Tolices e A Arte do Esclarecer

A vós que a vida por só é sagrada, alegrai no vosso amém; a vós para quem é necessária a felicidade à vida, enfastiai na vossa alegria; a vós para quem a vida ou não é sagrada ou a felicidade cansa, — a vós quero falar. Se ainda não desconsiderastes a vida em todo, tomai aquilo que para vós é sagrado ou mesmo pé de barro e tornai vosso pé. A vós que os pés de barro são vossa coisa mais sagrada, a vós é quem quero mais falar. Amigos, pois que amigos me sois, sabei que é do sagrado que todo homem identifica aquilo que para si é sua verdade. Para aquele quem a tolice é a coisinha mais leve e de se rir no coração, como vós, também deverá ser essa boba coisa sua estimada beleza, seu belo, e, daqui, tudo o que nisso se basear, sua ética e seu dever.

Vós sabeis dizer daquilo no mundo que, em estima a vossa tolice, é o belo. No mundo e ao mundo, tendo isto em mente, deveis dar as razões às coisas para que as coisas sejam, elas mesmas, tolas e risonhas. Valei disso então: alguns homens dizem que tolas coisas são tudo aquilo que não é sério em seu todo. Nisto, são seriamente tolos. Serem eles sérios os torna tolos. Na realidade, todo homem é tolo no coração e toda tolice é motivo suficiente para dizer o que se deve. E sabereis que aquilo que dizem os homens sobre o dever, o reto e devido, é aquilo que, realizado, os faria rir no coração. No imo do homem, seu belo e sua ética exibem a mesma essência. No entanto, há de um empecilho de tomar aquilo que nos é querido no coração, a arte do esclarecer.

Meus amigos, cuidai, esclarecer tudo, esta é a arte nossa, ou melhor, de nossa mixórdia atual, daqueles que nos concircundam. Contudo, há de nós, — melhor, de vós, — quem não gosta dessa péssima musa. — Este remédio é para médicos, clamai! Ora, meus amigos, para nós, — melhor, vós, — esta tragédia, nossa tolice, não pode curar-se, não deve. Nosso veneno não cura, ele mata. Ah, como nos mata! Como é devido este.

No entanto, no tocante à verdade, há também doutros casos quais estar advertido deve aqui presteza. Não é pedido aqui que caleis ou que não inquirais sobre ela, pois vede que uns clamam que para dizer dela basta calar, e, na verdade, seria muito saboroso não os corrigir nisto, que o seu silente é um tanto agradável, mas também se dirá, em geral partindo desses calados, dos inquietos ou mesmo dos debochados, que aquele que inquire a verdade dela não sabe, — nisto são tão altivos que causam opróbrio. Ainda mais, acusar esse deboche nas questões humanas, nas falas, é não perceber das entranhas. Os homens, sejam lá quais, são no fundo crianças, deste modo, fazer vista grossa aqui, quanto a isto, é os vituperar, é nos vituperar — afastai tal empresa, esta é suja.

Por aquilo que me entendestes cá, já basta para ir adiante. Outro floreio racional seria convulsionar, seria quiromania. Para nós, eia, que nossa tolice é séria!

H Reis
Enviado por H Reis em 24/05/2020
Reeditado em 24/05/2020
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