Sobre o Tempo e a sua Perda de Unicidade
Tema: Ciência
O tempo é relativo, passa mais rápido na montanha e mais devagar no vale. Há indubitavelmente uma pequena diferença ínfima, mas há. Esta diferença pode ser medida por relógios de alta precisão. Os relógios dos laboratórios científicos, têm a capacidade de medir acuradamente o tempo, de perceber diferenças entre poucos centímetros de desnível, por exemplo, um relógio colocado no chão anda um pouco mais devagar do que um relógio colocado sobre uma mesa.
No caso de dois indivíduos, um habitar as montanhas e outro um vale próximo ao nível do mar, e muitos anos depois encontram-se. Cada um dos dois têm o seu próprio tempo, o indivíduo do vale viveu menos, o seu tempo é um, único, em relação ao indivíduo da montanha, em que o tempo passou mais rapidamente. É importante frisar que cada um viveu a quantidade de anos, por exemplo quarenta (40) anos, esse tempo passou para os dois, mas quando relacionarmos um com outro haverá diferenças temporais, pois a luz se move numa velocidade finita, e essa discrepância no tempo é a diferença de medição de um indivíduo em relação a outro, quando colocado num mesmo patamar comparativo.
Einstein percebeu sagazmente a desaceleração do tempo, antes mesmo da invenção de relógios que pudessem medir tal discrepância. A capacidade de poder compreender muito antes de verificar o fenômeno, é a centralidade, o âmago puro do pensamento científico. Na Grécia Clássica, Anaximandro compreendeu que o céu se estende ante nossos pés, muito antes que navios efetuassem a circunavegação, já praticamente às portas da Revolução Científica, Copérnico postulou que a Terra gira, séculos antes do homem ir a lua e perceberem visualmente que “ela gira”. E Einstein percebeu a abarcou com seu intelecto curioso, que o tempo tem lá suas intrínsecas peculiaridades, uma das quais “não passa uniformemente”, e isto antes dos relógios precisos da atualidade pudessem comprovar cabalmente.
As coisas óbvias nem sempre retratam a realidade, às vezes é preciso ir além ao abscôndito, mergulhar na dedução e na curiosidade. E a humanidade, nas questões da compreensão dos fenômenos naturais, procede tal como crianças, que crescem e percebem que o mundo não se cinge até onde alcança a vista, ele vai além. E muito além!
A modificação na estrutural temporal, tem uma influência direta em todos os corpos celestes, pois um exerce atração ao outro, assim como o sol atrai a terra. E qual a real significância na modificação da estrutura do tempo? Isto quer dizes desaceleração, pois todo o corpo desacelera o tempo na sua proximidade, daí também a resposta de que na montanha o tempo passa mais rápido em relação a um vale ou praia. Porque o vale ou praia estão mais próximos da terra (centro) do que uma montanha.
E as coisas os objetos, caem diretamente para o chão. Já no espaço interplanetário equidistante de qualquer corpo massivo, as coisas flutuam. Pois a força de atração gravitacional é menor em relação a terra por exemplo, e o tempo é uniforme. Na terra o tempo é mais “irregular”, e as coisas que caem, são atraídas para baixo, para o centro da terra, onde o tempo é desacelerado pelo nosso planeta azul.
(Fonte: A Ordem do Tempo – Carlo Rovelli)