Condessa de Barral, a amante de dom Pedro II

A Condessa de Barral

Luísa Margarida Portugal e Barros viveu uma história especial no Brasil império. Amante de Dom Pedro II durante 34 anos ininterruptos, conseguiu despertar nele a paixão que ele não sentia pela esposa Teresa Cristina de Bourbon.

Luísa tinha nove anos a mais do que D. Pedro. Sabia encantar. Nela, tudo era sedução: o perfume, a maneira de arrumar os cabelos e sobretudo, conversar entretendo o imperador. Educada e elegante, possuidora de uma beleza rara para a época. Luísa viveu na França, desde muito jovem, enviada pelos pais para estudar, vestia-se a moda francesa. Dotada de personalidade exuberante, ar assertivo, inteligência e, ao mesmo tempo, contraditória mentalidade católica. Possuidora de cultura sólida e amiga de intelectuais e celebridades da época, como Franz Liszt e o conde de Gobineau, foi intermediária entre o imperador e muitos intelectuais.

Casou-se com o visconde de Barral na França. Mudaram-se para o Brasil, porque Barral não era de uma família muito rica. Os pais dela eram donos de muitos engenhos na Bahia. Com a crise do açúcar, Barral ficou sem emprego e Luísa começou, então, a trabalhar como preceptora da irmã de dom Pedro, Francisca de Bragança, de quem ficou amiga e dama de companhia e a indicou para cuidar das duas princesas, filhas do monarca, Leopoldina e Isabel.

D Pedro II

Com o histórico adúltero familiar - Dom João VI chegou a ter 50 filhos bastardos¬ - o imperador brasileiro parecia mais pudico; no entanto, não era diferente em suas relações.6 O príncipe, que precocemente virou rei, era tímido e, diferente de seu pai e seu avô, que corriam atrás de qualquer mulher. D. Pedro II sentia-se atraído por tipos parecidos com o de sua madrasta D. Amélia. Gostava de, mulheres intelectualizadas, diferentes de sua esposa, D. Teresa Cristina.

A imagem do velhinho sóbrio de gabinete difere muito da realidade da vida sexual de D. Pedro II, agitada e repleta de infidelidades. No poder desde os 15 anos, ele passou a maior parte da vida na posição mais alta do governo brasileiro, com influências das mais diversas e contatos inúmeros, o que lhe proporcionou uma série de casos.

Dom Pedro II sempre foi conhecido como o sóbrio e culto imperador que governou por 50 anos com sabedoria e discrição, porém tinha hábitos sexuais semelhantes ao pai, apesar de não deixá-los públicos, Pedro II teve inúmeras amantes. Numa época em que a esposa real era vista apenas como articulação diplomática e provedora de herdeiros, o Imperador satisfez seus amores carnais com outras moças.

Pedro e Tereza

Dom Pedro II teve um relacionamento frio com a imperatriz Teresa Cristina de Bourbon e Duas Sicílias, cometendo uma gafe logo ao conhecê-la. Animado com o casamento antecipou-se às liturgias e invadiu o navio, nos Teresa esperava para desembarcar no dia seguinte. Ao vê-la e perceber que não satisfazia seus critérios estéticos, desviou o olhar, despediu-se com frieza e voltou ao palácio, decepcionado.

O relacionamento do casal na corte era motivo de comentários que Dom Pedro não se esforçava para esconder a falta de apreço pela esposa. “A imperatriz do Brasil era tão virtuosa quanto feia e dom Pedro II lhe é infiel e o local de suas infidelidades a biblioteca do palácio”

Barbas brancas e longas em fisionomia fechada. Nos retratos o imperador se apresentava austero ao povo. Entretanto, o rosto rigoroso abria-se em sorrisos quando via Luísa Margarida Portugal e Barros, a Condessa de Barral.

O relacionamento com a Condessa

D. Pedro II sentia-se atraído por tipos parecidos com o de sua madrasta D. Amélia. Gostava de, mulheres intelectualizadas, diferentes de sua esposa, D. Teresa Cristina.

