ADORADORES: VÍTIMAS DE VELHAS TRADIÇÕES OU SÁDICOS INCONSEQUENTES?
A gratidão aos deuses e os seus reflexos para contribuição das desigualdades sociais ao longo dos séculos!
*Por Antônio F. Bispo
Toda adoração, toda oferenda, e todo pagamento de dízimos aos deuses é acima de tudo um ato consciente ou inconsciente de corrupção, onde aquele que oferta, confirma de modo involuntário que deus pode ser corrompido por coisas insignificantes e desse modo conceder favores diferenciados ao que oferta. Do mesmo modo que uma pessoa suborna uma autoridade civil ou militar para ser beneficiado em algo, os que ofertam aos deuses fazem o mesmo com o deus qual dizem servir.
Apesar de afirmarem verbalmente que deus é justo, que é pai de todos, que criou todos os homens e vê a todos por igual modo e que não precisamos nem pedir o que carecemos pois ele em sua onisciência já o sabe e em sua onipotência já o providencia, os crédulos nos deuses afirmam com todas as letras que a justiça e favores desse deus podem ser comprados, desviados e redirecionadas para quem pagar mais ou quem mais o bajular.
Um deus eterno, auto existente, autossuficiente, onipotente e cheio de tantos outros atributos surreais a nenhum outro ser aplicável, que de nada precisa, mas que só funciona na base do toma lá, dá cá e se não for chantageado com louvores ou oferendas inúteis a ele mesmo, nada o fará por quem quer que seja! Seria cômico se não fosse trágico!
Os que já se libertaram das amarras desse círculo maligno de temor-adoração-castigo e recompensa, sabem muito bem que deus algum nunca fez uso de nada do que a eles são ofertados, antes sim, toda uma hierarquia (gananciosa) de líderes religiosos é quem se vale dos recursos oferecido aos deuses para o seu próprio uso pessoal.
Além disso, utilizam-se de tais recursos para oprimir e escravizar o próprio povo que o sustenta, aprisionando-os no mundo imaginário criado por eles, e deste mundo não mais sair. Quando não, tais recursos poderão ser revertidos pelo próprio administrador do templo em ferramenta de abuso não apenas sobre os crédulos, mas sobre todos quantos estiver no raio de alcance do operador dos recursos. Assim a conquista em nomes dos deuses ou para os deuses será a causa pela qual este irá convencer os fiéis a lutarem ao lado deles, e morrer por esta causa se preciso for.
Foi com as oferendas dos fiéis que a igreja católica financiou suas cruzadas, tomando reinos, matando e destruindo todos quanto resistiam sua autoridade, fazendo isso em nome do senhor!
Era também com as oferendas que ela financiava seu exército particular para invadir feudos, e destruir qualquer senhor feudal e seus subordinados que não estivessem de acordo com as ideias de dominação da igreja. Mesmo este senhor sendo leal à vossa santidade, se de repente a igreja encontrasse um ainda mais trouxa e mais subordinado que o atual, não tinha receio nenhum em destroná-lo para que o outro assumisse seu lugar, sujeitando a todos e explorando a todos para satisfazer o desejo de quem o pusera ali.
Foi por meio de tais oferendas aos deuses que os inquisidores medievais obtiveram recursos para atravessar países inteiros a fim de torturar e matar todos quanto fossem acusados de heresia.
É sob essa mesma relação maléfica entre pagadores e recebedores de oferendas, entre os atuais crentes e o seu deus, que os grandes líderes evangélicos dos últimos 50 anos tem crescido e influenciado de todas as formas a cultura e a política de nosso pais, decidindo para o bem ou para o mal, não apenas o destino deles, mas de toda uma nação, quando na verdade o intuito principal dos que lideram é apenas o de estabelecerem os seus próprios reinos, apesar de levarem consigo uma suposta bandeira de cristo.
