Políticas sociais: os respiradores do capitalismo.

Roberto Campos disse ter sido um profeta melhor que Marx. Segundo ele, “Marx previu o fim do capitalismo; ele, o fim do socialismo”.

Contudo, Campos não fez um diagnóstico que explicasse o motivo pelo qual o capitalismo ainda não tenha encontrado o destino preconizado pelo economista alemão

Segundo o economista e escritor Robert Heilbroner, o diagnóstico de Karl Marx foi perfeito, pois a forma conservadora como o sistema funcionava naquela época, principalmente na Inglaterra, não havia outro destino possível.

Ciente da lógica interna do capitalismo, o futuro apareceu para Marx de forma clara e inequívoca, pois ele conhecia como ninguém o pendor que o sistema possuía para produzir instabilidades e concentração de riqueza.

Era impensável que houvesse na época algum movimento do governo de qualquer nação no sentido de reduzir as desigualdades sociais; era ponto pacífico que a economia deveria ficar entregue a si mesma apesar das injustiças sociais.

Até mesmo Marx, que tanto repetiu Hegel ao dizer que a semente do contraditório já existe na tese, não poderia prever que os países capitalistas, como última solução, recorreriam a sua contradição para salvar o próprio capitalismo.

Após 46 anos do falecimento do filósofo, o mundo capitalista enfrentou, em 1929, a maior crise de sua história;muitos pensaram que o momento derradeiro havia chegado.

Realmente o fim teria chegado se não fossem as ideias “fora da casinha” do economista Inglês John M. Keynes, que levou o mundo a repensar o papel do estado na sociedade.

Depois da segunda guerra mundial, a própria Inglaterra, que no século XIX era a caricatura de um capitalismo predador e desumano, criou um sistema universal de saúde.

Hoje, vários países da Europa são bem-sucedidos com a parceria estado e mercado. Os nórdicos, por exemplo, possuem um alto índice de desenvolvimento humano graças as suas políticas de distribuição de renda.

A Noruega em 2017 pagou 21 bilhões de dólares – 5,3% do PIB – em benefícios sociais para 20% da população, mesmo tendo na época um governo conservador. Disso, podemos depreender que as políticas sociais estão inseridas em um capitalismo que se reinventou para sobreviver.

Destarte, o capitalismo que Marx examinou com seu estetoscópio não tinha muitos anos de vida, porém as impensáveis políticas sociais para a sua época ainda o mantém vivo, apesar das convulsões.

Muito mais agora, em tempos de pandemia, essa realidade torna-se inexorável, inclusive, já se discute a possibilidade de implantar um programa de renda básica no Brasil – futuro respirador do capitalismo brasileiro.

Contudo, com Guedes a frente do ministério da economia, acho improvável que tal prescrição seja adotada.

Roberto Campos não foi um profeta melhor que Marx, aliás, nem mesmo foi um profeta porque, mesmo sendo contemporâneo de países europeus ricos e praticantes de políticas sociais, insistiu na velha cantilena inspirada em um capitalismo reacionário e moribundo.

Albertino Ribeiro
Enviado por Albertino Ribeiro em 11/09/2020
Reeditado em 12/07/2023
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