Quando conheceu Luísa, passou a interessar-se sobre arte, livros, teatro e cultura. Luísa o mantinha informado de tudo que ocorria na Europa. Pela mala diplomática, os dois trocavam seus diários para escrever observações sobre os próprios escritos de cada um. Era a maneira de um ficar sabendo da vida do outro e também de interferir quando necessário. Como Luísa tinha uma vida social ativa, ele deixa escrito no diário que não gostava de vê-la sair. Mostra o amor e os ciúmes que sentia pela condessa

Encontravam-se às escondidas, principalmente em Petrópolis, onde Luísa alugara um chalé. No Rio de Janeiro, viam-se, muitas vezes, no Palácio de São Cristóvão, que na época parecia uma grande fazenda. Nos diários há uma passagem que fala de uma viagem que fizeram juntos para a Grécia. Como liam os textos de autores gregos, sempre na companhia um do outro, dom Pedro dizia que seria um fato marcante poder estar junto com ela nessa viagem inesquecível.

Luísa ajudou dom Pedro em muitas coisas. Sua fina educação francesa, horrorizou-se com as maneiras toscas de dom Pedro II, que apresentava-se com as unhas sujas, comia com a faca e cultivava o desagradável hábito de bater nas costas dos interlocutores.

Ela gozava da intimidade necessária para fazer críticas pessoais. Anotou em seu diário, em 1871: "O senhor Alcântara tem dois defeitos insuportáveis: é egoísta como ninguém e cabeçudo como todas as mulas do mundo", referindo-se ao imperador dom Pedro II, então em sua primeira excursão europeia.

Achava que a figura simplória do imperador, sempre com o mesmo jaquetão preto, representava mal o Brasil. Era um homem caipira, não sabia se portar à mesa. Aprendeu com ela que homens educados (europeus) não costumavam bater nos ombros de outras pessoas, era preciso vestir-se bem e limpar as unhas.

D. Pedro II tinha um inglês atrapalhado e dizia para que falasse apenas francês, para não cometer gafes.

Luísa Margarida tornou-se amante do imperador e não se contentou com um apartamento no Palácio de São Cristóvão e foi residir em uma casa maior, alugada por Dom Pedro II, onde morou com sua família. Estabeleceu sua autoridade no palácio, onde o poder era muito disputado e causou a fúria de muitos dos funcionários mais interesseiros.

Dom Pedro II não escondia sua paixão e quando houve um conflito entre a imperatriz D. Teresa Cristina, o imperador escreveu uma linda poesia a ela, dizendo que nada iria separá-los. Costumava colher flores e deixar na porta do quarto dela.

O marido de Luísa nunca se posicionou sobre o romance dela com o imperador. Como ela era preceptora de uma família importante, recebia vários convites para ir a bailes, mas sem o marido. No diário, ela conta que saía e chegava tarde e o visconde a ajudava a tirar a roupa, enquanto escutava as novidades da noite. Quando ele morreu, porém, o sentimento de culpa existiu. Há relatos dela indo limpar o túmulo do marido e levar flores.

Ela vai morar novamente na Europa quando as princesas se casam. É o início das correspondências entre os dois. É o período em que o imperador se mostra mais apaixonado e saudoso. A distância, ao invés de afastá-los, vira combustível para esse amor. Ele escreve que sonha chegar de balão até a janela do quarto dela. Dom Pedro começa a viajar para poder vê-la.

A condessa de Barral não se valeu da proximidade com o imperador para mandar e desmandar. Não influenciava nas decisões que dom Pedro II tomava.

Era a favor do fim da escravidão e lutou muito para que isso acontecesse. Pela mentalidade abolicionista dela e por ter cuidado de Isabel, pode ter contribuído para que a princesa levantasse essa bandeira.

O envolvimento dela com o dom Pedro II era conhecido no círculo familiar e no palácio e veio a público no final do século 19, durante a campanha republicana. Começaram a aparecer notícias picantes, charges. Vários republicanos, que eram autores de peças teatrais, começaram a apresentar peças sobre o triângulo amoroso.

