O Papai Noel desapareceu, e a tecnologia multimídia não substituiu-o
É deveras importante valorizarmos os antigos contos de fadas, contados e cantados, às crianças. É onde a criança pode começar a idear e encontrar o seu lugar no mundo. A mensagem passada pelos contos de fadas e pequenas estorinhas, estão sempre imbuídas de valoração moral. A estória de chapeuzinho vermelho, trás no seu bojo contextualístico o bem e o mal convivendo sob a forma de coexistência, onde a avó boazinha metamorfoseava-se em lobo mau. Nesta estória simples, retrata um conteúdo pedagógico, onde a criança podia perceber de forma lógica e direta que a mesma pessoa pode ser boa e má, numa verdadeira sucessão de estados mentais. Na estória dos três porquinhos, fica claro que no seu conteúdo retrata o ensinamento de que o esforço é sempre recompensado no final, trazendo uma mensagem positiva e incentivadora ao ouvinte; aqui subentendemos, criança. Igualmente o Papai Noel, na data de Natal, em caso da criança de comportar o bom velhinho seria generoso, caso contrário os presentes de Natal seriam mais minguados e escassos.
Atualmente a magia natalina praticamente extinguiu-se, restando um mercantilismo meio que exacerbado. O chapeuzinho vermelho e os três porquinhos, vêm sob uma materialização plástica e são devidamente televisionados em episódios seriais, jogos de computadores também retratam os contos. A tecnologia televisiva e de multimídia vem substituindo já de tempos o imaginário infantil, privando a criança de construir mentalmente a imagem das estórias, tolhendo a sua criatividade engessando-a. As respostas apresentadas pela televisão e as tecnologias multimídia, tangentes às estórias infantis, são simples e fáceis, compreende-as rapidamente. Mas a nocividade está justamente nesta facilidade, na qual impregna o sentimento infantil de que questões complexas, têm respostas simples. Isto colabora diretamente para uma tensão normal no seio familiar e aumenta consideravelmente o termômetro da ansiedade individual. Para tanto não há uma receita uma resposta a ser propagandeada aos quatro cantos como a solução para este fato, há indubitavelmente de aguardar várias gerações para que a evolução acerte o passo e às questões psicológicas e culturais equalizem-se.
(Fonte: Os Verdadeiros Pensadores de Nosso Tempo – Org. Guy Sorman, texto de Bruno Bettelheim, psicólogo e escritor)