Por uma nova razão de existir (ou de quando filosofar é possível)
A despeito de eu entender, não sei, todavia, o que significa ignorar sua existência. Estranho isso, mas, tenho notado que fazer de Você (o Outro) que devo desconsiderar, pois, ao privilegiar o meu Eu como a medida de todas as coisas, elimino Você/o Outro da minha vida. Você e eu, embora, possa parecer que não, temos mais coisas em comum, do que possamos admitir. Somos a essência de tudo que se denomina, ainda que não admitida, a materialização do animal político. Somente nós - para o bem e para o mal - detemos a capacidade de dar solução aos nossos problemas. Não há como negar: nossos problemas são criações nossas e, portanto, a solução deverá vir por nós. Nesse sentido, me custa aceitar a ideia - ainda que sem má intenção, ou, a serviço de interesses, aqui desconhecidos - de que a solução advirá de forças míticas, para não dizer, sobrenaturais. Reconhecer nossas limitações, e, portanto, aceitar nossas imperfeições, não significa, e muito menos, corrobora, que, ao aceitar nossas limitações, estejamos entregues à sorte ou ao destino. Admitir, pura e simples, que nossa existência depende da sorte ou que - e isso se insere numa lógica perversa de negação de nossa capacidade cognitiva - nossa história já vem demarcada e, portanto, não há como superá-la. Não ! É preciso romper essa camisa de força. Acreditar nisso é o botim de ouro para quem tem interesse – esse sim, muito bem claro e demarcado – que as coisas continuam do jeito que estão. Não a toa, se investe em programas cujos conteúdos apresentam soluções mirabolantes e de sucesso, com a tarja “empreendedor””. Nesse aspecto, empreendedor é todo aquele que não está subordinado a um chefe, um gerente, enfim, um patrão. Empreendedor é o que deu o passo, que avançou, porém, tem esse empreendedor os mesmos mecanismos de financiamento como tem as grandes empresas. Tem, ainda, as mesmas taxas que tem uma empresa filiada à Federação das Indústrias? A onda do empreendedorismo, assim como, outrora, houve a do voluntarismo, atende - e não é exagero dizer que objetiva adestrar mentes e corações acríticos - a mecanismos voltados a um sentimento de pertencimento historicamente negado. Reforçando: incorporar no discurso àquele a quem sempre foi negado direitos mínimos de existência, objetiva, apaziguar uma força latente por mudança.
É preciso não acreditar em discursos que nos “oferecem” emancipação. A tal emancipação só virá se, e somente se, entender que nossa capacidade de transformação da realidade só será possível quando não permitir que soluções exógenas adentrem o espaço de existência mútua e sem hierarquias. Não virá, ainda, de entidades que habitam nosso imaginário, independente, da crença individual de cada um. Nesse sentido, retirar o poder atribuído a esse imaginário, não pressupõe negá-lo pura e simples; trata-se apenas de devolver ao Homem a capacidade – que é só dele – de superar suas demandas. Enfim, problemas humanos, soluções humanas.