MORAR EM UM BARCO


          Morar em um barco, é mais que uma opção, é um estilo de vida! Não acho que seja necessariamente uma tendência humana para isto, mas uma necessidade explícita, subjetiva de poucos indivíduos nesta empreitada representando a vontade implícita de muitos outros. Envolve muito mais desprendimento do que investimento propriamente dito. O que se investe é para se ter naquele momento, por muito pouco, e não um acúmulo para gerar riquezas, que não sejam de experiências. As riquezas são momentos vividos em! As oportunidades de ver o mundo terra à partir de uma perspectiva da água, é estar em  sintonia direta com a natureza constantemente, em ângulos opostos que não se anulam.
          Pessoas com essa inclinação marítima, possuem ou descobrem um perfil "sue geners", pensam fora da caixa. Talvez egoístas à ponto de abraçarem aparentemente a solidão, apesar de não serem seres solitários, são, na maioria esmagadora, solidários. A vida no mar  pulsa diferente da vida em terra, a começar pelo balanço, ao sabor das marés e dos ventos sem falar nos mais belos pôr de sois que se possa imaginar. Não é que se vá isolar da terra, não, não é isso! A terra é mãe, e mãe nunca se despreza, é sagrado ser. Mas morar a bordo de uma embarcação é uma escolha que exige muito amadurecimento de quem tem esta ideia na cabeça. É preciso ser honesto consigo mesmo, ao seu amor próprio. É diferente de se possuir uma embarcação e sair apenas para um lazer, um passeio com a família ou com amigos, uma curtição digamos assim. Terminou, ao final você volta ao conforto do consumo urbano. Em um barco tudo é diferente do ponto de vista das conveniências e das facilidades. Ela tem que ser construída com o que se tem, aliás, o consumismo não tem espaço, a não ser para o estômago. É uma vida simples, que se aprende vivendo dentro dela, fazendo.
          As pessoas que optam por fazerem de seus barcos suas casas flutuantes são especiais. Especiais no sentido de encarar a própria vida para sobreviver e viver com dignidade. Daí surge um tipo de irmandade, unidos por um laço comum, o mar, compartilhando saberes às águas que os abrigam. Existe uma verdadeira solidariedade entre elas, o que os motiva a permanecer neste mundo. O interessante é que muitos simpatizantes "marinheiros" de terra firme são fascinados por eles, esse povo do mar, contagiantes, intrépidos descobridores e incentivadores de vidas novas e suas próprias renovadas nessa imensidão à perder de vista. O mar tem um poder misterioso sobre nós humanos viventes nesta era, talvez por guardarmos ainda  nas mais profundas raízes impregnadas de nosso primórdio, o mar como sendo o grande provedor de nossa existência como espécie, merecendo toda reverência agradecida sem nos percebermos. Quando olho o mar não é só o mar que vejo diante de mim, mas toda a imensidão que desconheço dentro do próprio eu.

Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 19/06/2020
Reeditado em 23/04/2022
Código do texto: T6982033
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