Da Crueldade e da Piedade (De Crudelitate et Pietate) na visão de Nicolau Maquiavel
“[...] digo que todo o príncipe deve desejar ser considerado piedoso e não cruel.” Maquiavel em sua obra magna “o Príncipe”, disserta a respeito das qualidades que um príncipe que governa um principado deve ter para obter sucesso em sua empreitada política e de governabilidade, intuindo conquista e manutenção do poder. Ele, Maquiavel, advogado da República Florentina, dedicou a sua obra à Lorenzo de Médici.
Maquiavel alerta para o fato de que não deve-se usar mal e desapontadoramente a piedade, afim de que, uma qualidade justa do governante, torne-se um ponto frágil e venha a ser a razão de seu insucesso e perda do poder. Em muitos casos aconselha Maquiavel, a crueldade usada na medida exata poderá garantir a paz duradoura e o sucesso numa empreitada, quando aplicada em seus adversários mais ferrenhos. Há de se atentar para que o fato de ser piedoso em demasia, poderá colocar em risco a estabilidade e a liberdade do seu povo, dando a oportunidade para que o inimigo estrangeiro ou local, use-a a fim de subjugar o Estado e tomar o poder. Entretanto a crueldade em demasia e fora do controle, desperta o ódio entre o povo e nos inimigos, ocasionando o mesmo funesto destino de ter piedade em excesso de forma desmedida. No equilíbrio tênue e inteligente entre a piedade e crueldade, reside o sucesso pessoal do príncipe, a fim de ser amando pelo povo e temido pelos inimigos. O príncipe não deve temer muito menos importar-se com a má fama de cruel, a fim de manter os seus governados unidos e fiéis, pois será certamente mais piedoso do que aquele que, faz uso da excessividade da piedade, e por conta desta fraqueza, permite que ocorra desordens e violência contra o povo. Provoca então, com a excessiva piedade, a crueldade para com o seu povo, tendo uma responsabilidade direta nas consequências amargas de vivência dos cidadãos.
(Fonte: O Príncipe – Nicolau Maquiavel)