A IRMANDADE DO MEDO E OS ARAUTOS DO APOCALIPSE
Em dias difíceis, ter fé na humanidade e demonstrar equilíbrio pessoal, pode ser considerado um insulto para os que em nome de deus anunciam o caos!
*Por Antônio F. Bispo
Medo...essa é a palavra que melhor define o padrão de comportamento do “povo de deus” ao redor do mundo. A segunda melhor palavra que os define é a soberba e a terceira seria a hipocrisia. A essas 3 características e a tantas outras derivadas destas eles chamam de “amor a deus e obediência aos seus mandamentos. Praticamente todas as religiões tem esse tripé como base e em algumas delas isso fica mais evidente a exemplo das que dizem seguir ao “deus bíblico” ou “deus de Abraão”.
Para praticamente tudo o que “de ruim” acontece no mundo, um “crente fiel” terá sempre na ponta da língua uma coleção de frases estupidas para explicar as situações que não compreende ou não quer entender. Entre as mais comuns estão: “é deus que estar irado conosco”; “é a mão de deus pensando sobre nós”, “é o princípio das dores”; “é a vinda de jesus” ...
É de sangrar os ouvidos de tão agudo que chega a ser estupidez desses argumentos. É na própria bíblia que dizem ser sagrada que eles retiram as maiores pérolas e com elas fazem adornos de irracionalidade, incoerência e insignificância, todas baseadas no medo absurdo de um ser que nunca fora visto por ninguém, que não tem um padrão universal de agir ou de se apresentar e que permite que qualquer um seja o seu porta-voz oficial com direito a receber dinheiro e honrarias em seu nome em detrimento ao sofrimento e abuso alheio. Esse medo irracional de deus é o mesmo medo do bicho-papão que um dia nossos pais implantaram em nós para nos controlar de alguma forma. Mas crianças um dia cresce e o medo vai embora. Quanto aos que servem a deus...
Quando esse livro “sagrado” começou a ser escrito na idade do bronze, a mentalidade destes crentes era a de um povo de nômade, com várias tribos de uma mesma raiz familiar guerreando entre si por uma terra melhor ou pela maior quantia de despojos nos saques e assaltos constantes que faziam, eram guerreiros, escravos, caçadores, coletores e pescadores e que em suas conquistas de territórios os chefes das tribos costumavam usar de mandigas, palavras de maldições, frases de efeitos e ilusionismo barato para intimidar os inimigos ou levantar o moral das própria tropas. Isso era comum a todas as tribos. Inclusivo as do “povo de deus”.
Misticismos era o que não faltava nesse povo e tudo poderia ser traduzido como um objeto de sorte ou azar nos combates ou na falta de respostas quando esse deus que tudo ouve não ouvia seus lamentos e eram massacrados por outros “povos sem deus”. Cada tribo ao perder ou ganhar uma batalha relatava do seu próprio modo aos seus descendentes o enredo dessas pelejas e como foram agraciados ou desprezados pelos deuses. De boca em boca, por centenas de anos até que viesse a ser compilada de forma escrita, transformada em livros e depois em coleção (bíblia).
Dizem que quem conta um conto acrescenta um ponto...levem conta dois ou 3 mil anos de contos orais sendo repassados de boca a boca e veja onde isso chegou. Esse é sem dúvida o principal motivo de o deus bíblico ter tantas qualidades surreais e nenhuma delas não servir para nada. Quem já brincou do famoso telefone sem fio sabe muito bem como é isso.
Há quem pense que deus pegou um livro escrito por ele mesmo e entregou a humanidade com as próprias mãos rubricado e assinado por ele mesmo...mas não foi bem assim!
Alguns estimam que as tradições orais duraram mais de 2 mil anos e das tradições escritas até nós já são outros 4 mil anos passando por dezenas de traduções, centenas de acréscimos e decréscimos e milhares de milhões de interpretações pessoais.
Mas por ignorância ou por negacionismo é melhor pensar que esse livro estar inalterável desde o dia em que deus pessoalmente o entregou a Moisés, a Pedro o primeiro papa, a Mohamad ou ao primeiro pastor que viu e disse: “tá tudinho aqui, nem tire nem bote nada”!
