A Páscoa, o Covid–19 e o Homem no estado de natureza.

Vou tomar aqui a liberdade de escrever esse ensaio sem colocar citações, todavia, farei referências, pois é impossível refletir sem as referências do passado.

Desde o século XVII, pensadores como Locke, Hobbes e Rousseau, já postulavam sobre os problemas da convivência em sociedade e a necessidade de um contrato social a fim de que o homem não suprimisse sua própria espécie e conseguisse viver em comunidade.

Temos necessidade biológica de viver em sociedade, ao passar nesse momento pelo distanciamento social, estamos sentindo esse impacto.

A dicotomia da vida em sociedade e o bem comum mostra sua fragilidade frente ao instinto biológico de autopreservação.

Basta ligarmos a televisão, rádio ou olharmos nas redes sociais para constatarmos as diversas manifestações: deixem os velhos morrerem, isolem determinados países, cidades, bairros, não bata em minha porta, fale de longe, meu limite é minha máscara.

Profissionais da saúde que na construção popular eram tidos como “anjos”, continuam sendo “anjos”, mas agora caídos, tal qual a terça parte, contaminados pelo pecado (Covid-19), e absurdamente em alguns lugares, agredidos em vias públicas.

Os blocos econômicos e sua união, viram “muros” crescendo em suas fronteiras em poucos dias.

O inimigo é invisível. Me parece que ele sempre esteve invisível por ser ignorado, não o vírus, mas o estado de natureza, traduzido no egoísmo e egocentrismo que se torna pungente nesse momento de tensão que invoca o instinto de autopreservação.

Não nego esse instinto, nem de minha autodefesa, tampouco de defender minha prole, mas acredito na internalização do contrato social.

Na história do mundo temos muitos exemplos de pessoas que foram verdadeiros exemplos de altruísmo e amor, demonstrado através de ações que revelaram amor ao próximo ou minimamente agir eticamente sem prejudicar seu irmão.

Nesse momento em que vemos tantos políticos e outras classes em uma corrida desenfreada para tirar proveito próprio, da pior maneira do avanço da pandemia, observamos pessoas estendendo suas mãos e recursos para ajudar a outros mostrando solidariedade e compaixão.

A páscoa de 2020 ficará marcada pela passagem do Covid-19, sendo que nessa trajetória, desnudou o real inimigo do homem, ele próprio, em seu estado de natureza, “lobo do homem”.

O Covid-19 ceifa vidas porque tem algo em comum com o homem: o desejo de se apoderar das células, do corpo, da mente e da vida dos outros. Salve-se quem puder.

Oxalá o espírito da páscoa, do renascimento, ressuscite na humanidade o que há de mais sublime em nossa espécie, a possibilidade de ser humano, que ensine que somos todos irmão, sem fronteiras econômicas, sociais, religiosas, raciais, intelectuais.

Assim quem sabe estaremos aptos para enfrentar o próximo inimigo que já bate a porta, a recessão.

Feliz Páscoa!

Walker Abril/2020.