DOIS CONTOS E COMO OS ESCREVI por Anderson do Rosário - As Histórias das Estórias

Bom, recantistas, tudo bem com todos? Espero os encontrar bem. Sobre A ORDEM ELEMENTAR não tenho muito a dizer, a não ser que foi algo ambicioso demais da minha parte, pelo pouco tempo que tive, a escrevi quase no prazo final. E que por isso faltou muito para que ela fosse satisfatória para mim mesmo em todos os sentidos. Eu queria um detetive, porque pensei primeiro no tema desaparecimento. Teoria conspiratória e a seita vieram depois. Meio que uma consequência natural do desaparecimento. Claro que pensei que muitas vertentes que brotaram desse rio poderiam ser exploradas mas eu segui meu instinto e por ele fui enganado, digamos. Acontece, nem sempre acertamos. É uma abordagem arriscada mas que exige tempo. Meu personagem Detetive Rômulo seria machista, mau-caráter, um típico detetive dos anos 90 com todos os defeitos daquela década. Muito ligado a mãe, cuja relação não foi abordada de propósito para que gerasse especulação mesmo. Os biscoitos como forma de se aproximar da italiana, a qual seja por semelhança física ou afinidade lhe traz lembranças da mãe. Janaína a prostituta, seria uma válvula de escape, além de alívio cômico. O fato dele dar o cartão dele para ela evidencia que eles ainda terão alguma intimidade no futuro. A secretária que chega unicamente para limpar sua bagunça depois que desesperadamente ele foge dos dois policiais é uma personagem menor que eu queria ter tornado maior. Acho que a relação dos dois poderia ser bem mais descrita do que foi. Por último o que mais me incomodou foi o desfecho totalmente insatisfatório. Vejam bem. A ideia embrionária era de uma menina fria e misteriosa, que olhava para o nada e não se mexia, como um objeto, um manequim. E ela deixaria meu personagem principal enlouquecido (a ponto de perder o juízo mesmo). Mas isso tudo não sei onde ficou. Eu não consigo explicar de fato os caminhos próprios que as ideias tomam ao irem para o papel e foi assim que aconteceu. Com R. M. RENFIELD aconteceu o contrário. Tudo foi fluindo e brotando mas fui muito focado no que eu conhecia de Drácula de Bram Stoker, pois já li o livro e vi todos os filmes clássicos. Principalmente minha maior inspiração que foi Drácula de Bram Stoker do Copolla. E meus pensamentos se voltaram para um personagem forte e infelizmente pouco explorado por Stoker, o Renfield. Eu inventei as iniciais R. M. pois no livro elas nunca são reveladas, somente seu sobrenome. Trouxe o Drácula lenda e também o empalador histórico Vlad Teps. Além do cuidado meticuloso com nomes da época baseados em nomes da Romênia do século XVI. O jardineiro Acar foi um personagem secundário o qual muito me agradou criar. Também me agradou muito ter dado vida e detalhes marcantes ao Renfield, da forma como eu imaginei que Stoker poderia ter feito. Me pergunto se ele teria gostado, mas nunca vou saber. Dar um amor a ele, lembranças, um coração, saudades. Misturar tudo com seu lado vampiro que luta contra seu lado humano com alguma desvantagem. Eu sentia que tanto no livro como no filme sua loucura disfarçava um sofrimento e um passado amargurado e triste. Mas eu também sentia simpatia por ele e quis que ele sofresse menos, talvez e tivesse um final feliz, como eu fiz. Por fim abordo o dilema eterno entre a relação de humanos com vampiros e o próprio Drácula levanta essa questão. Eu acho esse um dos meus melhores contos da safra 2020. E sobre meu método de escrever, ele não existe. Eu sento quando tenho uma ideia e simplesmente escrevo. Com isso eu posso escrever duas páginas e depois jogar tudo fora e não gostar, assim, do nada. Eu não perco tempo com algo que não se desenvolve de forma fluída e com crises de ideias. Eu simplesmente abandono, sem pena e esqueço. Se tiver vontade de voltar para o texto e surgir a tal inspiração eu sigo com a escrita dele, se não ele está morto. Acredito no que Stephen King escreveu em seu ensaio Sobre a Escrita. Que histórias são como filhos nascidos de uma terra distante e que escritores são apenas canais, a forma como essas histórias que já existem flutuando prontas em algum lugar podem ser desenvolvidas e passadas para o papel. Eu me sinto um filho rebelde da arte da escrita. Fico muito tempo sem escrever nada ultimamente. Sem pretensões ou grande ambições. Não sei o que me espera lá na frente. Mas sempre espero uma grande história. Considero também até os fracassos como grandes feitos e um aprendizado importante. Digamos que depois que os filhos nascem e se batiza eles, não se pode ter vergonha deles. Uns serão melhores que outros ao longo do tempo, mas isso não significa que serão mais amados.

Anderson Roberto do Rosário
Enviado por Anderson Roberto do Rosário em 13/06/2020
Código do texto: T6976132
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