O MARTÍRIO
Algumas noites têm chegado até mim acompanhadas por um fio de esperança de que minha mente vai repousar e, no final, tudo não passa de um grande engano, é só encostar a cabeça no travesseiro e fechar os olhos que ela passa a vagar; arruma um problema aqui, outro ali, outro mais lá e outro novo por cada canto aonde passar; puxa os pra vida real me obriga a sofrer tola e absurdamente por cada um deles; minha cabeça já tão aturdida não se opõe em acreditar que não são reais e os deixa latentes, vívidos, acesos. Chamo esses problemas de monstros, os quais são alimentados todos os dias pelos pensamentos turbulentos que habitam minha mente. Lá, eles parecem ter todo o ciclo de uma vida: crescem, tornam-se fortes, parecem até que se reproduzem, mas no final não morrem, pelo contrário, me devoram, começando pela minha paz, meus sonhos, meu sossego, minhas forças, sugam-me a seiva da alma, estraçalham-me por completo até sobrar apenas a indecisão, o vazio, a insignificância em ser alguém, a certeza de um ser inútil e uma enxurrada de outras características que não contam pontos como sendo positivas.
O alívio momentâneo vem depois de uma sofrida seção de descarrego regada a lágrimas, no momento em que minha mente é esvaziada e preparada pra poder então o ciclo recomeçar.