POESIA: O VÉU SOBRE A NUA PALAVRA

“FINITUDE

O corpo vai andarilhando e o andejar recolhe dejetos e flores na puída algibeira do inexorável itinerário.” Joaquim Moncks.

MONCKS, Joaquim. POESIA A CÉU ABERTO. Obra inédita, 2020.

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“O Joaquim Moncks escolheu palavras difíceis para significar coisas simples. São opções que a língua aceita. Eu prefiro palavras mais comuns, mais acessíveis. Descubro qualidade no que não seja tão gongórico. Achei dramática a forma de dizer. De súbito recordei a Natália Correia. Sempre que abria o gesto e empostava a voz, ficava empolgada como se estivesse em palco. É um estilo, uma maneira de estar, uma forma de dizer.”.

– Rogério Edgardo Xavier, poeta lusitano, através do Facebook, em 18/07/2020.

Mexo com poesia (ou pretendo mexer com esse manhoso objeto verbal que é o poema com Poesia) e, em razão do ofício de poetar, tenho que codificar a linguagem para chegar ao sentido conotativo inerente a ela, de modo a criar sugestivas imagens que, no mínimo, velem o sentido literal das palavras. Caso fiquemos presos ao usual ou à simplicidade de algumas delas, não há como criar poemas, e sim, comuns ou singelas expressões prosaicas vestidas de denotação, também referida como sentido denotativo e sentido literal, que é o emprego de palavras ou enunciado no seu sentido próprio, comum, habitual, preciso. A linguagem denotativa é basicamente informativa, ou seja, não se destina a produzir emoção no leitor. É a informação com o único objetivo de informar. Enfim, nessa hipótese, talvez eu viesse a fazer uma prosa realista, incisiva ou precisa, meramente reprodutora do que vejo na realidade de meu entorno. Para mim, a arte poética tem forte inclinação para o "dramático" como restou bem exemplificado acima com a citação de Natália Correia (1923-1993), poeta, dramaturga e romancista portuguesa nascida nos Açores. A poeta Natália foi ótima em vida, e melhor depois, por sua prestigiada e ainda recente obra, que vem resistindo ao tempo. Arthur Rimbaud (1854-1891), poeta francês simbolista e pré-modernista segundo alguns críticos, que produziu suas obras mais famosas quando ainda era adolescente sendo descrito por Paul James, à época, como "um jovem Shakespeare", também foi naipe de excelência, com altos méritos. Por me vincular a esta acentuação imagística da palavra, é que me atrevo a propor, conceitualmente, que sem a presença das figuras de linguagem ou de estilo, não se configura o gênero literário Poesia. Perdão, mas voltando à interlocução acima citada, e em pauta, isto nada tem a ver com o gongorismo na prosa ou em poética. É apenas uma definidora postura conceptual. E é bom que se registre que não tenho formação acadêmica em Letras, a minha ótica é a do "condenado ao pensar e a dizer", que pretende propor a materialidade da Poesia através de um órgão (ou organismo) verbal que contém, emite ou suscita poesia, a que denominamos poema, na contemporaneidade formal. Enfim, riqueza vocabular não se confunde com expressão gongórica. Gratíssimo por tua antítese. Agrada-me ser, filosoficamente, adepto do processo dialético hegeliano. Por ele, percebo, de maneira diversificada, o castelo, o casebre e os atores bem ou mal aquinhoados aninhados no mundo que os cerca. E a palavra vivaz, atilada sempre pronta, assesta a seta e o verbo na recriação da caverna platônica, através da boa-nova poética.

MONCKS, Joaquim. OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02. Obra inédita, 2015/20.

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