A Vertente Grega, os Princípios da Cosmologia
Tema: História, Cosmologia e Filosofia
Mito e cosmologia andavam de mãos dadas para os gregos pré-socráticos. Indubitavelmente a cosmologia filosófica dos gregos, não tem a sua gênese originadora do nada. Ela está embasa já em mitos anteriores e os tomou como ponto de partida para ganhar contornos mais materialistas e racionalistas. Há os primeiros cosmólogos – filósofos, jônios ou milésios, uma vez que atuavam na Jônia, mais precisamente na cidade comercial de Mileto, poderiam muito bem estarem sistematizando, ou tomando como partida para suas concepções cosmológicas, o conhecimento popular, então já existente no fértil mundo grego.
Algumas das concepções cosmológicas de cunho popular pode-se vislumbrar nas obras poéticas de Homero e Hesíodo, em meados do século VIII a.C.; e que também poderiam ser um recolhimento compilar de tradições orais do povo. Em Homero, o cosmos é concebido como uma terra plana, circundada pelo oceano, este oceano na sua visão é um rio; a terra é coberta por um céu hemisférico e com o sol, a lua e as estrelas. Denota-se que a sazonalidade dos astros, fizeram como que estabelecesse na Grécia Antiga, um calendário lunissolar, transladando este calendário para uma espécie de proto-cosmologia mitológica.
Entretanto, os astros (sol, lua e estrelas), nunca tiveram na Grécia Antiga, uma adoração como deuses; fato este ocorrido em outras culturas e civilizações. Os gregos, invocavam sim, como testemunhos de juramentos, bem como alguns dos deuses olímpicos estavam associados a fenômenos cósmicos (Zeus ao raio e Posêidon ao oceano, por exemplo), mas nunca de uma forma íntima e direta, apenas como um acessório, um meio no qual o deus manifestava-se. No Mundo grego a origem do Mundo está intimamente associada à origem de divindades, ao nascimento delas. Há uma clara sobreposição entre cosmogonia (nascimento do cosmos), com a teogonia (nascimentos dos deuses). Para os gregos, o cosmo povoado de entidades divinas, de comportamento antropomorfo, pois fazem amor e geram descendência, tais como os “mortais”. O porquê deste comportamento divino antropomorfo é um mistério, permanece obscuro aos olhares da razão.
A primeira cosmogonia na qual pode-se delinear as primeiras linhas claras da razão, aparece em meados do século VII a.C., como Anaximandro de Mileto, portanto posterior a Hesíodo e Homero. Porém as evidências do pensamento de Anaximandro, são posteriores, e chegam a nós por meio de comentadores e de forma indireta, não ficando imune a possíveis supressões, acréscimos e controvérsias.
Para Anaximandro, o cosmos como conhecemos, teve o seu surgimento de um princípio eterno. E eternamente em movimento contínuo; indefinido no que tange a sua concepção quantitativa e qualitativa. E então o ilimitado (áperion), por meio de estágios de características sucessivas, onde no primeiro estágio (gónimon), o finito separar-se-á do ilimitado, dando origem ao quente e o frio. O quente e o frio de certa forma já estavam contidos no ilimitado. E é no segundo estágio desta transmutação que o quente (chama quente) e o frio (umidade/névoa) separam-se; a chama ganha tamanho até atingir o ápice, e em volta do núcleo úmido (frio), que acaba secando e formando a terra. No terceiro estágio, há uma grande tensão entre os elementos criados e toda a estrutura explode. Desta explosão nascem os elementos: água, terra e ar, provenientes do frio; os corpos celestes, a manifestação do quente (fogo).
Os seres vivos da terra têm a sua geração, no transcorrer do processo de ressecamento do frio (úmido). A geração dos seres vivos dar-se-á de forma espontânea da lama ou do limo.
O milésio Anaximandro dá-nos uma visão mais naturalista do nascimento do cosmo e dos seres vivos, mais desprendida dos mitos descritos em Hesíodo por exemplo. Mas há também a adição de analogias que objetivam aumentar a compreensão e memória da história contada. Em Anaximandro, há uma sistematização coerente e condizente com a sua realidade vivida, contextualizada naquele ambiente e época. Onde o milésio libertou-se das amarras mitológicas da criação e materializou racionalmente a concepção do cosmo. Foi a primeira tentativa "racional" mais elaborada de resposta a uma das questões que nos permanecem fundamentais a serem plenamente respondidas, até hoje. De onde viemos?
(Fonte: Primórdios da Filosofia Grega – Org. A.A. Long)