A GRANDE SINFONIA DO INUTILISMO!

*Por Antônio F. Bispo

No infinito ensaio da estupidez dos homens, alguns de nossa espécie estão há milênios se preparando para se encontrar com os deuses de suas crendices e com eles se relacionarem em uma união fraternal ou marital que durará por toda a eternidade, segundo a versão que mais lhes convém.

Pelos deuses, para os deuses ou em função dos deuses esses orquestram suas vidas de acordos com os desígnios do senhor para que deus fique feliz com eles e lhes recompensem realizando todos os seus desejos egoístas e autodestrutivos. E como saber se deus se agradou? Simples: se o líder religioso ficou feliz, é por que deus estar feliz!

Com bolso cheio e barriga cheia às custas do povo e com gente manipulável obedecendo a tudo sem nada questionar, todo líder religioso deveria estar feliz com isso. Mas o desejo de domínio e poder comum a todos os mortais faz com que a busca pela expansão do seu império pessoal em nome da fé o torne em um tirano implacável na maioria dos casos. Nesses casos, palavras como deus mandou, deus disse, deus quer e deus ordenou se tornam corriqueiras para que propósitos nefastos sejam feitos e agindo como hostes infernais, os mesmos se descrevem como seres angelicais em missões divinas, onde o próprio cristo é o comandante de tais exércitos.

Deus nunca fora visto ou tocado por ninguém. Sua forma e aparência também é um mistério. Seus desejos sempre confusos e controversos. Seus atributos surreais são todos inúteis e os títulos a ele concedido, pode ser encontrado em todos os deuses já fabricado pelos homens. Mesmo assim, como um adolescente enamorado por quadro de uma celebridade pendurado em seu quarto, a “noiva do cordeiro” se prepara para as núpcias. Esse momento tão especial em que ela irá se unir ao seu esposo/ messias/ juiz/ justiceiro sanguinário para julgar e condenar o mundo como se esta (a igreja) fosse uma rainha má!

O desejo de sentir-se superior ao demais é tão grande que os homens elegem paus, pedras, metais, gessos e seres invisíveis como seus protetores e guias e a esses rendem louvores e dizem que com eles reinarão para todo o sempre em um futuro fictício, como em um conto de fadas para adultos que se recusam a crescer.

Desperdiçando o presente momento e todas as oportunidades de estarem como senhores dos seus próprios destinos, muitos destes “entregam suas vidas nas mãos de deus” e dizem viver sob seus desígnios, inclusive os crimes e maldades que cometem acreditam que foi por que deus o quis ou permitiu como forma de aperfeiçoá-los para um bem maior.

Por que será que para muitos fieis é bem mais fácil separar 1 mil reais de dízimos de uma única vez para dar ao pastor ou igreja do que pagar 1 prato de comida para alguém em extrema necessidade?

Muito simples: todo rito de adoração e louvor é um jogo de interesses. Na cabeça de um fiel, se deus não lhe recompensar, o pastor provavelmente o fará de alguma forma. E um mendigo? Um pedinte ou uma criança de rua, o que tem a oferecer? Nada que beneficie quem deseja ser favorecido pelos deuses e homens!

Nesse intuito irracional em ter prioridades para com àquele qual dizem não fazer acepções de pessoas, os tais podem fazer da própria vida um verdadeiro martírio criando ou sujeitando-se a leis e dogmas sem validade alguma e quando não, pelo preconceito, estes são capazes de infernizar a vida de todos os “infiéis e perdidos desse mundo”.

Sangue derramado, vidas destruídas, propriedades saqueadas, vilarejos incendiados, pessoas oferecidas vivas em sacrifício aos montões...tudo isso como forma de subornar os deuses para que esses lhes favoreçam em detrimento aos demais. Isso sempre fez parte da liturgia aos deuses e anti-deuses que a humanidade fabricou. Isso precisa acabar!

Será que existe algo tão estupido quanto isso? Em nome da vida eles são capazes de apregoar a morte; em nome da paz executam a guerra; em nome do amor propagam o ódio e em nome da liberdade, cativam milhares de mentes ao ensina-las a ver o mundo sobre apenas um único ponto de vista, punindo a todos quantos deste discordar.

No passado e ainda no presente essa ladainha se repete, se renova e se reinventa para agradar as massas, e como quem se alimenta apenas de vento, eles jamais estão saciados. Nem os deuses e nem os que lhe rendem cultos estão completos e nem conseguem estar em paz. Quando não estão em guerra com eles mesmos, estão a criar demônios e todos os tipos de inimigos imaginários para que no momento de encarar o fracasso de suas vidas possam ter a quem culpar. Sem os tais inimigos, teriam de assumir seus próprios erros.

Numa cantoria que já dura milhares de anos, trocando o presente certo por um futuro mítico eles estão sempre a dizer:

- “Quando eu estiver com Hórus...”

- “No dia em que eu estiver com Zeus...”

- “Que em Valhalha Odin e Thor me recebam em seus grandiosos salões...”

- “Não vejo a hora de estar com Maria mãe de deus e todos os santos e penitentes dessa terra...”

- “Em nome de Alá eu te mato e mato a todos no instante em que me mato, para depois, com 70 virgens permanecer numa orgia infindável no harém celestial...”

- “Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, amém! Depois de orar, jejuar, dizimar e obedecer cegamente ao meu pastor por toda uma vida, agora estou pronto para ser recebido por ti, ó deus e em teus braços eternamente descansar...”

E assim caminha o mundo! Pelo menos o mundo dos que acreditam que todas as coisas foram criadas pelos deuses, para os deuses ou para gloria destes.

Em um mundo com quase 8 bilhões de pessoas, nossa prioridade deveria ser a de aperfeiçoar nossas leis, diplomacia, caráter, e nossas habilidades de relacionamentos e comunicação de modo geral. Em vez disso estamos ensaiando danças, coros, musicas e até posições sexuais para quando nos encontrarmos com os deuses. Quanta babaquice!

Mais de dois terços da população mundial perde cerca de 1 terço de sua existência, do seu tempo útil ou de seus recursos financeiros em função dos deuses que nada lhes dará em troca. No máximo um representante deste ou daquele deus falará em seu nome inflando o ego do fiel e incentivando-o a ser mais fiel (trouxa) ainda.

A vida é curta e bela e poderíamos dar um sentido melhor a nossa existência se não fosse tantos ritos inúteis e tanta oferenda que nunca alcançara o destino esperado. No entanto, quando não estamos tentando agradar a deus, estamos fugindo do diabo...o tempo todo e quando menos esperamos a morte nos surpreende.

No grande teatro da vida é assim: um arrastar de cadeira, uma nota fora do tom, um pigarrear proposital...coisas simples assim são capazes de desfazer a harmonia dos que na orquestra da ilusão tocam a grande sinfonia do inutilismo. As vezes isso é tudo que precisamos fazer! E quando isso não for suficiente, podemos pegar nossos instrumentos e tocarmos sozinhos por aí nas esquinas da vida.

Uma das piores coisas no teatro de nossa existência é descobrir que ao se fechar as cortinas da vida no palco da insensatez, o motivo da piada era você!

REVER NOSSOS CONCEITOS nunca é demais.

Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 11/6/20

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 11/06/2020
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