Conhecimento-poder

Por: João Paulo da Silva Pereira

*Estamos em declínio? Estamos em progresso? Para onde estamos indo?*

Afinal, onde estamos? Somos seres complexos, não sou biologicamente, mas a própria consciência é um constructo complexo. Somos oriundo de uma evolução, de uma linha tênue entre a vida e a morte, mas afinal, onde estamos? Estamos em um momento de evolução tecnológica, de novas descobertas e pesquisas, é inegável e claramente mensurável nossa evolução científica, não somos os mais poderosos, mas buscamos isso...

*Mas por que? Por que buscamos poder?*

Buscamos poder desde quando percebemos que com poder sobreviveríamos nessa grande corrida, que é a seleção natural, buscamos poder como quase sinônimo de conhecimento, mas não temos culpa, a nossa linguagem arcaica usada por nossos ancestrais, como o homo habilis, já se tornava ultrapassada. Nossos braços não eram tão fortes, não erámos tão rápidos e não tínhamos dentes tão afiados e grandes, necessitávamos resolver esse impasse, necessitávamos sobreviver. Como um problema ainda não conscientizado, buscávamos sobreviver a cada dia, tentávamos prever um ataque, e passamos a comer frutas e sementes, além de carne, já construímos pequenas teias de raciocínio, e como uma troca excepcional, ganhamos a linguagem.

Começamos a pensar em termos de hipóteses, e se? Já não era uma consciência intimamente relacionada com o agora, já pensávamos no amanhã, começamos a pensar em termo condicional e a elaborar previsões, e se um tigre aparecer? Como prevê? Através das pistas deixadas por ele, como o resto de uma presa abatida, pegadas e/ou plantas quebradas. Já não era suficiente observar fatos isolados, começamos naturalmente interligá-los e aí começamos a planejar, como em um jogo de xadrez _ pequenos peões podem se tornar peças "valorosas" _ e aí ganhamos o poder, o poder de analisar o tabuleiro e de tomar decisões inteligentes visando um objetivo futuro. Com o ganho do poder intimamente interligado com o conhecimento, buscamos conhecimento para ganhar poder e esse é o vetor que aponta para onde estamos indo.

O conhecimento oriundo da teoria da relatividade de Einstein nos proporcionou poder, o poder de controlar, não completamente, a dualidade massa/energia. O conhecimento do eletromagnetismo com a conclusão das pesquisas de Michael Faraday por Maxwell, nos proporcionou o uso da energia elétrica, a eletricidade como poder não nos causou malefícios em si, ao contrário do uso da energia nuclear para ganho de poder bélico, e como uma tentativa ousada de se sobressair em uma disputa ideológica. Qualquer ideologia seguida a risca é em si maléfica, pois não impõem limites para um determinado objetivo. O maior objetivo em investimento científico é o ganho de poder, seja ele benéfico em seu objetivo e maléfico em seu efeito, por uso intenso e/ou prolongado.

Ex: O ar condicionado, a tecnologia baseada em conceitos da física e química, junto com a matemática como ferramenta, e conhecimentos de engenharia, que é uma ciência que visa objetivos imediatos, ele o ar condicionado, emite gás carbônico, que aumenta o aquecimento global, ocasionado pelo efeito estufa. Também temos tecnologias que nos causa mais malefícios, pois como vimos, todo conhecimento científico é válido quando nos dá algum tipo de poder, pelo menos na atual ideologia presente na sociedade. O conhecimento de que a matéria é em tese, energia, nos ocasionou espanto de início, mas foi logo rompido pelo desejo de poder, evolutivamente presente em todos, pelo menos em tese. A engenharia como ferramenta científica da busca pelo poder rapidamente criou meios para usar a energia presente da junção de um próton e um nêutron, separando-as (fissão) ou juntando em um átomo mais um nêutron (fusão), o que proporcionou de início todas as ferramentas para se sobressair em uma disputa ideológica, pelo ganho do poder, mostrando, assim, que sua ideologia era "superior" a outra. E a busca pelo poder, nos colocou em uma balança sensível, que pode pesar mais para um lado. Sendo cada ideologia em si correta, na mente de quem a tem, automaticamente a outra se torna errada e deve ser eliminada, pois em si, representa o principal motivo para o retardo do ganho do poder (sendo ele pois, um vetor contrário).