A ignorância ao mesmo tempo pode ser uma benção pessoal ou uma maldição coletiva. O modo como nos contam sobre aquilo que dizem ser sagrado, tornando tudo místico com respostas sempre místicas, faz com que estejamos em nossos barcos ancorados em um pântano cheio lodo e de criaturas assombrosas pensando que estamos velejando mar aberto num luxuoso transatlântico sendo servido por todos os tipos de iguarias finas. O medo baseado nos seres misticamente venerados pelas religiões nos faz viver assim, como escravos que se acham lordes, como mulas que se acham seres angelicais!
Os feitos desses povos bíblicos e mentalidade deles quanto a ideia de deus está escrito na própria bíblia como se fossem milagres, feitos heroicos ou exemplos morais a serem seguidos e quem der outro significado a esses “feitos heroicos” ou “exemplos morais” poderá sofrer vária penalidades como ser perseguido, torturado e morto para que a “versão real de deus” não se torne diminuta a ponto de ser desprezada. Tem sido assim desde sempre por meio da violência, terror e implantação do medo e é assim que a crença nos deuses subsiste e os que comandam os rebanhos vivem, lucram, governam e influenciam o mundo. “E quem não crer será condenado” ... já dizia um dos arautos do cristo (pelo menos dizem que ele disse)!
Aqueles que para todos os problemas do mundo atribuem uma causa mística oriunda da ira de um deus mal resolvido, poderiam pensar em outros fatores diversos para tais ocorrência como nas leis de causa e efeito, da ação e reação, do plantio e da colheita e que todas as coisas vivas ou não vivas do planeta podem estar conectas entre si, e como em um grande jogo de xadrez, ao mover uma peça, todo o tabuleiro pode ser mudado. Há sempre uma causa química, física, biológica, matemática entre tantas que podem explicar várias das situações naturais e sociais, mas eles preferem dizer que é deus, o deus deles que estar irado e que louvor, dinheiro ou uma subserviência ainda maior.
Poderiam também pensar que como seres vivos e pensantes (e não pensantes) em uma sociedade civil organizado, a inercia de uns e a ação incisiva de outros é a causa de todo o bem e mau social que possa ser classificado. Isso vale para tudo: desde as cadeias produtivas até as cadeias de consumo. Desde os sistemas escravistas até os aprimorados sistemas judiciários. Do que passa fome ao que vive ostentando. Se de um lado há um povo que sofre muito, de outro lado há os que se aproveitam do sofrimento alheio ou os insensíveis que não se importam que uma classe seja explorada por outra desde que não afete sua vida e seu conforto.
Entre idas e vindas, entre altos e baixos, apesar de tudo nossa sociedade estar sendo aprimorada a cada dia e apesar dos agouros dos crentes, estamos caminhando para dias melhores. Tudo é uma ação do homem que pode ser resolvida (ou piorada) pelo próprio homem, inclusive a construção dos deuses.
Quanto a soberba, a segunda característica que falei ser notória no comportamento de um crente comum, ela se dá pelo simples fato de alguém achar que é melhor ou superior a todas a criaturas da terra só por que acredita em deus. Apenas isso! Não é pelo nível de conduta social, moral ou familiar. É pelo simples fato de crer. Só isso!
Se o sujeito é um homicida, genocida, estuprador, malfeitor, ditador ou tirano, isso não importa! A crença em deus lhes dará certeza de que ele é superior a todos as demais pessoas que não creem ou “não possuem a deus”. Essa é senão a forma mais imbecil de avaliar uma pessoa ou de lhe atribuir virtudes ou defeitos. É por esse motivo que muitos crentes convivem com verdadeiros predadores (em todos os sentidos) e os tem como companhia e são vitimados por eles pela simples razão de compartilharem a mesma fé.
O valor de um individuo em uma sociedade pode ser notado pelas suas virtudes, pela capacidade de resolver conflitos, pela sua produtividade, proatividade ou pela capacidade de não criar problemas desnecessários. Mas um crente não! Ele avalia ou é avaliado, ele se acha superior ou deseja ser louvado pelo simples fato de crer em um “deus superior”. Pela sua lógica (estupida) se deus é superior, logo, ele sendo servo, também o será!
Isso os leva a um grau de babaquice ainda maior: a competição para ver quem é mais superior a quem! Apesar de dizer servirem ao mesmo deus, vemos judeus versus mulçumanos, católicos versus protestantes o tempo todo, todos os dias e em cada uma dessas grandes religiões há dezenas ou centenas de ramificações com alguns poucos membros ou milhares deles reunidos, que entre eles mesmos celebram (com uma disfarçada arrogância) por estarem no lugar certo servindo ao deus certo de modo correto, enquanto todas as outra religiões ou igrejas são seitas, heresias ou diretórios do capeta mesmo! É uma doença que não tem cura!
