CARNE-VIVA DA SAUDADE

Sinto muito a falta que te falta em mim

A presença de tua ausência

O tubo de ensaio de nossa carente cama

Como material explosivo

Que num simples piscar de olhos logo se inflama...

Não tenho espaços vazios, sou escorregadio piso

Mais careço de conteúdos que me preencham

Como as lágrimas represadas de teu riso

Tenho que me curar daquilo que não tenho

Encontrar tateando em minhas lembranças

As danças que ainda tocam sem o som da música

De teus lábios, sussurros que agora como um cio

Sem ciclo murcham, como num exército sem marchas...

E tudo teu me veste na íris de minhas pupilas necromantes

E lembrando de ti recônditamente como lagrimas de pilulas

Eclodes qual nenúfares na superfície de meus olhos sibilantes...

Mesmo assim sem bússola procuram o inexistente

Como o inconsistente procura tatear a fé que não vê

Como bolhas de sabão imaginárias e soltar no ar

E quando finalmente tentam repousar...Eclodem pra outro lugar!!!

Nos porões de minha alma

Ainda presa estás na retina

Quero que saibas que no presente

Subistes mais ao levantar meu olhos ainda em mim vives

Como nos afrescos da capela Sistina

Mais mesmos que esteja aparentemente no passado

Ainda vives no meu futuro, na minha idiossincrásica sina...

Sinto você nas asas de um anjo

Nas batidas atormentadas do meu coração

Na saudade que ainda por você esbanjo

E quando este órgão propulsor parar

Sem o vento no varal...

Finalmente entrarei no teu silêncio

Pois as estrelas mesmo silenciosas

Parecem gritar lá de cima airosas

Onde os anjos as acendem com um incenso-beijo

De boa noite quais rosas que se abrem no brilhante jardim sideral...

A saudade esfola a gente por dentro do ser

E só se aprende esta matéria na escola da vida

Mais é a maior lição jamais aprendida por quem ainda viver...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 15/09/2020
Reeditado em 20/09/2020
Código do texto: T7063449
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