A BÊNÇÃO DA POÉTICA

“DICA

A linguagem poética não pactua com o prosaico: possui exigências rítmicas e estéticas muito mais específicas.”

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.

https://www.recantodasletras.com.br/dicas/7028697

“– Mesmo depois de 1922? O que diria Manoel Bandeira? Há lindas prosas poéticas. Muita poesia terra-a-terra, eis a poesia prosaica. _ rara.”

– Tercio Ricardo Kneip, contista e poeta, de Santa Vitória do Palmar, RS, através do Facebook, em 07/08/2020.

Tercio Ricardo Kneip querido poetamigo! Sim, o poeta modernista Manoel Bandeira deu dignidade poética à prosa, assim como o gaúcho Mario Quintana, em expressiva parcela de seus poemas fez o mesmo: apresentou como fosse poema (contendo Poesia), a sua bela prosa poética, ou, para alguns outros analistas, seriam estes exemplares descolados poemas em prosa eivados da proposta estética avessa ao classicismo, que à época terçava argumentos com a decantada velha escola. Porém, eu estou falando em Poesia, não no subgênero fruto do hibridismo da simples frase ou do verso singelo, de bom ritmo, mas apresentado em versos derramados em nada sintéticos ou enxutos e com rarefeita utilização do sentido conotativo da linguagem. No meu modo de ver, o gênero literário Poesia, no formato da contemporaneidade, que acata a linearidade, não se limitando aos versos empilhados uns sobre os outros, se caracteriza pela codificação textual fundida ao necessário e melódico conteúdo rítmico, em cima de proposta ou sugestão traduzida em versos criteriosa e artisticamente assentados nas figuras de estilo ou de linguagem, especialmente as metáforas. Sim, encontrar uma boa peça, em Poética, é algo raro. Enfim, criar poema (com Poesia) não é coisa para amador. Cada universo poético, a par de ser arte escritural, tem as suas técnicas de construção, regramentos e peculiaridades acatadas pelos cânones de cada época, mercê do ineditismo do talento e virtuoses autorais. Claro, para os gênios – as estatísticas apregoam como um em cada idioma por milênio – isto pouco ou nada vale, pois a estes não se aplicam as regras válidas para o humilde artífice sempre atabalhoado com a feitura de versos, que são a regra da normalidade dentre os poetas-autores. É esse o viés pelo qual descubro o verso com a redentora bênção da Arte Poética, no criterioso dizer do filósofo grego Aristóteles, que nos legou que “a Poesia existe para contar aquilo que poderia ter acontecido no mundo fático”. No entanto, se o escrito pretende contar aquilo que aconteceu no mundo do real, o correto como instrumental é o ato de letramento utilizando-se do prosaico e não do poético. Contudo, como me considero eclético, acato, com respeito e alegria todo e qualquer esforço através do verso ou da prosa, nos quais, no mínimo, se consiga perceber alguma tentativa de articulação do antigo falando sobre o Novo ou vice-versa, e/ou a efetiva criação do verso ou poema em que se perceba o talento e a tentativa de buscar o Belo estético onde ele estiver. Ora, isto não quer dizer forma ou formato, e, sim, um mergulho visceral na dimensão do humano ser, até mesmo quando este não tem conhecimento ou preparo para se expressar através de normas cultas. No entanto, a minha escolha pessoal é pela poética de expressão universal. Para tal, tudo começa com boa e farta leitura de livros específicos sobre a sua modalidade de eleição como escriba (romancista, cronista, contista, poeta, etc.) e a mínima compreensão do mundo que o rodeia, de modo a poder, minimamente, falar sobre os meandros de seu ofício frente aos de sua comunidade. Enfim, tenho pela Poesia uma paixão inexplicável. Por ela e seus entornos, consigo antever uma fresta pela qual procuro especular o futuro do bicho-homem. A bênção, escritura e posteridade!

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02. Obra inédita, 2015/20.

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