Luísa nunca deixou de acreditar no poder moderador e na autoridade moral da monarquia. A proclamação da República, em 1889, foi uma desilusão: "Para mim não há mais pátria", escreveu a condessa brasileira, na França. O imperador, sem império e sem casa, perambulava pela Europa, dependente da hospitalidade de amigos.

Exilado, passou algum tempo no castelo de Luísa no interior da França. Romântico, gostava de colher flores para deixá-las à porta do quarto da antiga amante. Foram suas últimas manifestações de afeto.

Até o final da vida trocaram correspondência, onde ele se referiria a estes como os “tempos felizes”. Saudoso, reclamava: “quem me dera poder passar um instantinho ao menos do tempo em que estudávamos juntos”. Repetia “tudo que foi e será sempre nosso”. Referia-se com insistência “às esperadas visitas ao Chalet Miranda” e ao “Hotel Orléans”, onde se encontravam e assinava-se “para você tudo do seu, de sempre”. Uma história de amor escondida entre as páginas de história política, social e econômica nos tempos do Império.

O romance entre os dois, somente acaba com a morte de ambos, depois de 34 anos de paixão. A condessa de Barral morre de pneumonia, em janeiro de 1891 e o imperador de complicações do diabetes, em dezembro. Enquanto esteve exilado, os dois voltaram a ficar mais próximos. Nessa época, ele escreve uma linda poesia a ela, dizendo que nada mais iria separá-los.

Outras amantes

D. Pedro II manteve romances com outras mulheres, destacando-se a condessa de Villeneuve, a madame de La Tour e Eponina Otaviano. As duas primeiras eram amigas pessoais de Luísa e foram apresentadas ao imperador como forma de "entreterem" o amante.

Com a Condessa de Barral, o imperador teve um relacionamento morno. No entanto, com a Condessa de Villaneuve, escreveu uma fantasia de sexo num sofá, após receber uma foto da amante com um revelador decote. Para a mesma mulher, escrevera: “Que loucuras cometemos na cama de dois travesseiros! Ardo de desejo de te cobrir de carícias”.

Muitos relacionamentos do rei com suas amantes duraram décadas seguidas, e alternavam encontros corriqueiros e correspondências com troca de afetos que, igualmente a seu pai, incluíam o envio de pelos pubianos do imperador para a amada.

Um dos locais onde Pedro mais se encontrava para relações sexuais adúlteras era Petrópolis, onde passava férias.

Diversos hotéis da cidade eram usados como ninhos de amor pelo imperador e suas amantes, encontros que o monarca chamava de “noites atenienses”. Petrópolis a cidade nas montanhas onde Pedro II ficava em seu Palácio de Verão e escapava para se encontrar com mulheres.

D. Pedro II causou “fogo” na baronesa da Boa Vista que suspira nas missivas lembrando que “cada uma de tuas expressões tão apaixonadas me fazem estremecer de amor” e declarações do tipo: “Eu te amo e sou tua de toda a minha alma. Eu te abraço tão ardentemente como tu desejas”. A pedido do imperador, lhe envia uma foto com vestido decotado. Hábito que parece ser uma constante no quase sexagenário amante, que também pede para a condessa de Villeneuve uma foto, sobre a qual se debruça a escrever-lhe, confessando que, diante da imagem, fantasiou uma forte cena erótica em que os dois corpos se entrelaçavam no sofá da casa dela, desfalecendo-se de prazeres.

O velho Pedro II tinha sua lábia e esbanjava cultura até para pegar mulher. Monarquistas, republicanos, velhos, novos, ricos, pobres, todos fazem e fizeram sexo. Nossos avós, bisavós, tataravós eram bem menos castos que suas expressões sisudas nos retratos fazem supor.

Assim é a vida, cheia de idiossincrasias, paixões, sexo e todos os elementos necessários para construir sua história. Precisamos de uma pequena dose de loucura e aventura em algum momento para que não sucumbamos submissos ao destino final que nos aguarda.

A moral? Deixemos aos moralistas.

Enfim, os sentimentos também merecem uma história.

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Fontes :

Paulo Rizzutti

Poliana Milan

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 28/08/2020
Código do texto: T7048129
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