O Homem Alface
O Homem Alface Ivo Di Castro
O Homem Alface - 28 de abril de 2020
Eu sou assim desse jeito. Gosto do azul e tenho me vestido de azul a maior parte da minha vida. As vezes enjoo de mim. E quando isso acontece fico acumulativo.
Nesses anos todos de vida vesti camisa sobre camisa. Primeiro a azul, depois a azul clarinho. E em seguida novamente a azul, muito depois um verde, mas sempre intercalando com o azul para não me parecer repetitivo.
Na idade que tenho hoje, eu tenho o mesmo número de camisa vestidas. Sou uma espécie de guarda-roupa ambulante.
Ando vestido camisa sobre camisa em todos os anos da minha vida. Nem mesmo o azul que é a minha cor preferida eu tenho tirado no dia a dia. Passaria o resto da minha vida se tivesse que tirar uma a uma todas as camisas que se acumularam sobre o meu corpo.
Estava aqui pensando comigo, numa espécie de diálogo interior. Qual seria o meu apelido, tivesse eu que me auto apelidar?
-Pensei um pouco e... pronto! Eu sei. Eu seria o homem alface. Sim, o homem alface porque o alface veste verde. Folha sobre folha. Repetidamente folha. minhas camisas, uma sobre as outras. A única diferença é que, mais do que eu, o alface detesta variar. Pode ver, veste uma cor igual a outra. Todas no mesmo tom. Sempre igual.