Nunca foi e nunca será para deus alguns as oferendas feita pelos homens! Todas elas são para homens comuns que se tornam deuses e agem como se fossem, à medida que crescem o número de fiéis, iludidos, ignorantes ou gananciosos, que se despojam do controle de suas próprias vidas, as entregam aos que dizem ser direcionado por algum deus.
A ideia de que precisamos fazer oferendas aos deuses para estamos virmos, sermos abençoados por eles, ou termos privilégios especiais sobre tudo e sobre todos, distorce a percepção de realidade dos fatos, perverte todos os tipos de valores sociais, e faz com que seja justificável todos os tipos violências entre os homens, a fim de agradar seres que só existem no imaginário coletivo.
A competição estúpida é notória sob todas as formas de culto, diante de todos os representantes dos deuses. Tem sido assim desde sempre, inclusive, segundo a própria bíblia, o primeiro homicídio da história ocorreu justamente quando dois irmãos disputavam sobre quem tinha a forma mais abobalhada de como deixar o seu deus (o deus de ambos) mais feliz. Um julgava que queimando animais teria mais vantagem do que queimando frutas para que o seu deus cheirasse (ficasse doidão) e concedesse privilégios ao que produzisse a fumaça mais estonteante.
No passado, quem não tinha como ofertar aos deuses, achava-se menos favorecido em relação aos que tinham, e quanto mais a fortuna e os domínios dos que sacrificam aos deuses aumentavam, mais inferior se achavam os que nada podiam fazê-lo e maior era a opressão dos “abençoados” pelos deuses sobre os não abençoados. E as desigualdades sociais só aumentavam.
Vale lembrar, que a exemplo de Abrão, cujos líderes religiosos usam-no sempre como exemplo primordial em tudo, inclusive na entrega do dízimo (Gênesis 14.20), os dízimos qual se referiam naquela época era um pouco de tudo, inclusive dos produtos de roubos e saques diversos. Ou seja, prevalecia a lei do mais forte ou do mais bem armado: homens se juntavam em bandos para atacarem pequenos vilarejos, subtrair os pertences dos residentes e trazer como escravos todos quantos eram úteis para trabalho braçal ou para prazeres sexuais. E deus estava com eles, segundo o que eles diziam!
Ações covardes repentinamente direcionadas às mulheres, velhos e crianças ou às caladas da noite, eram vistas como um sinal de sabedoria dos deuses por aqueles que ficavam vivos para contar a história. A própria “bíblia sagrada” está recheada de exemplos como esses, de supostos heróis da fé, que na verdade não passavam de covardes, sanguinários, delinquentes e esquizofrênicos. Depois de pilharem tudo, os “vencedores” se juntavam à beber, dançar, festejar e louvar aos seus deuses pela vitória alcançada, depois de terem saqueados vilarejos inteiros, matado seus habitantes e reduzido às cinzas tudo que o que por acaso ainda restava ficara de pé!
Assim traziam os dízimos aos sacerdotes nos templos (ou seja, o produto de roubos e saques e latrocínios diversos) e “deus” os abençoavam. Quando podiam, traziam também os produtos agrícolas ou manufaturados de seus próprios feitios. Mas quem vive o tempo inteiro planejando em subtrair os bens alheios, quase não tem tempo de produzir nada, não é mesmo?
Em recompensa os sacerdotes concediam posições sociais privilegiadas ao lado deles, aos maiores dizimistas e estes por sua vez podiam desfrutar de diversas regalias, poder e autoridade enquanto estivesse dessa forma. Ainda hoje é assim e nada mudou (prova que o culto aos desses é uma ancora que empaca no mesmo lugar o grande navio da evolução humana)!
Em outras palavras, ninguém agrada a deus, adora adeus ou oferta nada aos deuses! Todos os que o fazem, estão direcionando seus recursos, poder e autoridade à pessoas comuns, que se tornarão especiais não por que tenham nada em especial, antes sim por que a sociedade o desenhou para ser assim.
