A espontaneidade versus a revisão do texto na concepção da obra de arte literária
para Danilo, que me incentivou a iniciar uma discusão desse nível.
Hoje existe um forte e constante desejo nas pessoas de escapar à banalidade, à vida normal. Aos que optam por ingressar na eternidade via literatura, dois caminhos se abrem.
O primeiro, a criação artística espontânea. Esta que é defendida por muitos como manifestação autêntica da arte e única capaz de flagrar o ser humano no que ele tem de mais sensível: sua precariedade.
O outro caminho é o daqueles que optam por uma obra de arte mais trabalhada. Um texto que é cada vez e sempre trabalhado e alterado. Tudo em busca da melhor forma, da melhor palavra, do melhor sentido e estética do texto. Se por um lado o trabalho excessivo sobre o texto lhe tira um pouco da autenticidade (embora o conceito de autenticidade seja muito subjetivo), por outro, lhe dá uma cristalização e perfeição que o colocam num patamar diferenciado.
O texto que é burilado em excesso adquire uma tal característica que o incrusta no tempo e poucos são os que se atrevem a alterá-lo ou apontar os erros de seu autor. Prova disso são os livros de um Machado de Assis, um Monteiro Lobato, um Guimarães Rosa. Autores que sempre reviam e alteravam os textos de uma edição para outra com o objetivo de dar-lhes a melhor feição possível.
Enfim, a cristalização do texto através do trabalho constante, sério e consciente sobre ele dá muito melhores frutos no sentido de alcançar-se a imortalidade através da obra. E essa a vantagem maior sobre a alardeada espontaneidade.