Somos crianças adultas, porém, sem a pureza daquelas (ou, e se deixássemos o novo chegar)

Podemos esquecer as dimensões que nos fazem ser o que somos? Eis minha questão. E para que possa respondê-la adequadamente - de ti, caro amigo - não se exigirá, a não ser, e apenas, que se debruce, sobriamente. Entenda, por sobriamente, quero dizer: esqueça seus preconceitos, abandone suas certezas, coloque - para que tudo saia límpido, como a água mais pura - suas crenças em hibernação. Agindo assim, acredite, descobrirá que suas certezas não eram sólidas; o solo onde as assentou era arenoso e, característica desse tipo de alicerce, nada se sustenta. Que, desde que as introjetou, deu, a elas, tantas escoras, tantos arrimos, que já nem mais consegue achar o princípio da teia. Se, ainda assim, e percebendo que algo o prende a preconceitos constantemente reelaborados, saiba, e não se envergonhe por tal descoberta, que boa parte do que somos, e nos tornamos, são reelaborações que nem sabemos donde vem. Lembre-se: somos seres impulsionados a socialização, somos - está no nosso gene - programados para o convívio coletivo, somos agregadores. Portanto, e esse é nosso preço a pagar, não podemos dizer que nossos pensamentos, sentimentos, etc, são só nossos e independe do que, e com quem, nos relacionamos. Aristóteles já disse: somos animais políticos. Então, e para não trair essa máxima, ao tentar dar resposta ao que lhe apresentei acima, procure, afora o que já pedi sobre despir-se dos preconceitos e das certezas, imaginar como seria sua existência em outras circunstâncias. Talvez, fazendo isso, suas conclusões podem ser surpreendentes também pra ti. Se, ao final, ainda persistir suas convicções, também não se envergonhe; quem disse que seria fácil mudar conceitos e convicções introjetados por toda vida e por todos os meios? Só o fato de ter topado esse exercício que propus, acredite, já foi de grande valia.