O NOSSO VAN GOGH

Van Gogh acordou na madrugada com sua velha insônia e os pensamentos loucos de querer fazer uma arte autêntica, de cunho unicamente seu... Disse em voz alta, no vazio daquela noite na qual nem sequer uma estrela brilhava naquele céu cinza de Arles (era estação de inverno): "Não ouse tocar na tela!" E saltou da cama com um pincel na mão como que intimidasse um inimigo que lhe ameaçava a vida...

Mas o que realmente quis dizer o pintor dos girassóis? Provavelmente sonhara com um daqueles pirralhos que, desocupado, veio zoar do coitado no seu sono...

Pois bem, Van Gogh acalmou-se depois de acender seu velho cachimbo que ganhou do irmão no verão passado… Se recolheu na sua cama mantendo a luz da lamparina apagada, apanhou de sobre a mesinha, ao lado da cama, uma espécie de aparelho, o qual de modo algum não balanceava com a composição rústica de seu quarto...

Ao tocar o dedo, pesado do óleo das tintas do seu labor, na parte frontal do aparelho, eis que uma luz se abre no seu rosto a iluminar a barba alaranjada como as tulipas nos campos holandeses... A claridade do aparelho ainda se expandia nas paredes e nas coisas ali de tal modo que, tudo se assemelha a um céu noturno, completamente estrelado...

Mas que espécie de objeto seria àquele? O nosso Van Gogh logo parecia já não está por ali... O quarto se esvaziou todo, a poesia das cores nos móveis silenciou, sequer vestígios de poeira estrelas...

De repente, no meio daquele silêncio perturbador para quem observava a tela vazia, o pintor abriu um sorriso como se visse algo naquele objeto que o animou a alma... E exclamou: "Mas que loucura!" Loucura? Logo ele habituado a "loucura" proporcionada por sua palheta, falava tão surpreso de uma loucura alheia, como se houvesse mais loucura no mundo que esta loucura propriamente sua, que nos adoça a alma de uma ternura incrível...

És nosso Van Gogh! Vivamente caricaturado pelo artista iraniano, Alireza Karimi Moghaddam, apaixonado por suas obras, que com criatividade, beleza e sensibilidade trouxe-nos à contemporaneidade o Vincent da eterna "Noite Estrelada".

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Agnaldo Tavares o Poeta
Enviado por Agnaldo Tavares o Poeta em 19/04/2020
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