*Como sair desse impasse, sem conflitos diretos, e sem um sobressalto de nenhuma das ideologias em questão?*

Para respondermos essa pergunta, necessitamos responder uma antes. Se foi natural o ganho do conhecimento e capacidades cognitivas para sobrevivermos e para isso necessitarmos de poder, sendo o conhecimento a mais poderosa ferramenta para isso, então...

*É inseparável e logo inevitável evitar a "perfeita relação" entre o conhecimento e o poder?*

Primeiramente concordamos que a ciência é a ferramenta mais útil para a busca de "conhecimento útil", me refiro a conhecimento útil o conhecimento que nos proporciona poder para além de nós, certo?

Segundamente, necessitamos responder duas perguntas antes, sendo a segunda respondida automaticamente após a resposta da primeira. Primeira pregunta:

*O que é ciência?*

Sendo o termo ciência muito abrangente, não há uma definição concisa, mas antes de definirmos o que é ciência necessitamos saber o que a precede. A curiosidade humana só surgiu de fato, depois de uma estabilização em sua sobrevivência, e um certo ganho da linguagem, até onde conhecemos, o ganho da capacidade linguística oriundo do ganho da linguagem para nos comunicar e nos organizar de forma cooperativa, nos permitiu pensar em termos abstratos, e futuramente as primeiras formas matemáticas, mas o que precedeu tudo isso foi a nossa curiosidade, e o ganho da linguagem que nos permitiu desenvolver uma nova forma de pensar, em símbolos. Foi assim que a matemática surgiu, a ciência mãe de todas as ciências exatas, mas o que antecedeu a matemática, a curiosidade? Mas o que é a curiosidade? A curiosidade surge quando queremos saber algo que não sabemos e que quase sempre não é necessário ter nenhuma noção do que é para querermos saber, logo a curiosidade é, *O DESEJO DE SABER.*Esse desejo é de fato a antecessora suprema da ciência, assim como tudo em nós é baseado em um desejo. Mas em termos neurológico o que antecedeu a matemática, sendo que sem esta seria impossível a matemática existir, foi uma nova forma de pensar, que surgiu com a mesclagem de nossos instintos primitivos (inteligência espacial e pensamento do agora) e de nossa mais nova capacidade cognitiva adquirida, a linguagem. Tendo em base tudo isso, poderíamos definir a ciência como:

*A mais recente e evoluída capacidade cognitiva, BASEADA EM UM COMANDO (DESCOBRIR), em uma 'união' de conjuntos (capacidades cognitivas), em um sistema de apoio (a linguagem, símbolos, etc.), que nos permite alcançar objetivos de forma mais "simples" e segura.*

E o objetivo da ciência é descobrir, conhecer. Que por si só não é maléfico, esse desejo genuinamente nosso, é em si, empolgante e revigorante, restaurar esse desejo nos cientistas e mostrar a todos o que é ciência, para que ocorra uma separação entre o desejo político e a ciência, é necessário, pois a ciência não é um desejo de poder em si, a ciência é a materialização do desejo de conhecer e isso implica apenas nisso,*CONHECER.* Tudo além disso não faz parte da ciência.

Então, a ciência é a ferramenta mais poderosa e bem elaborada que o homem construiu e essa ferramenta serve em seu cerne para desvendar os mistérios que a natureza "esconde", então, a ciência em si é a concretização da busca do saber; o poder de conhecer é o produto de uma busca, o que fazem com esse poder, não é de responsabilidade da ciência.

A ciência é a mais genuína expressão humana, a materialização do grande desejo humano... *CONHECER.* Levar esse conhecimento a todos, ou a quase todos, até que é possível, porém, difícil, agora conscientizar a todos, mudar a opinião de todos é utópico, mas essa será a solução encontrada no futuro, através de sofrimento ou não.

Como homo sapiens sapiens estamos seguindo nossos instintos em busca de respostas, sendo que o caminho certo ou errado, em si, não existe, existe o que trás menos dor, e o que trás mais dor. Já respondemos de onde viemos e para onde vamos, então, resta uma pergunta, *quem de fatos somos? * A resposta entregue a nós já não é satisfatória, pois não sabemos o que é a consciência e o que nos faz realmente nós é a consciência, então, se não sabemos o que ela é, logo, não sabemos quem somos. A resposta suprema que tanto buscamos é essa, mas buscamos isso inconscientemente desde que começamos a pensar.

Criado: 30/07/2019

Oaj Oluap
Enviado por Oaj Oluap em 15/06/2020
Reeditado em 09/04/2022
Código do texto: T6977994
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