de influencias, que mesmo possuindo tanto, ainda tentam a todo custo ludibriar aqueles que menos tem, subtraindo não apenas elementos básicos à sobrevivência destes, subtraindo quando possível também seus filhos, conjugues, funções na empresa, cargos na política e tantas outras coisas materiais e imateriais.
Pessoas trevosas, vazias de si e com uma profunda escuridão interior pensam que subtraindo a luz alheia, poderão iluminar a si mesmo ou o próprio caminho, mas com o tempo, perceberão que o “chocalho mágico” só funciona nas mãos de uma “criança de alma pura”. Mesmo assim, ao invés de identificarem o seu próprio vazio existencial, terão mais prazer em desabilitar a felicidade alheia.
Entre tantos “chocalhos” que a humanidade tem construído para fazer barulho e atrair a atenção alheia, inventar deuses salvadores e pôr-se como gente escolhida dele, é sem dúvida a mais pífia de todos os meios de sentir-se importante, porém o mais usual. Todos os que inventam tal instrumento, automaticamente declara-se especiais e mesmo não tendo nenhum chocalho visível, “pela fé” eles o tem, e desse modo despertará o interesse das outras “crianças da creche”, travando infindáveis batalhas por esse santo graal imaginário.
Como um “chocalho milenar” usado por diversos povos do passado e do presente, os deuses será para alguns o maior de todos os chocalhos, capaz de produzir um barulho ressonante, fazendo com que todos os olhos se voltem para quem o “possui”. Desse modo, todos desejem ser o dono desse “chocalho místico” ou pelo menos estar com quem o administra pois basta uma chacoalhada no ar e todos os olhos se voltam para o portador.
Mesmo que não haja ninguém para chamar a atenção, tal objeto servirá para que o portador entre em modo de auto hipnose. Basta fantasiar que alguém os ouve e os responde por tanta “fidelidade” e o portador entrará em um estado alterado de consciência qual chamam de “experiencia com deus”, falando consigo mesmo, ouvindo a voz da própria loucura e cheios de paranoia sairão por ai tentando converter ou condenar a todos.
Note que qualquer pessoa sem brilho, sem cultura, e até sem caráter algum, se começar a falar de deus, em nome dele ou com ele, logo ganhará destaque. Poderá criar uma igreja, um culto ou até uma religião e se tornar inclusive um dos homens mais ricos do planeta.
Muitos seguirão o dono desse chocalho e farão tudo o que ele ordenar. Outros irão tentar destrona-lo para assumir seu lugar e se não conseguir, dirão ser também portador de algum “chocalho sagrado”, iniciando outro culto ou rito semelhante, atraindo a atenção e recursos de tantos quantos “bebês babões” seja possível.
Um “objeto babado” capaz de despertar diferentes tipos de prazeres nos que os possuem! É quase sempre assim que os deuses se parecem.
Quando todos estão acostumados com os seus próprios deuses, quando esses já estão monótonos e desprovidos de “interação”, alguém entre eles fantasia algo novo, tem uma nova visão, uma diferente revelação ou algum tipo de epifania cujo objeto falante ordena ao fiel que ele crie uma nova igreja, um novo culto ou uma nova religião e todos se voltam para aquela “nova” divindade, igreja ou forma de culto. Os problemas continuarão os mesmos, suas vidas miseráveis também. Mas faz de conta que tudo muda ao voltar-se a atenção para uma nova forma de interagir com seres imaginários, afinal, um chocalho novo parece fazer mais barulho.
O “bebê solitário” que faz brilhar tudo o que toca será sempre fácil de encontrá-lo. As vezes temido, as vezes rejeitado, as vezes idolatrado, as vezes sendo objeto de todos os tipos de chacota por não ser o que todo mundo é ou fazer o que todo mundo faz...Cedo ou tarde você poderá precisar dele, ou que sabe ser ele.
Enquanto o motivo de nossa felicidade depender da projeção de uma ambição coletiva, podemos estar condenados a infelicidade eterna.
Pensem nisso! REVEJA SEUS CONCEITOS!
Saúde e sanidade a todos!
Texto escrito em 15/9/20
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.