ÍNDIOS E RUSSO

Todo artista que pelo seu trabalho compõe arte merece respeito e atrevimento de quem escuta, lê e admira seu trabalho; todo artista merece ser combatido, ser criticado e citado, pelos admiradores ou não e, esquecido pelos néscios. Renato Manfredini Júnior (Renato Russo, 1960-1996) certamente entra na classe do respeito e admiração, por mais que em nenhuma classe "ele" se sinta a vontade de fazer parte: o artista é libertário por sua arte. Começa pelo nome da banda "Legião Urbana" fundada na melhor década de todas - 80. Em atividade até meados de 1996 Legião reivindicou sentimentos em suas letras, liberdade no toque da música e ousadia nas entrevistas.

Índios (1986) - música do álbum Dois trata-se da pura melancolia na visão de um melancólico o qual enxerga o mundo no som, em instrumentos e dores. Coloca cenas do sofrimento em canções, a denúncia social e o mundo como nunca ante visto. A música fala sobre Renato, intimista - e que foi escrita após uma frustada situação de suicídio e para outros uma noite de bebedeiras. País e Filhos é uma canção bonita também mais que nos versos assim como Índios trata o suicídio, a incompreensão e a busca por algo que não se toca, ao mesmo tempo mostra o quanto a vida é infindável, por colonização, invasão e submissão.

Nos anos oitenta o rock nacional era traçado por críticas políticas e análises fora dos padrões, bandas não davam certo - e quando acontecia isso saímos de Legião Urbana para Renato Russo: uma pérola. Uma porrada para os tempos de hoje. Renato Russo usou o que se perdeu com o tempo para retratar o país da época no que estava sentindo - a metáfora. Nossa ingenuidade em ver algo acontecendo e esperar o fim para reclamar, esperar a música acabar para sentir, quem me dera ao menos uma vez convencer sem muita dor e fazer uma alusão sobre todas as coisas escondidas que, provando ou não são essenciais - com o tempo ou a falta dele.

Russo e "Índios" tornam-se um. Um intelectual que se veste como tão simples da qual a vida é, fazer acreditar que todas as pessoas são felizes e vivificar no mundo o seu nome, fazendo assim as pessoas dizerem obrigado. Alguns sangram mesmo sozinho, o preço do artista é a incapacidade de alguns olhar corretamente o incorreto que acontece. Citando outro grande nome como Raul Seixas; o Brasil mata seus poetas para então depois citá-los. Deixamos perder muito para lembrar de tão pouco.