Nessa competição estupida para ver quem é o melhor, eles sobem para um nível hard, onde a comprovação de filiação divina se dar por meio das medidas ou modelos das vestimentas, pela ingestão ou não ingestão de certos alimentos ou pelo guardar ou não guardar de dias santos e feriados religiosos. A quantidade e qualidade de veneração aos líderes eclesiásticos locais tem o maior peso na hora de “gabaritar o vestibular de deus”.
Você pode ser crente, o crente certo, na igreja certa, seguindo o ritual correto, guardar todos os dias santos, se vestir de certo modo e não comer certos elementos, mas se no fim das contas o seu nível de subserviência ao corpo eclesiástico não for aprovado pelo chefe local, você está fora! Será considerado um inútil, um apóstata, um imprestável e até pior que uma “pessoa sem deus”.
A vida de um crente é um verdadeiro martírio e o que eles chamam de liberdade é apenas escravidão! Escravo de dogmas, paranoias dos próprios medos e do medo coletivo.
Outa coisa ainda mais fétida: todos esses grupos construíram um conjunte de verdades particulares que quando não conseguem empurrar goela abaixo essas “verdades” para outros, tentam constrange-los com mandigas, ameaças ou indiferenças por não estarem “no caminho certo”. Todos eles possuem uma caixinha secreta ou aberta com várias profecias apocalípticas, cheias de maldições para os infiéis, que basta um fenômeno natural acontecer para eles “esfregarem” na cara dos outros, transformando tudo o que é obvio em algo místico, inútil e que só serve para alimentar ainda mais o medo dos menos esclarecidos ou dos que já estão fragilizados por alguma perca ou necessidade.
Por fim, a hipocrisia parece ser a cereja do bolo de quase todo ser religioso! Quanto mais fiel este se disser, certamente mais hipócrita ele o será.
Hipócritas quando pregam uma coisa e vivem outra! Hipócritas quando tomam conta da vida alheia e esquecem de suas próprias! Hipócrita quando tentam controlar o destino do mundo apenas orando, jejuando e adorando, negando toda a realidade que nos rodeia! Hipócritas principalmente quando tentam controlar a deus, sua vontade e seus planos para o mundo, pois quando se sente ofendidos ou rejeitados eles pegam esse “deus de amor”, pai de todos e que ama a todos e de imediato o transforma em um objeto de uso particular, em uma máquina pessoal de matar e sai por aí apontando para tudo e todos. Até quando frustrados não consegue convencer alguém com suas patifarias mirabolantes ou quando veem o “ímpio” ter uma vida melhor que a deles sem precisar fazer tanto esforço nem seguir a tantos rituais eles pedem a deus justiça para si ou castigo para o que prospera como se trabalhar, ser honesto e usar o cérebro para construir riquezas e felicidades por meio de ideias, ações e bons relacionamentos fosse um crime.
Hipócritas quando dizem que gozarão de um gozo eterno mas se incomodam com o gozo passageiro dos demais que “não tem deus”, por isso tentam controlar ou subverter todas as formas de prazer, recreação e liturgias que outras pessoas possam ter dizendo ser isso ou aquilo um manifesto do capeta que abala a inabalável santidade de deus.
Hipócritas quando o amor ao próximo só pode ser aplicado se o próximo for também parte do mesmo “agrupamento de santos”. Hipócritas quando com a boca confessam que desejam que todos sejam salvos, mas que por uma simples ira pessoal desejam que muitos venham arder eternamente no inferno.
Quando “destilamos” os “servos de deus”, o modo como pensam, como agem e como entendem o mundo o resultado é quase sempre o mesmo: Medo, ódio, soberba e hipocrisia.
Mediante tudo isso, fica a pergunta: quem é realmente liberto e quem é escravo? A ira de deus nunca terá um fim? Por que o amor e o agir de deus em relação a humanidade estar sempre ligado a atos de irracionalidades e atitudes estupidas e truculentas de seus servos?
Algo a se pensar...todo o medo que as religiões impõem aos homens provem da privação de raciocínio destes. O processo de libertação é longo e passa por diferentes etapas, mas vale a pena cada uma delas.
Você pode, você consegue! Saúde e sanidade a todos!
Texto escrito em 18/4/20
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.