Do mesmo modo que todo poder vem do povo, para o povo, em favor do povo ou contra o povo, nenhum líder religioso, de religião nenhuma, de igreja alguma tem autoridade divina nenhuma, e quem disser que tem, não passa de um mentiroso, falastrão! Toda autoridade que eles alegam ter, vem da submissão cega do povo e qualquer um que entender isso, e tiver coragem de “pular fora” desse lugar de doido, tornar-se-á livre do julgo destes líderes e dos deuses que eles dizem representar.
Em um ambiente religioso, ainda que ninguém oferte nada hoje em dia por nada ter, mas se se concordar e transmitir os ideais dos donos das igrejas, terá a mesma serventia de quem doa alguma coisa, pois fará com que crianças cresçam nessa mentalidade e assim perpetuem esse pensamento retrogrado que serve na maioria dos casos como pivô principal das desigualdades sociais. Evangelizar é apenas convidar pessoas livres para serem súditas de pastores, bispos, padres e todos os que dizem representar uma divindade. Mas todos o que o fazem dizem ou acreditam que estão angariando almas para o reino de algum deus.
Quem sai as ruas à evangelizar, julga estar pregando o reino de deus e a liberdade que esse o traz, quando de fato, prega apenas o reino de sua própria igreja e a submissão total a toda uma hierarquia de homens (na maioria dos casos), mal intencionados, oportunistas e vigaristas. Pior que isso, é que todos eles conseguem ser capazes de fazer com que a pessoa desenvolva sentimento de gratidão por estar sendo oprimido, sujeito a todos os tipos de desejos do liderado, inclusive dos desejos sexuais, á exemplo dos quais todos os dias passam nos noticiários de todo o planeta, onde “deus” esteja guiando um líder religioso qualquer.
É errado desenvolver sentimentos de gratidão por algo ou alguém?
Não, claro que não! Desde que esse alguém seja real, seja útil e tenha feito realmente algo de bom por qualquer pessoa! Podemos e devemos ser gratos sim as pessoas reais que por meio de ações ou palavras trazem algum tipo de melhora as nossas vidas.
Porém, agradecer a seres imaginários ou a seus representantes por serviços prestados por pessoas reais pode ser no mínimo um ato de desrespeito ao benfeitor.
Triste sina da humanidade! Escravizada pela ideia de um deus malvadão que nos observa o tempo inteiro para nos punir, se veem na obrigação de fazer pagamentos e devoções constantes aos que dizem ser seus representantes para por estes não serem punidas ou exclusas da sociedade.
Mas será mesmo que precisamos fazer isso? Ou tudo não passa de uma patifaria? Não seria essa uma forma suja que encontramos de desviarmos recursos, energia e poder para gente gananciosa e negarmos gratidão a quem realmente deveríamos?
O mundo com certeza seria um lugar bem melhor, se não “existissem” tantos deuses, fazendo nada e querendo levar crédito por tudo! Sentir-se grato por algo ou por alguém é totalmente diferente de agradecer a deus e lhe dever louvores e serviços intermináveis por coisas que ele nunca fez.
Você pode sentir-se grato com você mesmo, por ter alcançado uma meta; a uma pessoa que o ajudou em uma necessidade; aos seus pais pela guarda, cuidados e valores ensinados; aos seus mestres pela paciência e dedicação na transmissão e aplicação do conhecimento; ao seu empregador pela oportunidade trocar serviços por dinheiro para o seu sustento e até mesmo ser grato com o seu animalzinho de estimação pela agradável companhia que este lhe proporciona, porém é na gratidão a deus, que um dos mais perversos sentimentos humanos é estimulado: o SADISMO, ou seja o prazer explícito ou implícito na dor alheia, em detrimento ao próprio confortou ou prazer pessoal ou grupal.
No próximo texto concluiremos esse raciocínio! CONTINUA...
Texto escrito em 24/5/20
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.