CARNE-VIVA DA SAUDADE
Sinto muito a falta que te falta em mim
A presença de tua ausência
O tubo de ensaio de nossa carente cama
Como material explosivo
Que num simples piscar de olhos logo se inflama...
Não tenho espaços vazios, sou escorregadio piso
Mais careço de conteúdos que me preencham
Como as lágrimas represadas de teu riso
Tenho que me curar daquilo que não tenho
Encontrar tateando em minhas lembranças
As danças que ainda tocam sem o som da música
De teus lábios, sussurros que agora como um cio
Sem ciclo murcham, como num exército sem marchas...
E tudo teu me veste na íris de minhas pupilas necromantes
E lembrando de ti recônditamente como lagrimas de pilulas
Eclodes qual nenúfares na superfície de meus olhos sibilantes...
Mesmo assim sem bússola procuram o inexistente
Como o inconsistente procura tatear a fé que não vê
Como bolhas de sabão imaginárias e soltar no ar
E quando finalmente tentam repousar...Eclodem pra outro lugar!!!
Nos porões de minha alma
Ainda presa estás na retina
Quero que saibas que no presente
Subistes mais ao levantar meu olhos ainda em mim vives
Como nos afrescos da capela Sistina
Mais mesmos que esteja aparentemente no passado
Ainda vives no meu futuro, na minha idiossincrásica sina...
Sinto você nas asas de um anjo
Nas batidas atormentadas do meu coração
Na saudade que ainda por você esbanjo
E quando este órgão propulsor parar
Sem o vento no varal...
Finalmente entrarei no teu silêncio
Pois as estrelas mesmo silenciosas
Parecem gritar lá de cima airosas
Onde os anjos as acendem com um incenso-beijo
De boa noite quais rosas que se abrem no brilhante jardim sideral...
A saudade esfola a gente por dentro do ser
E só se aprende esta matéria na escola da vida
Mais é a maior lição jamais aprendida por quem ainda viver...