O Todo Incogniscível 1 - Falácia da Falta da Narrativa

Quando eu era criança eu dizia que não acreditava na existência de Deus logo me replicavam (com graus diferentes de indignação e raiva): ah é!? Então quem criou o mundo? Esta é a falácia da falta de narrativa, me deparo com ela frequentemente. Consiste em: “Minha resposta é a adequada pois não concebo uma resposta alternativa.” É uma falácia pois pode nem existir uma resposta a uma questão, podem existir várias respostas adequadas (cada uma de acordo com uma perspectiva teórica) ou mesmo pode existir apenas uma resposta adequada, mas desconhecida.

Sou grande admirador de David Hume - o filósofo que me convenceu a adotar um ponto de vista cético. Me intriga que depois dele tenham surgido propostas de entendimento que incorrem nos erros que ele descreveu no ‘Ensaio sobre o entendimento humano’ (me refiro ao positivismo). Suspeito que em grande parte se deve a ele ter derrubado as bases da crença no conhecimento sem ter oferecido outra em troca. Ou seja, as pessoas teriam incorrida na ‘Falácia da Falta de Narrativa’.

Nesta série de ensaios ‘O Todo Incogniscível’ oferecerei uma alternativa. Vou insistir na perspectiva cética de David Hume. Vou começar mostrando que o ceticismo é uma maneira adequada de entender o conhecimento (tanto o cotidiano como o especializado). Também vou mostrar que o ponto de vista cético também é o mais pertinente para tomarmos decisões em nossas vidas. Ao longo do caminho oferecerei um modelo simples para entender o mundo a partir da perspectiva cética.

Oferecerei perspectivas semelhantes a algumas já existentes e tentarei dar os devidos créditos quando isto ocorrer, mas deixo claro que não me comprometo com as ideias de ninguém. Tentarei escrever ensaios autossuficientes, mas alguns conceitos são apresentados em ensaios anteriores, sua leitura não é obrigatória para o entendimento dos ensaios, mas é enriquecedora.