A "Simplicidade" da Mente

Quando o problema diz respeito à definição do que é a mente, uma das "coisas" mais comuns que se verifica tanto no nível do discurso cientifico quanto no nível da linguagem corrente, o dito senso comum, aponta para a abundância de caracterizaçoes e descrições acerca da mente

Ao que parece, ainda perdura uma certa "mania" de se prescrever receituários para se usufruir de uma boa mente, ou para se empregar a mente para se usufruir de uma boa vida, como se fosse possível estabelecer um padrão perfeito de comportamento e conduta

Sabidamente, os monges medievais por meio das suas clausuras e meditações buscavam uma mente saudável, equilibrada e feliz, alinhando-se por assim dizer a um certo poeta que versava "mens sana in corpore sano", ou seja, uma bi-implicação entre uma mente sã em um corpo são

Apesar das muitas descrições acerca da mente, parece que ainda não se conseguiu muito bem definir com a devida clareza o que ela é. Assim, face à essa imprecisão histórica e científica, julgamos necessário reapresentar a questão, que por sinal é condutora deste texto, um "fio de Ariadne", a saber, o que é a mente?

Esta simplória reflexão não tem a arrogante pretensão de responder à pergunta pré-posta ou de definir um conceito que enlace, encerre a mente por completo, tampouco visa a receitar "remédios" aos leitores, senão de saber, face à nossa ignorância persecutória, se já é o caso de declarar que a ciência pós-moderna conseguiu objetivamente responder à pergunta condutora com a devida "autoridade"

Pelo que percebemos ao longo do tempo, por meio da nossa experiência de vida e vivência no cotidiano, na medicina clínica somente se receita remédios quando se faz um diagnóstico prévio da doença, por isso faz-se necessário examinar o paciente e submetê-lo a exames específicos a fim de se visualizar o quadro clínico para aí sim se assegurar uma prescrição médica dos remédios que seja segura, com o fito de evitar complicações ou até mesmo a morte do paciente

Contraditoriamente, quando a "medicina" ou outras disciplinas afins se ocupam da mente (diferente de cérebro), não se apresenta diagnóstico algum, os exames clínicos empregados não são específicos, quando realizados não comprovam coisa alguma, mas mesmo assim, em que pese todo desconhecimento e ignorância, segue-se prescrevendo-se receituários e ou submetendo as pessoas a tratamentos que, para dizer o mínimo, são aventureiros e ou puramente especulativos

Num diálogo recente que tive com um ex-colega de trabalho, fui acossado por um certo falatório corriqueiro, por meio do qual "receitara-me" a
proceder conforme procediam os egípcios, que segundo ele, diziam que "o mundo é mental", e sendo assim, "o homem é o que pensa", mas aí fiquei pensando, já escutei dizer também que "o homem é o que come", que "o homem é o que bebe", que " o homem é o que fala" e por aí vai

Se "o homem é o que pensa" conforme teria dito os egípcios, e se isto for verdadeiro, então a espiritualidade egípcia teve uma visada cartesiana, "penso logo existo", e provavelmente Cartesius deve ter se inspirado nos egípcios com muitos séculos de atraso. Percebam o paralelismo, a saber, "o homem é o que pensa" e " penso logo existo", a redução resulta num "homem que "é" na existência ao pensar! Será?

A minha duvida é se o homem "moderno" ou "contemporâneo" conseguiu capturar o que os egípcios compreendiam como mente, a propósito, o que era a mente para os egipcios? Descarte teve a mesma compreensão que tiveram os egípcios acerca da mente? A compreensão da mente que se deu com Descarte, é a mesma que temos atualmente acerca da mente?

O fato é que sem saber muito bem o que é a mente, a ciência "moderna" permanece demasiadamente circunscrita a "descrever", a "caracterizar" a mente, todavia, sem dizer o que ela é de fato. Aí eu afirmo, reafirmo e question como se pode fazer receituário acerca daquilo que não se sabe o que é? Deve ser por isso que se prescreve o mesmo "remédio" para alzheimer, depressão, ansiedade, bipolaridade, angústia, psicose, esclerose, tuberculose, estupidez, arrogância e mal estar, indiscriminadamente, e de modo esquizofrênico

O erro da redutibilidade da mente ao cérebro parece que tanto seduz a ciência quanto seduz o senso comum, ao considerarem que o pensamento, bem como os bons e maus "afetos" têm sua origem no sistema nervoso central e ou no conjunto de neurônios que povoam o cérebro humano. Em outras palavras, pensamento, memória, raciocínio, sentimentos, afecções e outras coisitas mais, não ultrapassam o limite físico do cérebro. Será?

Humberto de Campos
    Mestre Holístico